A Temporada dos Editais

david f. mendes
David França Mendes
3 min readJan 11, 2015

Praticamente todo mundo que eu conheço está ocupado preparando projetos para um ou mais dos variados editais que estão abertos atualmente, da Ancine, do MinC, das diferentes secretarias estaduais e municipais. Como lidar com a necessidade de manter o trabalho criativo e o foco nos projetos que realmente interessam e simultaneamente encontrar tempo e energia para os editais?

É ótimo que existam esses editais que, de diferentes maneiras, mantém a atividade audiovisual aquecida e garantem a manutenção desse bom momento para a produção independente no Brasil. Mas, cuidado, é preciso nunca esquecer que a nossa profissão não é “editalistas”, “concurseiros” ou coisa parecida.

Já ganhei muitos editais, já perdi outro tanto. Já tive projetos realizados com recursos de editais e já tive projetos que realizei na marra, com recursos próprios ou, para ser mais exato, com recurso quase nenhum. Algumas coisas eu aprendi. A mais importante delas, e pode ser que muita gente por aí não concorde, é a seguinte: não vale a pena desenvolver um projeto apenas porque existe um edital.

Eu já passei por isso, e talvez você também. Um edital é aberto, para determinado tipo de obra, com determinado orçamento, determinadas exigências. Eu (ou você) não tinha um projeto com aquele perfil. Então corri para pensar, desenvolver e preparar um projeto “de encomenda” para aquele edital. Todo mundo faz isso, certo? Bom, eu não faço mais.

Primeiro, porque é muito esforço sem nenhuma garantia. Segundo, porque o projeto feito assim em geral é imaturo, tosco, amador, por mais experiente e profissional que eu seja. Terceiro, porque é muito provável que esse projeto não ganhe, pois estará concorrendo com outros mais maduros.

E em quarto lugar, e destaco este motivo porque ele é mesmo especial, porque você corre o risco de ganhar e ter que fazer o projeto. É. É um saco fazer um projeto que você não pensou de verdade, que provavelmente nem gosta tanto assim, não desenvolveu, não firmou as parcerias certas. Muitas vezes, apenas para entrar no edital, você se associou a alguma empresa ou profissional que mal conhece. E aí, agora tem que trabalhar junto, não é? Acontece que boas parcerias profissionais não se firmam da noite pro dia. Bons projetos não nascem da noite pro dia, nem mesmo se eles ganham um edital e têm recursos à disposição para serem realizados.

O que eu faço, e é o que eu recomendo (de novo, vai haver quem discorde, e tudo bem), é o seguinte: tenha seus projetos. Um ou dois, talvez três, que são seus projetos, que você deseja de fato realizar e que está constantemente desenvolvendo, e não apenas quando há o prazo de um edital. Um ou mais projetos que tenham o **seu** perfil, para os quais você se sente capaz. Com calma, vá encontrando os parceiros que têm a ver. O ano inteiro, aqueles projetos têm que existir.

Quando abrir edital, então, tudo que você tem que fazer é ver se um dos seus projetos cabe ali. Precisa de umn ajuste ou outro? ok, claro, não sejamos puristas. Mas você não vai pegar um projeto de série em treze episódios de uma hora e inscrever num edital de curta-metragem (ou vice-versa), não é?

Em resumo, faça os editais trabalharem para você, em vez de você trabalhar para os editais.

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david f. mendes
David França Mendes

Autor-roteirista, showrunner, professor de roteiro, escritor. Nós, A Garota da Moto, Corações Sujos, Um Romance de Geração, O Herói Insone.