Escrita zen

david f. mendes
David França Mendes
3 min readJan 20, 2016

Já faz um tempo que vêm proliferando as ferramentas para escritores que, em oposicão a dinossauros espalhafatosos como o Word e o Final Draft (especializado em roteiro), se caracterizam por não fazer nada. Quer dizer, quase nada. São apps e serviços para escrever e que focam em limpar o terreno para que você apenas escreva. Evoluções da máquina de escrever, ganharam o apelido de zenware, uma época. O termo caiu em desuso, mas ainda me parece adequado, especialmente quando você encontra algo como ZenPen.

ZenPen é tão simples quanto possível. Você entra no site deles, não tem nada que baixar ou instalar, e nem sequer que se cadastrar. Você chega lá e escreve numa página praticamente em branco. Acabou de escrever, salva o arquivo e um abraço. As únicas opções além de salvar o texto que são oferecidas são cor de fundo (preto ou branco) e se você quer estabelecer uma meta de palavras para escrever.

Você vai escrever o romance da sua geração no ZenPen? Vai escrever ali o seu longa-metragem, a bíblia da sua série? Acredito que não. Mas você pode usar um serviço como esse para cumprir um ritual que todo escritor deveria cumprir: o de escrever alguma coisa todo dia. Ideal, por exemplo, para quem luta para arranjar um tempinho por dia e usa a técnica dos 20 minutos sobre a qual eu falo num outro post (Você não tem tempo para escrever).

Há muitos outros serviços e apps como esse. O site 750words é um deles. Oferece um pouco mais que apenas a página para escrever, tem um sistema que marca os dias em que você escreveu, salva online tudo que é escrito e tem uma espécie de ranking de produtividade que pode ser muito motivador para as almas mais competitivas. Não que eu conheça alguma. O site é pago, 4,5 dólares por mês. A gente tende a fugir dos serviços pagos, mas… será que o próprio ato de pagar não seria mais um motivador (nada zen) para escrever?

Se você não quer alguma coisa online e deseja a experiência da escrita zen, mas com mais controle de arquivos e recursos de organização um pouco mais sofisticados, iAWriter (Mac, iPhone, iPad e Android) e Ulysses (Mac e iPad) sào imbatíveis. O iAwriter é o app que eu uso no dia-a-dia para quase qualquer coisa que não vai ter continjuidade, isto é, textos isolados, que não são parte de um projeto maior. A interface é um conforto, limpa de botões, ícones e menus, e com um recurso muito bom de organização de documentos dentro do próprio aplicativo. Em outras palavras, com ele você não precisa mais se preocupar em organizar pastas e arquivos no seu computador.

Mas o rei mesmo do zenware é o Ulysses. Um app que consegue ter tudo que você precisa para organizar um projeto complexo (existe até um livro que propõe um fluxo de trabalho para escrever um romance nele, Writing a Novel with Ulysses) e ao mesmo tempo é limpo, leve, rápido, bonito. Um conforto.

Embora você possa desenvolver muito de um projeto de série ou filme usando esses recursos, a verdade é que falta a eles todos alguns recursos específicos de um editor de roteiro. Você pode escrever neles argumentos, sinopses, perfis de personagens, até organizar uma temporada inteira, mas não efetivamente escrever roteiros. Isso quer dizer entào que os roteiristas estão fora da onda da escrita zen?

Não, porque felizmente existe uma coisa chamada Fountain. Fountain não é um aplicativo e nem um serviço, é uma espécie de linguagem de programação que permitiu a criação de novas ferramentas para quem escreve roteiro. Ótimas ferramentas. Mas sobre isso falarei outro dia.

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david f. mendes
David França Mendes

Autor-roteirista, showrunner, professor de roteiro, escritor. Nós, A Garota da Moto, Corações Sujos, Um Romance de Geração, O Herói Insone.