Mean Girls não queria ser um clássico

Danilo Bortoli
Ad Hoc
3 min readOct 11, 2014

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Antes disto, antes de Mean Girls ter seu aniversário de dez anos celebrado em cada canto da internet, antes de todos vestirem rosa (porque, ora, é quarta-feira!), vi, no Twitter, há uns dois anos, enquanto esperava na lanchonete da faculdade, um tweet um tanto quanto provocativo: “Agora, na Sessão da Tarde, o clássico moderno da nossa geração” (grifo meu). Tenho uma vaga lembrança de quem foi que escreveu aquilo, mas lembro de ter retuitado e curtido. Concordei profundamente com a tese proposta. Num tweet. Lembro de ter pensado: Existe algo mais nós que Mean Girls na Sessão da Tarde com uma enxurrada de tweets?

Agora eu penso: Existe algo mais nós que Mean Girls (sem mídias sociais aí, só o mérito mesmo)? Um filme sobre a adolescência suburbana e classe média americana que deixa, segundo alguns (eu), Clueless no chinelo?

É inevitável falar em como um filme assim preencheu o vácuo existencial dos filmes essenciais da adolescência na década passada. Num texto para a New Yorker habilmente intitulado “Why ‘Mean Girls’ Is A Classic”, Richard Brody coloca alguns dos bordões que o filme criou (graças ao roteiro de Tina Fey):

“Four for Glenn Coco! You go, Glenn Coco! None for Gretchen Wieners.”

“You can’t just ask people why they’re white.”

“You will get chlamydia and die.”

“It’s like I have ESPN or something.”

“Brutus is just as cute as Caesar, right?”

“I’m the cool mom.”

And, of course, the inevitable “I can’t help it if I’ve got a heavy flow and a wide-set vagina.” And “Well, this has been sufficiently awkward.”

Concordo com Brody quando ele diz, por exemplo, que o filme é um clássico da mesma forma que um Casablanca é: vale mais pelas atuações e pela performance do todo do que propriamente pelo olhar do diretor a um determinado objeto. No caso de Mean Girls, o objeto é a vida no ensino médio como uma forma de selva africana (sem nenhum princípio de racismo aí, garanto).

O que talvez deva ficar mais claro, até para que eu termine isto de forma menos vergonhosa (já que tudo o que eu queria fazer era falar do texto de Brody e citar bordões) é que, muito embora Mean Girls tenha algo de crítico em si (através dos estereótipos), o que eu mais adoro no filme é um olhar aguçado, quase obsessivo, pela cultura pop em si: os diálogos são escritos como literatura twee, como se eles deveriam viver sozinhos na nossa cultura como um todo (e eles foram: Mean Girls adentrou o pop e nenhum filme sobre desigualdade econômica no ensino médio foi feito da mesma forma), como trechos afiados sobre nós e as personagens ao mesmo tempo. Aí eu digo: Mean Girls não queria ser clássico. Se alguém está infeliz com isto (porque, digamos, “o pop é ruim”), culpe a si mesmo.

Postado originalmente aqui.

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