A desigualdade nos Campeonatos Estaduais

Augusto Anteghini Oazi
De Cabeça
Published in
3 min readApr 30, 2018

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Você conhece o Coeficiente de Gini? Essa medida foi criada pelo estatístico italiano Corrado Gini para medir a desigualdade em qualquer distribuição. O Coeficiente de Gini vai de 0 a 1, sendo que 0 corresponde à completa igualdade e 1 corresponde à completa desigualdade. Ou seja, quanto mais perto de 1, mais desigual é a distribuição analisada.

Geralmente, o Índice de Gini é utilizado para analisar a desigualdade na distribuição de renda dos países. O Índice de Gini é encontrado ao se multiplicar o Coeficiente de Gini por 100.

E o que isso tem a ver com futebol?

Através do Índice de Gini, analisamos a desigualdade em 10 campeonatos estaduais através de suas distribuições de renda bruta com bilheteria. Foram selecionados para a análise os 10 campeonatos com maior arrecadação em 2018: Paulista, Gaúcho, Carioca, Mineiro, Paranaense, Catarinense, Pernambucano, Baiano, Paulista Série A2 e Cearense. Veja nos gráficos abaixo a renda bruta de cada time em cada um dos estaduais analisados.

Renda Bruta dos times nos 10 Estaduais analisados

Com todos os dados levantados, calculamos o Índice de Gini de cada um dos campeonatos. Para se ter uma base de comparação, o país com pior distribuição de renda no mundo é a África do Sul, com um coeficiente de Gini de 62,5. Na outra ponta do ranking, o país com melhor distribuição de renda é a Finlândia, com um coeficiente de Gini de 21,5.

O Campeonato Catarinense se destaca como o que tem a renda mais bem distribuída entre os times participantes, enquanto o Cearense é o único a ultrapassar a barreira dos 70 pontos no Índice de Gini, sendo o mais desigual. Os três campeonatos que mais arrecadam (Gaúcho, Paulista e Carioca) completam o top-4 do ranking da desigualdade.

Faixa Bônus

Analisamos também o índice de Gini entre os campeonatos estaduais como um todo, somando a renda bruta que eles arrecadaram em todos os seus jogos. O Paulistão acaba se destacando dos demais Estaduais, mas a renda entre eles é de certa forma bem distribuída, com um Índice de Gini de 36,2. No entanto, a desigualdade aumentaria se as cotas de televisão fossem consideradas.

O de cima sobe, o de baixo desce

A análise feita neste texto foi levada em consideração a renda bruta, mas se calculássemos através da renda líquida com bilheteria, veríamos times com valores negativos de arrecadação, ou seja, times que tiveram que pagar para jogar.

Os campeonatos estaduais são curtos, pois precisam acabar antes do início do Campeonato Brasileiro. Consequentemente, aqueles times que não disputam as divisões nacionais precisam se virar nos 30 para montar e desmontar um elenco em menos de seis meses, dificultando o planejamento do clube, busca de patrocínios, manutenção de promessas no elenco, fortalecimento do vínculo com a torcida, etc.

Nada resume melhor a situação dos clubes nos campeonatos Estaduais do país como os famosos versos da música Xibom Bombom d’As Meninas:

Onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre

E o motivo todo mundo já conhece,

É que o de cima sobe e o de baixo desce

Os clubes pequenos estão cada vez mais distantes dos clubes grandes e terão cada vez menos força no cenário regional. Os Campeonatos Estaduais, sempre justificados como uma maneira de sobrevivência dos times pequenos, estão jogando uma pá de cal nesses clubes.

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Augusto Anteghini Oazi
De Cabeça

Palmeirense e fanático por futebol. Engenheiro de Produção formado pela UFSCar Sorocaba. Nascido em São Paulo, mas lemense de coração.