Eu te qualquer coisa

Jéssica Motta
De cara com a vida
Published in
3 min readSep 20, 2013

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É tão bom ouvir aquele eu te amo que cai certo, né? Nossa, não há sensação no mundo que se compare.

Agora, como é péssimo ouvir um eu te qualquer coisa em forma de eu te amo. Que mania chata de lésbica isso, viu. Vou te contar. E não to aqui falando porque não quero esse tipo de coisa ou quero, to aqui falando que é chato porque simplesmente não é verdade. Odeio mentira. Provavelmente a coisa que eu mais odeio no universo, logo depois de Jota Quest.

Tá ali você, construindo uma coisa legal, quando recebe a bomba do eu te qualquer coisa. E vem sempre nas horas inesperadas.

Teoricamente, não é um grande problema, mas pra mim é, por três motivos. Razoáveis ou não, mas são meus motivos. Primeiramente, o óbvio, tá muito cedo pra esse tipo de coisa, e é constrangedor. Segundo, tá muito cedo pra esse tipo de coisa, e é mentira. Terceiro, tá muito cedo pra esse tipo de coisa, e eu não vou dizer de volta porque não vai ser verdade. Ou seja, de largada já saio com três problemáços: sair pela culatra, lidar com a primeira mentira do relacionamento, e, de lambuja, arranjar qualquer coisa pra dizer no lugar.

Todos os meus namoros isso aconteceu. Recebi um eu te amo completamente qualquer coisa. Na primeira vez, fingi que não ouvi, na segunda, ri e falei “tu é linda me bêja” e na terceira, pedi em namoro no automático. Alguém me ensina outras saídas pela culatra porque, sinceramente: patético.

Isso é uma coisa completamente comum nesse mundo lésbico. Não sou eu a privilegiada que sou amada primeiro por todas. Até porque eu tenho o dom de fazer a pessoa se apaixonar perdidamente por mim e pouco tempo depois desistir perdidamente também, mas outra hora que eu estiver de tpm falo mais a esse respeito.

O fato é: acho muito mais complicado pra quem ouve, do que pra quem tá falando no impulso. Quem fala, na pior das hipóteses, recebe outro eu te qualquer coisa de volta. Agora, quem ouve, recebe a responsabilidade da continuidade da relação, seja ela qual for. E quem disse que eu quero essa responsabilidade? Passa a bola pro universo, culpa em mim assim de cara não pode dar certo.

Chato é pensar que aquele primeiro eu te amo poderia surgir num momento muito melhor. Num momento que… seja verdade, no caso.

Tenho uma nóia muito grande em dizer que amo. Preciso ter muita certeza do que eu sinto. Pra mim, amor é quando tu vê que a coca-cola da pessoa tem rato e corre pra dar o primeiro gole antes dela. Quando tu arranca o dvd do jota quest da mão, assopra o machucado e dá um beijinho no metiolate, normatiza o TCC da pessoa sem cobrar um centavo. Isso, pra mim, é amor.

Pode ser que pra pessoa que diz que é amor na primeira semana, seja verdade naquele momento. Ou quem sabe a concepção de amor da pessoa é: emprestaria minha borracha que apaga caneta. Como eu vou saber? De qualquer modo, é uma mania chatérrima, de fato, que poderia muito bem diminuir de frequência na minha vida. Na de vocês, cês fazer o que quiserem.

A definição de amor que tá diferente aí, acho eu. Tem gente que mal sabe o que é, e já sai falando. Mas tá certo, como a pessoa vai descobrir, se não cometer os erros que todo mundo comete? Se a pessoa acha que emprestar a borracha que apaga caneta é amor, então é!

Mas pra mim, que criei uma definição própria, é qualquer coisa.

Ai, me deu vontade de falar disso, de relacionamento, de amor, de desamor, não sei porque. Única coisa que não deu vontade é de falar que amo, porque é mentira. É eu te qualquer coisa. Por enquanto.

Não me julguem, tá? Eu qualquer coisa vocês. Do fundo do coração.

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