Visualização de dados é o próximo desafio do design?

Rodrigo Medeiros
datavizbr
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7 min readJul 11, 2019

Os dados estão em todo lugar e o design é a chave para alavancá-los.

escrito por Stephanie Evergreen (tradução por Rodrigo Medeiros do datavizbr)

Illustration: Jackson Gibbs

Eu sou uma nerd dos dados. Eu cresci profissionalmente fazendo palestras, criando pesquisas, coletando dados e tentando fazer com que as pessoas fizessem uso da análise e dos resultados dos mesmos. Então, um dia, percebi que ninguém prestaria atenção aos meus incríveis, maravilhosos e gloriosos dados se meus relatórios e apresentações fossem mal projetados. Então, casei-me com um designer gráfico e, juntos, pegamos as piores sinalizações dos restaurantes e tivemos discussões acaloradas sobre nuances dos tons de roxo. Eu também me tornei uma designer nerd.

Quando os dados e o design são bem-sucedidos, podemos mudar o mundo.

Os nerds dos dados [1] precisam dos designers

Hoje em dia, eu ensino os nerds dos dados como se tornar melhores designers e designers como se tornar melhores nerds dos dados. Eu desenho ótimos gráficos. E estudo como os dados são apresentados. Aqui estão os padrões que vejo repetidas vezes:

· Na pior das hipóteses, eu vejo os nerds dos dados que nunca trabalharam com um designer e o resultado da pilha de dados é tão desanimadora que somente os mais comprometidos irão lê-la para extrair insights significativos.

· Em uma situação melhor, vejo relatórios lindos, projetados com layouts que são deslumbrantes e fluem e esquemas de cores atraentes — com todos os gráficos inseridos em um apêndice, claramente inseridos em um template de página e nem sequer tocados pelo designer.

· Na melhor das hipóteses, vejo gráficos incorporados adequadamente em um relatório, história ou sites, com a aparência correta que corresponde ao restante do design, mas usando o tipo de gráfico incorreto, como um gráfico de pizza com dúzias de fatias.

Você está reconhecendo alguma dessas situações? Se você é nerd dos dados, provavelmente já presenciou pelo menos um desses cenários.

Os nerds dos dados precisam de designers. Design é como criamos ação de engajamento e ações espontâneas dos usuários. Mas os designers normalmente evitam uma compreensão mais profunda dos dados e como melhor apresentá-los. Por quê?

[1] Traduzi o termo data nerd como nerds dos dados, porém podem ser incluídos os cientistas de dados, jornalistas de dados, estatísticos, economistas e todos que usam e se interessam por dados no dia-a-dia da profissão.

O cenário dos dados/design

Minha colega, Elissa Schloesser, uma designer gráfica da My Visual Voice, comentou que programas tradicionais de gráficos como o Excel podem ser intimidadores (e pode ser intimidador para os nerds dos dados também).

Mas isso não é apenas na Microsoft — as ferramentas para gráficos no Adobe Illustrator e InDesign são, no máximo, medíocres, apenas capaz do mais simples dos tipos de gráfico.

Qualquer coisa fora de seu pequeno conjunto de opções de gráfico requer a criação do gráfico em outro programa e tendo que fazer a importação da imagem — e não consigo pensar em nada mais entediante — ou desenhar o gráfico manualmente com linhas individuais, caixas de texto e círculos.

Ninguém ensina aos designers como visualizar dados.

Os programas de design não foram configurados para gráficos fáceis e de qualidade, provavelmente porque os designers tradicionalmente não são da turma de dados. Os usuários não exigiram grandes capacidades gráficas, por isso as empresas de software não criaram essa capacidade, e o ciclo apenas se repete várias vezes.

Além de software sem suporte, meus clientes de design frequentemente me dizem que eles se veem como “pessoas das artes” e não como “pessoas dos números”. Schloesser, como muitos designers gráficos, é um tanto autodidata. Ela não foi à faculdade especificamente para fazer design. Mas mesmo aqueles com formação mais clássica também evitam o domínio das melhores práticas de visualização de dados, provavelmente porque não estão incluídos nos cursos acadêmicos de um designer. Ninguém ensina designers como visualizar dados.

Outro colega designer, Peter Brakeman, da Brakeman Design, disse que às vezes o problema é agravado pelo pedido inicial de design. Os clientes pedirão aos designers para “deixarem isso bonito” e projetarem algo que ilustre o enredo maior. Assim, Brakeman disse, “um gráfico de barras mostrando a quantidade de milho enviado para a China em cada um dos últimos cinco anos tem espigas empilhadas até o total desejado para cada ano”. E esse design satisfaria o pedido do cliente de fazer algo que parece bonito, mesmo que seja o tipo de gráfico errado e que não comunica os dados de forma eficaz. Não é que um ‘gráfico de milho’ seja tecnicamente ruim, ele tem o potencial de ser muito mais.

Os negócios precisam dos designers.

Por estas razões e certamente muitas outras, os designers tradicionalmente sentiram que a ‘nerdice’ dos dados não é sua praia. No entanto, as organizações de hoje são orientadas por dados (data-driven). Eu não estou nem falando de empresas como o Facebook que estão coletando grandes dados. Estou falando da menor organização sem fins lucrativos do seu bairro, que está fazendo o possível para usar dados para melhorar programas e serviços e causar um impacto maior no mundo. Todo mundo está procurando ser mais estratégico usando dados para embasar decisões de negócios.

