​25 anos conturbados

Giovanni Alecrim
De casa em casa
Published in
3 min readJun 9, 2021

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Um breve panorama da Judeia de 41 a 66 d.C.

Paulo diante de Herodes Agripa I

No ano 37 d.C., após a morte de Filipe, o Imperador Calígula nomeou em seu lugar Herodes Agripa I, um neto de Herodes o Grande, o qual, após o exílio de Herodes Antipas, tornou-se também governador da Galileia e da Pereia. No ano 41 d.C. o Imperador Cláudio o confiará ainda a Judeia, a Samaria e a Idumeia, reconstituindo, assim, o reino de Herodes o Grande. Excetuando as duas rebeliões que se seguirão, esta será a última vez que Israel estará unificado e independente¹

Ao assumir o poder, Herodes Agripa I teve que lidar com a insatisfação do povo judeu. O Imperador Calígula exigiu a construção de uma estátua sua no Templo de Jerusalém, impondo aos judeus o reconhecimento de seu caráter divino. A agitação foi tamanha que Agripa tentou, pessoalmente, remover a ideia da cabeça do imperador, o que não conseguiu. Estava-se às portas de uma rebelião, que só não aconteceu, pois, Calígula fora assassinado pela guarda pretoriana em 41 d.C.

Não se tem um perfil exato acerca de Herodes Agripa I. Seus contemporâneos o descrevem como um homem de caráter moderado e pacífico, próximo aos fariseus e amigo do judaísmo. No entanto, uma inscrição grega o coloca como “rei grande, amigo de César, piedoso e amigo dos romanos”. Ele foi profundo admirador da cultura grega. No Novo Testamento ele é anotado como o Herodes que assassinou o Apóstolo Tiago, irmão de João, e mandou prender Pedro. Sua morte é narrada com ênfase na sua infidelidade a Deus em Atos 12.20ss.

Após a morte de Herodes Agripa I, a Judeia volta a ser província romana. Herodes Agripa II herda o antigo território de Filipe (a Transjordânia). Agripa II é mencionado em Atos 25.13ss, junto a sua irmã Berenice. Os procuradores romanos que assumiram a judeia não se esforçaram em nada para ter a simpatia do povo. Repressivos, gananciosos, aprofundaram ainda mais a perseguição e tributação sobre o povo. Todos os incidentes desta época têm como origem a questão religiosa, como, por exemplo, as mencionadas pelo Rabino Gamaliel em Atos 5.34ss. Dos vários procuradores, temos no Novo Testamento o registro do encontro de Paulo com Marco Antônio Felix (52–60 d.C.) em Atos 24.24ss, no quando de seu primeiro processo judicial. Felix fora um procurador cruel. O historiador romano Tácito o descreve assim: “com toda crueldade e avidez, exercitou o direito real com a mentalidade de um escravo… acreditava poder cometer impunemente qualquer crueldade”¹. O sucessor de Felix foi Pórcio Festo (60–62d.C.). É sob o governo de Festo que Paulo é julgado e apela para ser enviado a César, fato narrado em Atos 25. Durante os governos de Felix e Festo tiveram ao menos duas grandes tentativas de revolta, uma delas citadas em Atos 21.37ss, quando um comandante o confundiu com um egípcio que liderara quatro mil homens em uma rebelião.

Conclusão

O cenário conturbado dos vinte e cinco anos que tratamos agora permeia a narrativa de Atos dos Apóstolos. Nele, encontramos como os apóstolos reagiram às transformações políticas na região e foram personagens marcantes nos conflitos políticos entre romanos e judeus. Toda essa tensão, no entanto, não diminuía, pelo contrário, se intensificava a cada ano e se transformaria, em breve, na primeira rebelião judaica sob domínio romano. É o que veremos em nossa próxima aula.

¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017

O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 9 de junho de 2021

Índice das aulas

O índice é atualizado no artigo da primeira lição.

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