Eu amo o Design, mas ele é uma merda

Josué Dias
DDNBR
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4 min readNov 13, 2018

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Antes de mais nada, esse texto é sobre minha experiência e vivência de design na universidade e na vida e as demais coisas que eu aprendi por aí.

Esse vídeo aqui resume basicamente TUDO que eu mais odeio na mentalidade de alguns designers e professores e, principalmente, nos cursos de design de produto.

https://twitter.com/raysel_xv/status/1053163095852429312

Eu amo o design, mas ele é uma merda. O design nasceu da necessidade de servir o mercado pra trazer um item de diferenciação de produtos com a única finalidade de vender mais. Que essa merda já nasceu errada a gente já tá ligado. Mas o pior não é o que o design se tornou e como essa mentalidade que eu critico tomou conta do que a gente entende por design e discute nas faculdades.

Desde que eu entrei pro design - e isso tem um tempo - eu tenho ouvido uns termos como “valor agregado”, “fator de diferenciação”, “inovação”, “design disruptivo”, que parece mais uma programação pra você produzir sempre coisas novas o tempo todo como um robozinho do design.

No começo do curso é uma beleza, onde os professores te mostram vários exemplos de design ~incrivéis~ como coisas dos Irmãos Campana, Phillip Stark etc. Te falam como as peças são famosas e extremamente caras pra fazer com que você se iluda achando que design é esse glamour todo e tudo que você fizer vai valer rios de dinheiros.

E aí onde o problema começa de verdade (pelo menos pra mim), e eles começam a falar que você enquanto designer precisa prever necessidades nos usuários que eles ainda nem sabem que tem.

Imagina que louco você trabalhar com uma profissão em que você precisa criar um problema que não é um problema aparentemente e convencer o cliente que ele tem um problema e que você tem a solução desse problema por um preço exorbitante.

O design é basicamente o capitalismo que deu certo.

Antes desse momento onde os cursos e os professores te exigem essas soluções mirabolantes pra problemas que não existem não há um momento onde eles sentam com você e falam do impacto do seu trabalho no mundo. Não se fala de consequências como produção de mais lixo, como dificuldade de acesso de grandes parcelas da sociedade (inclusive, é mais interessante que o seu público seja mais e mais seccionado). Eles dizem que você pode fazer o mundo mais fácil, desde que você gaste MUITO dinheiro pra ter essas facilidades.

E aí na hora de você fazer seu projeto, você é exigido de todo tipo de coisas que nunca te disseram que você tinha que pensar ou como pensar nessas coisas, porque tudo que foi te mostrado foram os resultados maravilhosos daquilo tudo.

Você não começa o curso tendo que fazer uma cadeira com papelão. Não, isso é muito simples. Você entrou num curso de design então desde o segundo semestre vão te exigir produtos disruptivos sem dar nenhuma ferramenta pra isso. Existe uma alergia em ensinar o estudante de design a engatinhar antes de começar a correr pra, aí sim, poder voar.

E não esquecer que você tem que fazer tudo isso dentro da lógica capitalista de fazer esses tipos de projetos um atrás do outro sem parar.

Você passa 4, 5, 6 anos tentando descobrir como é que faz design e se forma sem ter nenhuma noção de como atender essas necessidades que nem existem e a maioria das coisas que você “inventa” na faculdade não serve pra nada, porque não tem possibilidade disso “pegar” no mercado.

(Depois desse rodeio todo eu volto finalmente ao vídeo).

E esse vídeo é o maior exemplo de você ter todo um trabalho pra atender uma necessidade que nem existe. Tipo, caralho mano, nem é tão difícil quebrar um ovo, sabe? E, sinceramente, nem começa a falar de pessoas com deficiência que isso pode atender a elas, porque ele é totalmente baseado em uma pessoa sem deficiência e não tem qualquer tipo de adaptação pra atender as necessidades de uma PcD com dificuldades motoras.

Tem muito mais com o que eu posso simplesmente desabafar de coisas que me frustram no design, mas isso dá uma geral.

Eu ainda acredito no design enquanto ferramenta política, mas a gente tem que fazer todo um trabalho de contestação da mentalidade pervertida que o capitalismo transformou o design (ou o design sempre foi a ferramenta de impulsionamento dessa mentalidade?). E sei que tem um monte de designers que discordam fortemente de mim: a gente tá aí pra construir esse diálogo, o que não dá é viver o design de forma que vivemos num mundo onde os recursos são escassos.

A gente precisa pensar nos profissionais de design que queremos pro mundo, mas é preciso rever a forma como formamos esses profissionais.

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Josué Dias
DDNBR
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Não é pra levar nada que tá escrito aqui a sério, mas se quiser pode.