Esta é uma área que os designers não podem mais ignorar. A visualização de dados é o próximo desafio de design.

Nós temos dados sobre o comportamento de compra do cliente, sobre as interações do cliente com nossos sites, sobre o desempenho dos funcionários, sobre nossos concorrentes — temos tantos dados que as pessoas que estão atentas em planilhas precisam descobrir como eliminar todo esse ruído e realmente usar todos esses dados para gerar conversas críticas de negócios. A comunicação efetiva de dados é agora uma habilidade essencial do negócio.

O problema é que a comunicação de dados exige efetivamente a criação de visualizações de dados bem projetadas, claras e eficientes, para que as pessoas possam utilizá-las rapidamente no local de trabalho. Mas os nerds dos dados não são designers. Então, essa é uma área que os designers não podem mais ignorar. A visualização de dados é o próximo desafio de design.

A necessidade do usuário

Nosso público se beneficiará ou sofrerá com base em nossa capacidade de comunicar dados com clareza. Você lembra da crise da chave de ignição da General Motors? Um problema com o interruptor de ignição faria com que o carro desligasse mesmo quando alguém o estivesse dirigindo e causou várias mortes. A questão foi trazida à atenção dos tomadores de decisão da GM, mas os slides que foram usados estavam cheios de gráficos de barras em 3D e não conseguiram transmitir um ponto claro. Combinada com uma cultura que não tinha um senso de responsabilidade, essa falha em transmitir os dados leva a um entendimento obscuro, a ações insuficientes e, em última instância, à perda de vidas das pessoas. Apresentação de dados ruim é onerosa em muitos níveis.

Um cliente meu, um vice-presidente sênior da Fortune 500, entrou em contato comigo alguns meses depois de participar de um dos meus workshops de visualização de dados. Ele estava um pouco chateado — nos gráficos reformulados que fizemos, ele podia ver que o desempenho de sua empresa estava diminuindo, algo que deveria ter sido detectado e corrigido um ano antes. Mas ele também comentou sobre o fato de que, uma vez que os funcionários aprenderam a apresentar seu trabalho com clareza, eles estavam vendo uma mudança na cultura da empresa. As pessoas estavam sendo mais corajosas e mais honestas sobre mostrar seus dados, e essa coragem estava resultando em melhor trabalho em equipe, promoções e decisões de negócios que eram eficientes e eficazes.

Como ser um nerd dos dados

Quando a maior empresa de design independente do mundo contratou um especialista em visualização de dados, a Fast Company descreveu a parceria dizendo “visualização de dados é a nova marca”. A visualização de dados pode não ter sido parte do conjunto de habilidades do designer gráfico, mas o futuro está aí para os designers criarem algum espaço para essa habilidade.

Os nerds dos dados precisam de designers que possam entender os dados apresentados e que conheçam os melhores tipos de gráficos para transmitir o ponto do nerd. Os nerds precisam de designers que possam usar o que já sabem sobre cores exatas e fontes condensadas e aplicar esses conceitos a gráficos para que a história brilhe.

Quando mostro redesign de gráficos, as pessoas geralmente ficam atordoadas. Pode parecer que uma equipe de designers e programadores levaria vários meses para criar visualizações de dados desse calibre. Portanto, mesmo que estejam convencidos de que a boa visualização de dados é importante, eles começam a pensar em como a produção será cara.

Mas eu contar um segredo: a maior parte do trabalho duro é simplesmente remover o design ruim de nossos gráficos-padrão e usar princípios de design familiares como unidade e proximidade para apresentar as informações de forma clara — muito parecido com o design de uma interface clara e amigável, por exemplo. Como designer, você se sentirá em casa quando eliminar o obstáculo inicial intimidador de apenas começar.

Eu posso ouvir você: “Ok, ótimo, Stephanie, mas como eu começo?” A beleza do boom na popularidade da visualização de dados é que os recursos estão em toda parte. Meu último livro, Effective Data Visualization, ajuda você a escolher o tipo de gráfico correto e criá-lo no Excel. Você também encontrará muitas estratégias de design de dados no meu blog e em artigos futuros aqui no Modus. Realmente, existem tantos blogs sobre visualização de dados que você poderia fazer com eles um trabalho em tempo integral. Você também pode fazer um dos vários cursos oferecidos pelo Coursera e outras plataformas de aprendizado online.

Eu não estou necessariamente defendendo que os designers criem o tipo de visualização data-driven que parece tão complexa que poderia ser uma arte moderna para a parede da sua sala de estar (embora haja um lugar para isso no mundo). E você não precisa necessariamente aprender uma linguagem de programação para criar ótimos gráficos. Buscamos um ponto ideal, onde os dados sejam facilmente compreendidos e onde os designers e os nerds dos dados façam parcerias para criar visualizações atraentes dentro de histórias mais amplas que envolvam, informem e inspirem.

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Continuarei ensinando aos nerds dos dados o que sei sobre um bom design. E, ao mesmo tempo, espero que você reconheça a necessidade de se tornar um nerd dos dados. Quando unimos dados e design, reduzimos as falhas de comunicação e produzimos visuais que combinam o melhor dos dois mundos.

Obrigado Julia Giannella, Jessica Temporal, Pedro Barcelar e Deboráh Mesquita pelas dicas na tradução.

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Rodrigo Medeiros
datavizbr

Interaction Designer and Professor, PhD. Curator at @datavizbr. #ux #dataviz