Visualização de dados com sotaque brasileiro — parte 3

Rodrigo Medeiros
datavizbr
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9 min readAug 10, 2020

Continuando nossa série sobre visualização de dados no Brasil chegamos a segunda categoria — Design e Computação — onde incluímos os trabalhos de Ciência de Dados. Lembrando que na primeira parte falamos sobre a história da Infografia no Brasil nos últimos 25 anos e na segunda parte falamos sobre a primeira categoria de trabalhos envolvendo Arte e as interfaces físicas.

Reforçando o que disse na parte 2 dessa série, essa categoria ainda está em construção e muitos projetos poderiam aparecer em mais de uma categoria. Minha escolha foi incluir os projetos na categoria que mais o representava, ou que possuía mais atributos. E essa ordem não é um ranking mas a sequência que apresentei no Datavis Lisboa.

Júlia Giannella

A Júlia é doutora em design pela ESDI-UERJ. Atua como pesquisadora em design no VISGRAF, laboratório vinculado ao Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), e como professora no curso de Design da Escola de Belas Artes da UFRJ. Além disso, ela tem papel fundamental na comunidade de Visualização de dados no Brasil. Fundou e também faz a curadoria do Dataviz.Rio, uma comunidade de profissionais que se encontram no Rio de Janeiro para discutir as temáticas de dataviz, e também faz parte da nova diretoria da Sociedade Brasileira de Design da Informação.

Protótipo funcional do Fotovis

O trabalho da Júlia que vamos apresentar aqui fez parte da sua pesquisa de doutorado e se chama Fotovis. A tese tem como título Design de interfaces para visualização, exploração e análise de coleções fotográficas e vocês já podem imaginar sobre o que é o Fotovis. O projeto tem o intuito de explorar e visualizar 1223 fotografias do Instituto Moreira Salles. Como descrito na apresentação, nesse projeto a Júlia se propôs a: “1) revelar múltiplas relações entre os metadados; 2) exibir padrões desconhecidos; 3) apoiar a exploração visual e “afortunada”; 4) exibir informações detalhadas e adicionais”. Nesse vídeo a autora demonstra a ferramenta em detalhes:

Caso queira mais informações sobre o projeto, você pode acompanhar na apresentação que ela fez na defesa do doutorado ou na página dedicada aos protótipos.

Leandro Amorim

Leandro é Sócio e Diretor Criativo da Café, um estúdio de design da informação super premiado do Rio de Janeiro. O Leandro também tem papel fundamental na comunidade de dataviz no Brasil. É co-fundador do Dataviz.Rio e foi Diretor da Associação dos Designers Gráficos do Brasil (ADG Brasil) entre 2018 e 2020, atualmente é Conselheiro. Ele está na Café desde 2006 e sob o comando dele o estúdio já foi mencionado, nomeado ou ganhou várias competições de design como a Bienal Brasileira de Design Gráfico, Brazil Design Award, Bienal Iberoamericana de Diseño, Bornancini Awards, Clap Awards, Latin American Design Awards, London International Creative Competition, e o Information is Beautiful Awards.

Na Café, Leandro tem na equipe dois grandes profissionais do mundo do dataviz no Brasil: Erlan Carvalho e Henrique Ilidio. Com essa equipe eles tem conseguido fazer projetos super diversificado, com muitos experimentos com dataviz para o terceiro setor. Os projetos Data Selfie, projeto desenvolvido para o Thought For Food (TFF) e o Vira-Casacas da Câmara, foram apresentados na primeira edição do Dataviz.Rio.

Andrei Speridião

Andrei é designer formado na FAU USP e hoje é Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento na ARVORE Immersive Experiences. Conheci o trabalho do Andrei ainda quando ele estava na graduação quando estava fazendo o projeto Bueiros Conectados, orientado pela professora Giselle Beiguelmann. Esse projeto recebeu duas premiações no IDEA/Brasil 2014 e na 5a Mostra Jovens Designers 2014. Como descrito no site do projeto:

Bueiros Conectados é um projeto de serviço, produto e aplicativo digital que conecta os cidadãos aos bueiros da cidade, criando um ambiente de mobilização e tomada de decisão para prevenir e corrigir problemas de bem estar geral. O objetivo central é o combate às enchentes e quedas acidentais de pessoas em fossos de bueiros, causados por falta de manutenção.

Para mim o projeto se destaca por explorar o conceito da Internet das Coisas (IoT) e estimular o engajamento das pessoas no cuidado da cidade. Esse projeto poderia estar na categoria de interfaces físicas porém percebo uma preocupação do criador com a interação entre dispositivo físico e as interfaces em tempo real disponibilizadas pela plataforma.

Gabriel Gianordoli

Gabriel é designer formado pela UFES e mestre em design pela Parsons School of Design. Atualmente é Visual Editor no The New York Times. Já foi professor na New York University e na Parsons School of Design.

Ele é um dos mais talentoso designer dessa nova geração, já foi nomeado e ganhou vários prêmios como da The Society for news design (SND), The Society of Publication Designers (SPD), Cannes Lions Shortlist e Esso Journalismo Awards. Percebeu que muitos dos prêmios dele estão associados ao jornalismo? Pois é, foi na área de infografia em revista que o trabalho da Gabriel começou a ser reconhecido.

Ele começou a carreira na Editora Abril e quando chegou na Revista Superinteressante, o trabalho multidisciplinar do Gabriel, misturando os conhecimentos em design gráfico com a programação (principalmente processing naquele momento), ganhou destaque. Com essa abordagem, o Gabriel mudou a forma como eram feitos os sumários da Revista, como mostrado na figura.

