Visualização de dados: o que mudou em 10 anos?

Rodrigo Medeiros
datavizbr
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4 min readJan 13, 2022

Eu comecei a pesquisar sobre visualização de dados em 2008, quando vi uma geração de artistas independentes (Ricardo Brazileiro, Jeraman e Jarbas Jácome) ligados ao software livre que começaram a fazer experimentos na cidade do Recife. O laboCA era um projeto de laboratórios nômades com o objetivo de ensinar e pesquisar sobre o uso da ciência da computação para fins artísticos. Antes disso, sabia da existência do re:combo e do Coletivo Media Sana, por intermédio de H.D. Mabuse. Foi a partir deles que conheci o Eyeo Festival, OpenVis Conference, FILE Festival, Emoção Art.ficial e a Mostra Conexões Tecnológicas — Prêmio Sergio Motta. Até o momento para mim aqueles experimentos estavam ligados a uma área chamada arte e tecnologia. E fazia muito sentido para mim como pesquisador, que gostaria de investigar como explorar outros tipos de interações, para além do teclado e do mouse.

Essa experiência em Recife me fez procurar programas de mestrado no qual eu pudesse explorar essa vertente da Arte Digital com mais propriedade. E acabei escolhendo o Mestrado em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho, em Portugal. Lá, pude me aprofundar nos estudos sobre Design da Informação e na área de visualização de dados.

Aqui farei um pequeno resumo do que vi de mudança tecnológica de 2010 para cá. Já comentei bastante do trabalho do Gabriel Gianordoli. Caso queiram conhecer mais podem escutar o podcast do visual+mente que gravamos em 2021. A partir do trabalho do Gabriel na área de infografia utilizando Processing, podemos fazer uma correlação com outras coisas que foram acontecendo logo depois. A visualização de dados, assim como a infografia, sofreu uma forte influência da evolução das ferramentas de design digital, especialmente as ferramentas para o desenvolvimento web.

History Flow, da Fernanda Viegas e do Martin Wattenberg.

No começo dos anos 2000, era uma época difícil para criar infográfico interativos ou visualizações mais complexas. Podemos encontrar registros de plataformas criadas do zero como é o caso do History Flow, da Fernanda Viegas e Martin Wattenberg. Podemos encontrar também registros de trabalhos utilizando o Flash para criar infográficos interativos (ferramenta criada pela Macromedia, depois incorporada no Pacote Suite da Adobe, para criação da animação e também para criação de websites interativos). Parecia que aquele campo de atuação profissional estava consolidado, apesar de ter um questionamento relevante da falta da acessibilidade desses websites, até que em 2007 a Apple lançou o Iphone e o mesmo não dava suporte para abrir animações em Flash.

Naquele período entre 2005 e 2007 foram se consolidando o Padrão Web, denominação da World Wide Web Consortium (W3C) para se referir ao HTML, CSS e Javascript. Esse padrão se preocupava bastante com a Acessibilidade Digital. Com a descontinuação do Flash no mercado, essas tecnologias ganharam força. Em paralelo a esse ambiente do desenvolvimento web, ferramentas para programação criativa começaram a ganhar bastante força no mundo da visualização de dados e das artes interativas como OpenFramework, Arduino, PureData e o próprio Processing, exatamente as ferramentas que vi em 2008 o pessoal do laboCA utilizar.

Entre 2008 e 2010 vi no Brasil uma geração de designers que começaram a explorar essas possibilidades da visualização de dados, como os alunos da Professora Doris Kosminsky na UFRJ, com destaque para Bárbara Castro, e os alunos do Professor Mauro Pinheiro na UFES. Esses projetos não utilizam os navegadores como principal meio de visualização, muitos projetos eram gerados pelos programas (principalmente Processing e Arduino) e exibidos em projetores e alguns projetos apenas divulgavam suas obras em formato de vídeo. Nessa mesma época os trabalhos do Pedro Miguel Cruz e do Aaron Koblin ficaram bem famosos, utilizando essa estratégia de divulgação por vídeo.

A partir de 2010 percebi a diferença no formato de exibição das obras influenciado pela criação do framework javascript do Google, o Angular. Em 2011 tivemos a criação do D3.js e em 2013 o framework React foi criado pelo Facebook. Em 2014 o Processing lançou uma versão para exibição dos projetos no navegador, o p5.js. E em 2015 o Flash perdeu a relevância no desenvolvimento web. Esses cinco anos (2015–2020) foram importantes na retomada da exibição dos projetos de visualização de dados no navegador.

Um dos projetos mais impactantes nesse começo dessa “transição” para mim foi o WindMap da Fernanda Viegas e do Martin Wattenberg novamente. Totalmente visualizável utilizando o navegador, com uma animação super complexa.

Outro projeto que me chamou muita atenção nessa época foi o Breathing Earth realizado pela Nadieh Bremer. Um projeto totalmente visualizável no navegador utilizando o framework javascript D3.

Projeto Breathing Earth da Nadieh Bremer.

A ideia desse post é deixar esse registro para que compreendamos a realidade atual e que possamos refletir como a área da visualização de dados, inclusive do ponte de vista da tecnologia tem modificado, se estruturado e simplesmente… mudado. Bom ou ruim, vamos vendo nos próximos anos. E aí, quais as próximas mudanças da áreas? Vocês lembram desses projetos quando foram lançados? Conta aí nos comentários para a gente saber se podemos continuar a explorar conteúdos semelhantes!

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Rodrigo Medeiros
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Interaction Designer and Professor, PhD. Curator at @datavizbr. #ux #dataviz