Como (não) mentir com gráficos? Relato do primeiro curso de dataviz que conduzi no Insper
Curso visa aperfeiçoar análise crítica, desenvolver técnicas de design e ensinar o uso do Flourish Studio. Veja como foi e prestigie os projetos dos alunos.
Olá! Meu nome é Vinícius Barqueiro e eu trabalho no Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper (CGPP), cuja missão é melhorar a sociedade, formando pessoas, gerando conhecimento e influenciando gestão e políticas públicas com base em evidências e de forma apartidária.
Com esse espírito, em maio de 2021 conduzi no Insper a primeira turma do curso Como (não) mentir com gráficos, com o objetivo de auxiliar os participantes a aperfeiçoar a visão crítica e a diligência no uso de gráficos para subsidiar conclusões e decisões.
Neste texto eu conto como foi o planejamento e a execução do curso. Também apresento os projetos desenvolvidos pelos participantes.
1. Como planejei o curso?
O curso foi oferecido na modalidade atividade complementar para estudantes dos cursos de Graduação do Insper, com quatro encontros semanais de 2h cada, todos remotos por conta da pandemia.
Planejei o curso com foco na aprendizagem e no protagonismo dos alunos, usando o PDAF, metodologia de desenho de experiências de aprendizagem desenvolvida pelo Centro de Desenvolvimento de Ensino e Aprendizagem do Insper (DEA), onde trabalhei por mais de sete anos.
Objetivos de Aprendizagem
O curso almeja ajudar os participantes a:
- Interpretar gráficos, tabelas e mapas de maneira crítica.
- Elaborar gráficos, tabelas e mapas acessíveis e de fácil entendimento
- Construir visualizações de dados responsivas e elegantes via Flourish Studio.
Conteúdo
O conteúdo foi baseado especialmente no livro How Charts Lie, de Alberto Cairo, e também abordou os seguintes tópicos:
Dinâmicas
No planejamento, procurei mesclar momentos de exposição dialogada com momentos de atividades práticas, nas quais os estudantes pudessem exercitar e manifestar as competências almejadas.
Avaliação e Feedback
Além das atividades práticas em cada aula, também foi previsto um projeto aplicado, com entregas parciais e feedbacks em cada etapa. O trabalho consistia em construir um gráfico interativo no Flourish Studio sobre um tema de interesse, justificando as escolhas de design com base no conteúdo discutido em aula.
2. Como o curso aconteceu?
Perfil da turma
O curso recebeu inscrições de alunos das Graduações em Administração, Economia e Engenharia da Computação, tanto de início quanto de final de curso. Em geral, um público bem letrado em relação a aspectos básicos de análise e manipulação de dados em Excel, mas buscando maior repertório de boas práticas de design/dataviz e de ferramentas como o Flourish Studio. Estudantes interessados e com perfil participativo, mas com restrição de tempo para desenvolver atividades fora do horário das aulas, devido aos demais compromissos pessoais e acadêmicos.
Antes do curso
Antes do primeiro encontro, enviei um formulário de expectativas para que os estudantes manifestassem o que esperavam e o que não esperavam com o curso. Em síntese, os participantes esperavam:
- Não ter conteúdos repetidos com disciplinas anteriores.
- Mesclar exercícios de análise crítica com exercícios práticos de elaboração de gráficos; nem só análise, nem só ferramenta.
- Adquirir diferenciais para o mercado de trabalho.
Aula 1
No primeiro encontro, com base em exemplos de visualizações enganosas — seja por má fé ou por escolhas de design equivocadas — discutimos por que os exemplos eram enganosos e quais aspectos podem nos ajudar a identificar problemas em gráficos. A turma foi bastante participativa e, a cada exemplo, foi ficando mais afiada na identificação e na análise. Ao final, fizemos um exercício coletivo desafiador: a partir de um gráfico aparentemente correto, discutimos até identificar qual era seu problema e qual seria a respectiva solução de design.
Aula 2
Na primeira parte do segundo encontro discutimos quais os gráficos mais adequados para cada objetivo almejado. Também discutimos boas práticas de design com base nos prós e contras do Data-Ink Ratio e exploramos recomendações para gráficos acessíveis.
