Calma, palmeirenses. Calma.

Augusto Anteghini Oazi
De Cabeça
Published in
4 min readMay 16, 2018

--

O Palmeiras vinha de 3 vitórias seguidas fora de casa e 8 jogos de invencibilidade (incluindo uma vitória histórica sobre o Boca Juniors), mas bastou uma derrota no Derby para que os profetas do apocalipse descontassem todas suas frustrações no elenco palmeirense.

Time de pipoqueiros! Tem que demitir esse técnico estagiário! Vocês não sabem o que é um Palmeiras x Corinthians! De que adianta ter a maior receita do Brasil se não tem nenhum jogador na seleção? Fora Dudu! Fora Lucas Lima!

A reação já é exagerada se forem analisados o resultados de 2018 até agora: vice-campeão do Paulista, classificação com duas rodadas de antecipação e melhor campanha na Libertadores, além do time estar a apenas dois pontos do líder do Brasileiro.

Os palmeirenses mais barulhentos veem o Grêmio jogando o melhor futebol do país após ser Campeão da Libertadores e bradam: “Precisamos de um técnico identificado com o clube igual ao Renato!”. No entanto, se esquecem que a chave para o sucesso gremista foi a continuidade.

Renato Gaúcho está no Grêmio há um ano e meio (desde setembro de 2016). Antes dele, Roger Machado esteve no comando gremista por mais de um ano (maio de 2015 a setembro de 2016). No mesmo período, o Palmeiras teve 5 trocas no comando e todos com modelos de jogo muito distintos: Marcelo Oliveira > Cuca > Eduardo Baptista > Cuca > Valentim > Roger Machado.

Na data da publicação desse texto, Renato Gaúcho está com 117 jogos como técnico do Grêmio, enquanto Roger Machado vai fazer o seu 30º jogo como técnico do Palmeiras contra o Junior Barranquila. São quatro vezes mais jogos para o treinador gremista. No Corinthians, Fábio Carille tem 105 jogos, três vezes mais que o palmeirense.

Maturação do elenco

Outra crítica que vem sendo muito repetida nas redes sociais é que o elenco palmeirense é pipoqueiro. Se exercitarmos um pouco a memória, vamos lembrar de ótimos jogos decisivos neste ano: 2x0 contra o Boca na Bombonera, primeiro jogo da final do Paulista, vitória no clássico contra o São Paulo, vitória nos pênaltis contra o Santos, além de vários outros.

O que acontece é que elenco palmeirense ainda é cru. A reformulação que vem sendo feita no clube desde 2015 parece ter se estabilizado apenas agora. Foram 31 jogadores utilizados em 2018 e menos da metade deles está no clube há mais de dois anos. O Palmeiras tinha um elenco muito fraco em 2014 e precisou contratar inúmeros jogadores até conseguir formar um time base forte.

Em 2015, ano inicial da reformulação, foram 34 jogadores que fizeram sua estreia com a camisa palmeirense. Esse número caiu para metade em 2016 e 2017 (17 e 16 estreias, respectivamente) e agora cai mais uma vez (8 estreias em 2018). O time parece estar ganhando experiência.

Foi levado em consideração nesse cálculo o ano de estreia e não o ano da contratação. Por exemplo, Jailson chegou em 2014, mas só estreou em 2015, então ele conta como um jogador de 2015.

Continuando a comparação com o Grêmio, calculamos quantos jogos os titulares palmeirenses e gremistas já fizeram por seus respectivos clubes. Quanto mais jogos, mais os jogadores estão adaptados ao modelo de jogo do clube.

Comparação do número de jogos pelo clube dos titulares de Grêmio e Palmeiras (dados até 16/05/2017)

O número não surpreende: a média gremista é quase três vezes maior que a média palmeirense. O Grêmio tem 5 jogares com mais de 100 jogos no clube, enquanto no Palmeiras, só o capitão Dudu atingiu essa marca. No Grêmio, apenas Jael tem menos de 50 jogos, enquanto o Palmeiras possui 5 titulares abaixo desse número. Essa comparação deixa mais claro que é preciso tempo para executar um modelo de jogo com excelência.

Tempo ao tempo

A temporada do Palmeiras é uma das melhores dos últimos anos. São 29 jogos, com 19 vitórias, 5 empates e 5 derrotas (71,26% de aproveitamento). Roger Machado tem apenas 5 meses no comando e o time já mostra sinais claro de evolução em comparação ao ano passado.

O histórico desde 2015 também é bom. O time foi duas vezes campeão nacional e uma vez vice nos últimos três anos. As duas últimas campanhas no Brasileirão foram as melhores do clube desde que o campeonato começou a ser disputado por pontos corridos.

Não há motivo para o desespero de parte da torcida palmeirense. Não faz muito tempo que o comando de ataque era de Ricardo Bueno; hoje a camisa 9 é do melhor jogador da América em 2016. A meia palmeirense já foi de Felipe Menezes; hoje é do jogador com mais assistências no Brasil nos últimos três anos. A Academia de Goleiro sofreu com Deola, Bruno e Fábio; hoje conta com Jailson, Prass e Weverton. A dupla de laterais com Wendel e Juninho deu lugar a Marcos Rocha e Diogo Barbosa. A evolução é mais do que clara.

É preciso ter paciência, torcedor palmeirense. Derrotas em finais são dolorosas, mas a cada final perdida, as chances de título aumentam. Só é campeão um clube que está sempre disputando em alto nível. E o Palmeiras disputa no alto nível brasileiro pelo seu quarto ano seguido. Os títulos e vitórias históricas serão uma consequência desse processo.

Extra

A imagem abaixo mostra os 125 jogadores diferentes que vestiram a camisa do Palmeiras por pelo menos um jogo desde 2014. Os retângulos pintados em verde mostram os anos que esses jogadores estiveram no clube.

--

--

Augusto Anteghini Oazi
De Cabeça

Palmeirense e fanático por futebol. Engenheiro de Produção formado pela UFSCar Sorocaba. Nascido em São Paulo, mas lemense de coração.