Sumários da Revista Superinteressante com as visualizações feitas pelo Gabriel.

Luis Carli

Luis Carli é doutor em Design e Arquitetura pela USP. Foi pesquisador no MIT Senseable City Lab. Ele desenvolveu várias visualizações de dados para empresas mundo a fora. Como ele se descreve no portfolio: “design é minha primeira linguagem, código é minha segunda”.

Eu lembro em 2012 o Luis lançou o Weather Vis. É um trabalho que visualiza a diferença de temperatura entre 2007 e 2011 de algumas cidades ao redor do mundo. Foi um dos primeiros experimentos de visualização de dados na web que vi sendo construído por brasileiros. Só um parêntese: nessa época era comum esse tipo de experimento ser feito no processing e ser colocado em vídeo na web.

Já em 2013 o Luis lançou o Retórica, que visualiza 14 mil discursos preferidos por Deputados Federais. O objetivo era encontrar os temas comuns dos depoimentos e saber como os deputados foram agrupados sob esses temas.

Flávio Pessoa

Flávio é designer formado pela UFPE e mestre em Visualização de dados pela Parsons School of Design. Já trabalhou na Revista Época e na Revista Superinteressante e foi professor na Parsons School of Design, na Columbia University e na New York Institute of Technology. Hoje ele trabalha com visualização de dados na Agência da ONU para Refugiados nos Estados Unidos (USA for UNHCR).

Flavio participou de um projeto muito interessante no USA for UNHCR chamado Water Jug que mensura o quanto esse dinheiro é capaz de apoiar refugiados com objetos e fundos específicos em várias cidades nos Estados Unidos.

Fonte: Projeto Water Jug

Victória Sacagami e Larissa Elisa

Victoria e Larissa participaram de um projeto de iniciação científica no Labvis com a Professora Doris Kominsky quando eram estudantes no curso de Comunicação Visual — Design da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Esse projeto elas realizaram uma visualização sobre os parques públicos cariocas. Fizemos uma entrevista com as duas aqui no datavizbr sobre o projeto. Vale muito conferir essa entrevista que contam alguns detalhes interessantes do projeto. Esse projeto também resultou numa publicação na revista Infodesign.

Jeane Badin

Jeane também foi aluna do Labvis e lá desenvolveu um projeto de visualização de dados sobre o transporte de ônibus da cidade. Foram coletados dados gerados pelos GPS dos ônibus, disponibilizados no portal de dados abertos da prefeitura, o data.rio.

Luiza Bielinski

Luiza é designer formada pela UFRJ e atualmente é UX Designer na Booking. Em 2011, Luiza participou do Labvis sob orientação da Profa. Dra. Doris Kosminsky e do Prof. Dr. Claudio Esperança e desenvolveu uma visualização de dados sobre As cores dos destinos turísticos brasileiros.

Como Luiza descreve no site do projeto, o objetivo do projeto foi:

evidenciar as diferentes nuances de cores observadas nos 65 destinos turísticos brasileiros, citados no site Dados e Fatos do Ministério do Turismo. A visualização mostrou-se como uma possibilidade instigante para ampliar a compreensão da diversidade brasileira em seus variados climas e manifestações culturais.

Foram coletadas até 6 fotos de cada um desses pontos turísticos e analisados as nuances de cor em cada imagem. Um dos resultados do projeto é mostrado na imagem abaixo.

Fonte: As cores dos destinos turísticos

Carolina Passos

Carolina é arquiteta pela USP e urban designer. Atualmente ela comanda a Mapping Lab, uma consultoria que combina expertise em design e pesquisa com GIS (geoespacial).

O trabalho da Carolina já foi exposto na Biennale di Architettura di Venezia 2018, International Architecture Biennale of São Paulo 2019 e na 2019 Seoul Biennale of Architecture & Urbanism.

O projeto exposto na Bienal de Veneza em 2018 é bem interessante. É uma série com 10 mapas, como forma de visualizar diferentes formas decorrentes dos processos de urbanização do Brasil. Cada mapa inclui diversos bancos de dados existentes e pesquisas articuladas em conjunto com a equipe de curadoria do Pavilhão Brasileiro na Bienal.

Preciso mencionar o belíssimo trabalho de três grandes professores que vamos mencionar na parte 6 dessa série mas que vale um reforço aqui.

O professor Mauro Pinheiro da UFES, que vocês podem acompanhar na apresentação feita no Dataviz.Rio e na live feito pelo projeto CVDvive.

Professor Ricardo Cunha Lima, da UFPE e do podcast visual+mente, que vocês podem verificar também na live feito no projeto CVDvive.

E por fim o trabalho do Professor Nazareno Andrande da UFCG. Nazareno está a frentre do laboratório Analytics que tem desenvolvido diversos trabalhos envolvendo visualização de dados com dados abertos do Governo Federal.

Espero que vocês tenham gostado do material apresentado e não esquece de seguir a gente no twitter e no instagram. Continuaremos em breve com a quarta parte dessa série sobre Jornalismo de Dados.

Rodrigo Medeiros é designer de interação e pesquisador em visualização de dados. Atualmente é professor do IFPB e curador do datavizbr, uma publicação em português sobre visualização de dados.

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Rodrigo Medeiros
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Interaction Designer and Professor, PhD. Curator at @datavizbr. #ux #dataviz