Na segunda parte do encontro eles se separaram em grupos para um exercício prático, usando o recurso de divisão aleatória de grupos no Microsoft Teams. A partir da mesmíssima base de dados, cada grupo tinha que fazer um gráfico que convencesse de um ponto completamente diferente dos demais grupos. Foi uma atividade divertida e que ajudou a deixar claro como recortes e técnicas de design podem viesar a interpretação usando dados reais.
Aula 3
Como os estudantes tinham pouco tempo fora das aulas para se dedicar ao projeto aplicado, fizemos uma pequena adaptação no plano inicial: em vez de apresentação da primeira versão, investimos todo o tempo da aula para que desenvolvessem os projetos. Fiquei à disposição atendendo dúvidas e contribuindo com sugestões e feedbacks. Também combinamos que receberíamos convidados especiais para apreciar os projetos no encontro seguinte, e que as apresentações seriam voluntárias.
Aula 4
Começamos o último encontro com uma rápida revisão do curso todo, com base nos objetivos de aprendizagem propostos e nas expectativas coletadas no início. Em geral, por meio das perguntas, os participantes demonstraram ter aprendido os principais pontos teóricos abordados no curso.
Na sequência, passamos para o momento de apresentação dos projetos, com base no seguinte roteiro:
- O objetivo do gráfico
- A razão da escolha desse tipo de gráfico, e não de outros
- Por que você acha que ele é de fácil entendimento
- Por que você acha que ele é bonito/elegante
A apresentação contou com a ilustre presença dos colegas Marina Muradian e Pedro Burgos, professores de cursos do Insper como Programação para não programadores e Narrativas de impacto usando dados. Ambos contribuíram com ótimos feedbacks e sugestões para a turma.
Avaliação da Aprendizagem
Os exercícios práticos de cada aula e o projeto aplicado evidenciaram avanço progressivo nos três objetivos de aprendizagem do curso. Ao final, os objetivos 1 e 2 alcançaram nível “avançado” e o objetivo 3 alcançou nível “intermediário”. Representação esquemática:
Melhoria contínua
Em geral o curso foi um sucesso. Os alunos aprenderam coisas novas e importantes para suas carreiras. E saíram satisfeitos.
Embora o delta do objetivo 3 seja alto, há oportunidades de melhoria no curso para que também alcance o nível “avançado”, de modo que os estudantes saiam realmente seguros no domínio da ferramenta.
Analisando de maneira crítica a aprendizagem e os comentários dos estudantes, avalio que uma próxima turma pode ser ainda melhor com o seguinte:
✔️ Manter:
- Exemplos reais e exercícios práticos de interpretação e construção de gráficos.
- Exercício de manipulação em pequenos grupos.
- Bom-humor nos contraexemplos e no exercício de manipulação.
- Projeto aplicado no Flourish, com proposta de estrutura básica de apresentação.
⚠️ Aprimorar:
- Alinhar melhor as expectativas de dedicação de tempo x projeto aplicado: ou oficializar tempo fora das aulas, ou encaixar a elaboração dentro das aulas.
- Deixar projeto aplicado com passos mais estruturados, com tutoriais customizados de aspectos básicos do Flourish.
- Construir passo a passo, em aula, um gráfico no Flourish com os alunos, antes de deixar tudo com eles.
- Garantir que haja uma primeira apresentação oral dos projetos antes do momento de apresentações ao final.
3. Projetos dos participantes
Confira a seguir os projetos de alguns participantes do curso que autorizaram a divulgação:
Como é o ambiente de negócios brasileiros em relação aos nossos vizinhos?
Toque nas setas para navegar pela visualização do Leonardo Drabik Baran Mariano da Silva:
Como a emissão de CO2 anual por país evoluiu ao longo do tempo?
Use os controles do rodapé para dar play/pause, ou avançar na linha do tempo feita por Gabriela Nahas Pinheiro Fragoso, Lucas Avila Martins, Lucas Pieroni Cavaglieri, Luiz Felipe Lisbôa de Souza e Patrick Brinkmann Steinhoff:
Sem torcida em casa a vantagem dos mandantes é menor?
Use o filtro para alternar entre as visualizações de Mariana Mantovani Neto:
Quantos completam o tratamento do vício nos EUA?
Confira o gráfico de Rodrigo Fleury da Costa Nobel:
Índice de Liberdade Econômica: há relação entre PIB e score?
Confira a visualização de Gabriel Carapinheiro: