Cinco Startups que capotaram bonito

Daniel Fernandes
DB Server
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6 min readJan 4, 2022
Nem todos tem a habilidade de Marcos

O mundo dos produtos digitais é repleto de sonhos e esperanças alimentados por líderes audaciosos e intrépidos capazes de criar apresentações incríveis e gerar, muitas vezes, resultados bem complicados. Aqui vamos dissecar cinco grandes exemplos de Startups que funcionaram lindamente no papel, mas que provaram a máxima: “na prática, a teoria é outra”.

Seja por tecnologias que nunca chegaram, ou por acreditarem saber mais sobre os usuários que os próprios usuários, essas startups fizeram o favor de nos mostrar como não criar flashy tech initiatives que prometem o dobro e não entregam a metade.

Vamos ao show do horror:

1. One Laptop per Child

A One Laptor per Child (OLPC) prometeu acesso a laptops de 100 dólares, com materiais de baixo custo e tecnologias de ruptura que permitiriam durabilidade e flexibilidade a ambientes escolares em transformação. A iniciativa pegou a onda de negócios sociais, cuja ruptura só é permitida em larga escala. E até a larga escala chegar: vai acreditando e segurando o prejuízo. Um dia vira! E virou (o carrinho). A OLPC capotou bonito achando que o problema eram os laptops. Quem sabe água? Ou ter escolas? Ou professores? Não. Laptops. Mesmo que fossem os laptops, a tecnologia nunca chegou: prometeu-se uma manivela para ligar o laptop que nunca funcionou, mantendo o aparelho dependente de energia onde não havia. Não tinha jeito de conectá-lo a internet. As peças, pra baratear, não eram intercambiáveis. Quebrou um parafuso? Joga fora todo o resto. E o preço nunca chegou a 100 dólares. Saia da fábrica a $180, no mínimo. Mais distribuição. Competidores como a Asus já tinham no mercado produtos muitos mais robustos e com design muito mais inteligente por $200. Não fazia sentido. Dos 1 milhão de laptops produzidos, foram vendidos 600 mil e muito menos do que isso, efetivamente usados. Mas não para por aí. Negroponte, fundador da iniciativa, em 2011 lançou UM SEGUNDO BUSINESS que basicamente consistia em jogar 100 livros e um tablet DE HELICÓPTERO em comunidades carentes, para estimular a leitura. E de novo consegui funding pra isso. Quer dizer: difícil, né?

2. Theranos Minilab

Essa história já virou livro, filme, série, documentário, podcast e eu ainda não consigo acreditar que é verdade. Uma empreendedora, Elizabeth Anne Holmes, fundou aos 19 anos uma empresa baseada em um processo inovador de diagnósticos em exames de sangue, que permitia gerar resultado em tempo record a um custo baixíssimo. A empresa prometeu provocar uma ruptura em um dos mais complexos e lucrativos negócios em todo o planeta. Aos 31, a fundadora era nada menos que a bilionária mais jovem da história norte americana, com a empresa avaliada em $9 bilhões. O pulo do gato (que caiu estatelado) era o segredo por trás da forma de analisar o sangue coletado. Fechado a sete chaves, por ser o principal diferencial competitivo, o segredo simplesmente não existia. Simples assim. Nove bilhões de dólares foram atribuídos como valor a uma empresa cujo principal diferencial competitivo era uma mentira. A coisa começou a ir mal quando a Walgreens contratou os serviços da Theranos para rodar em todas as suas lojas, que são muitas. O que a Theranos fez pra garantir o tempo record foi SIMPLESMENTE rodar os testes no processo antigo, mas trocar os donos. Dessa forma, você recebia seu exame de sangue bonitinho duas horas após a coleta, mas O SANGUE ERA DE OUTRA PESSOA, que fez sua coleta dois dias atrás! Pensa na pilantragem. Rapidinho a casa caiu e até presa ela foi. Além de ser uma excelente história de como uma startup pode falhar, também chama atenção o impacto da cobiça no cenário de inovação norte americano. Todo mundo se deixou enganar pela chance do lucro monstruoso prometido pela Theranos e, achando que era amor, caíram numa cilada.

