​A dinastia asmoneia

Giovanni Alecrim
De casa em casa
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4 min readApr 7, 2021

Um novo apogeu na judeia

O período que se estende do reino de João Hircano I até a conquista romana, liderada por Pompeu em 63 a.C., não é verificável nos textos bíblicos, mas é igualmente importante, pois nos permite compreender o pano de fundo imediato dos acontecimentos sobre os quais se moverá a história de Israel no tempo de Cristo.¹

Com a estabilidade conquista por Simão Macabeu, chega ao poder João Hircano I (134–104 a.C.). Com poderio militar em mãos, dedica-se a uma campanha expansionista. Domina a região de Samaria, destruindo o templo no Monte Gerizim, convertendo por decreto a região toda e abrindo um abismo definitivo entre judeus e samaritanos. Logo após conquista a idumeia, a transjordânia e, por decreto, circuncida todos.

O sucesso bélico de Hircano I, no entanto, não se reflete internamente. É neste mesmo período que se estabelecem como agentes sociais os saduceus, fariseus e os essênios. Os fariseus são muito críticos a Hircano I, principalmente por concentrar em suas mãos o poder civil e desejar o poder religioso. O comportamento tirânico de Hircano I e sua paixão pela cultura helênica causava espanto e repulsa nos fariseus. Com pouco apoio popular, Hircano I governa com poder militar e um sistema fiscal ganancioso.

O estilo tirânico de Hircano I é herdado por seu filho, Aristóbulo (104–103 a.C.). Reinou por muito pouco tempo, mandou assassinar sua mãe e seu irmão, assume para si o título de “rei”. Em seu reinado ele toma a Galileia e amplia ainda mais as fronteiras de Israel.

Quem sucede o breve reinado de Aristóbulo é seu irmão Alexandre Janeu (103–76 a.c.), que vai conduzir a dinastia asmoneia ao seu máximo esplendor. Alexandre, no entanto, não encontra um mar de rosas na política interna. Apesar de sua vitoriosa campanha bélica, internamente os fariseus intensificam sua oposição ao rei, que, em contrapartida toma posturas ainda mais tirânicas. Para reprimir a oposição de fariseus, mandou crucificar uma centena deles ao redor dos muros de Jerusalém, matando suas mulheres e filhos diante de seus olhos. O fato deixou a população perturbada, ainda mais considerando que a pena de crucificação não era conhecida pelos israelitas. Com isso a monarquia asmoneia se torna mais uma de tantas monarquias do Oriente Médio profundamente influenciada pelos helênicos: tirânica, opressora e governando para as elites, matando as oposições, o que é um paradoxo interessante se considerarmos que os asmoneus se consideravam herdeiros dos macabeus, que lutaram para tirar do poder os selêucidas, igualmente tirânicos e opressores.

Com a morte de Alexandre Janeu quem assume o trono é sua viúva, Alexandra Salomé (76–67 a.c), que consegue se reconciliar com os fariseus e, ao longo do seu reinado, estabelece certa paz interna. É no reinado de Alexandra que o reinado dos asmoneus atinge fronteiras semelhantes aos reinados de Davi e Salomão. A tradição judaica, ao se referir a este período, o classifica como uma idade do outro. Paz, prosperidade econômica são as marcas do período. Mas lembremos que o julgamento positivo pode ser mais influência de uma narrativa farisaica que algo palpável para a maioria da população.

Conclusão

Com a morte de Alexandra Salomé se inicia uma luta, entre seus filhos, pelo poder. De um lado, Hircano II, que detinha o cargo de Sumo Sacerdote, nomeado por sua mãe. Do outro, Aristóbulo II, o herdeiro do trono. A guerra chegou a um ponto tão insustentável que Hircano recorre à ajuda de Roma, se dirigindo a Pompeu, que havia conquistado Damasco e destruído o reino selêucida. Internamente a situação era tão complicada em Israel que a sucessão do trono parecia ser o menor dos problemas. A divisão clara entre galileus, samaritanos, judeus e suas diversas facções políticas e movimentos religiosos se tornaram um combustível para agravar a crise. Com todo esse cenário interno, Pompeu se aproveita e entra em Jerusalém em 63 a.C., sendo recebido de portas abertas pelos partidários de Hircano II. Aristóbulo II e os seus, refugiados no Templo, foram massacrados três meses depois.

O historiador romano Tácito recorda o espanto de Pompeu ao entrar no Templo e encontrá-lo completamente vazio, sem a presença de qualquer imagem da divindade, lugar do culto a YHWH, Deus invisível, incompreensível aos romanos, os mais novos dominadores de toda a Judeia¹

Os romanos se estabelecem na judeia. O império se expande ainda mais. Antes, no entanto, de adentrarmos na última parte de nossa jornada, a romana, precisamos falar de um grupo de judeus dos quais não nos referenciamos muito a eles ao longo das últimas aulas: os judeus de língua grega em Israel e na diáspora.

¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017

O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 7 de abril de 2021

Índice das aulas

O índice é atualizado no artigo da primeira lição.

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Giovanni Alecrim
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Apaixonado pelo texto bíblico. Falo sobre espiritualidade saudável, Bíblia, culto, teologia e tudo o que envolve vida com Jesus. alecrim.app.br/giovanni