3. Jibo Social Robot

A coisa virou febre no Indiegogo, uma plataforma de crowdfunding bem famosinha. Com a promessa de ser um robô social altamente responsivo a estímulos de afeto e carinho, a Jibo levantou rapidamente $3,4 milhões em pré vendas. Demorou, demorou, demorou e finalmente os produtos começaram a ser distribuídos. Isso era 2017 e pra surpresa dos clientes, o reconhecimento de voz era uma piada e linguagem natural passava longe. As respostas eram padronizadas e muitas vezes ainda mal escritas! Além disso, todas as vendas para fora dos EUA ou Canadá foram canceladas por que os desafios de tropicalização eram intransponíveis. O time de pesquisadores, liderado por uma roboticista muito famosa do MIT (Cynthia Breazeal), simplesmente não conseguiu chegar na tecnologia vislumbrada no PPT que engajou a massa de entusiastas. Enquanto isso, Alexa chegava ao mercado no primeiro Amazon Echo, pela bagatela de apenas 1/5 do preço de um Jibo. Foi a pá de cal pra acabar de vez com o sonho desses robozinhos simpáticos e amistosos.

4. Juicero

Pense que seu modelo de negócio consiste em vender uma máquina que consegue extrair sucos de altíssima qualidade de pacotes de suco que você também produz e vende. A máquina é vendida a $699 e os pacotes a não mais que $5, uma vez que a máquina já é cara e não faz sentido vender os pacotes a um preço exorbitante. Tudo certo. Tirando uma coisa: VOCÊ NÃO PRECISA TER A MÁQUINA PARA FAZER O SUCO. Ou seja, por $5, os consumidores entusiastas da Juicero poderiam fazer os maravilhosos sucos apenas espremendo os pacotes e a máquina de $699, que subsidiava a criação dos pacotes, se provou completamente inútil. É como se eu comprasse uma cápsula de nespresso sem precisar da máquina! Só joga na água quente e pronto! Um absurdo que em poucos meses no mercado declarou falência e entrou para os anuários de startups do vale do silício que conseguiram levantar uma burra de dinheiro resolvendo um total de zero problemas dos usuários.

5. Coolest Cooler

Quando esse cooler chegou no Kickstarter, com rodinhas, uma caixinha bluetooth e um liquidificador embutido, foi um oba-oba. Todo mundo queria um. A campanha levantou mais de $13 milhões em 2014, o segundo projeto que mais gerou grana na plataforma até aquele momento. Apenas 1/3 dos compradores receberam seu produto, no entanto. Mais de 20.000 clientes ficaram com sua cerveja quente e a responsabilidade foi atribuída a guerra alfandegária entre China e Estados Unidos, que fez o preço dos tributos explodir e frustrar a estratégia de preço. Ah, mas então o fundador Ryan Grepper devolveu o dinheiro da galera. Claro que não. Pagou uma “multa” de $20 e embolsou o resto, $185+$15 de transporte. Tudo está nos termos de uso do Kickstarter, que realmente não garante o sucesso de nenhum projeto. É tudo no risco! Nesse caso, foi risco com uma pitada de pilantragem, na minha mais modesta opinião.

E você? Tem a sua história de fracasso? Faria melhor que esses empreendedores? Conta a sua história de produto fracasso nos comentários! Vamos mostrar que esses gringos não sabem nada quando o assunto é fracassar!

Sobre o autor:

Daniel Fernandes é líder do Escritório de Design da DBSP. Busca encontrar a coerência entre o que está sendo desenvolvido e a real necessidade dos usuários, e defendê-la arduamente. Joga RPG, gosta de mobilização social, trabalha com facilitação de grupos e acredita que há muito valor naquelas coisas que não fazemos.

Sobre o Escritório de Design DBSP:

O Escritório de Design da DBSP cria soluções digitais viáveis que somam o desejo dos usuários com as necessidades de negócio das organizações. Aplicamos técnicas de Design Thinking, Lean Startup e Métodos Ágeis, oferecendo um olhar sistêmico para analisar os desafios de inovação e transformações digitais.

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