A perseguição de Antíoco IV
O louco derrotado se volta contra Judá
…a intenção de Antíoco era melhorar a “triste raça” dos judeus “mudando-a para melhor”, abolindo o seu fanatismo e transmitindo a eles os seus costumes gregos¹
Antíoco estava voltando Egito quando, passando por Jerusalém, faz uma parada para obter dinheiro do caixa do Templo. Algum tempo depois, ao término de sua segunda campanha militar, desta vez contra os romanos, derrotado, falido e humilhado ele intervém na Judeia sob o pretexto de conter uma rebelião para o cargo de sumo-sacerdote. Jasão, mais uma vez, tentava destituir Menelau, o que foi duramente reprimido pelo rei. Desta vez, Antíoco IV age com rigor e dureza, saqueia mais uma vez o Templo e constrói um presídio militar, chamado Acra, onde deixa uma guarnição permanente de seu exército. Mas não apenas isso, ele profere um golpe duro demais para os judeus suportarem.
Abominação da desolação
Em 167 a.C. Antíoco IV ordena a construção de um altar ao Zeus Olímpio no lugar do altar dos holocaustos, no coração do Templo, reprime o culto hebraico, proíbe a circuncisão e a observância do sábado, além de outras festividades judaicas. Quem descumprisse seria condenado a pena de morte. O povo que havia perdido a terra prometida no exílio assírio e babilônico, o reino da casa de Davi com a queda do último rei de Judá, enfrentava agora um duro golpe à única instituição que lhe restava enquanto identidade como povo: a religião.
As atitudes de Antíoco IV são narradas como crueldade e abominação por 1 e 2 Macabeus e Daniel. No entanto, toda desolação não tinha como motivação primeira a religião, mas sim a política. A situação em Jerusalém era caótica e Jasão precisava ser barrado e a ordem restabelecida. Além disso, havia a questão econômica de seu reinado, falido após frustrada campanha contra Roma. Também não podemos excluir o fator emocional. Derrotado e humilhado pelos romanos, necessitava manter o controle e dominação sobre as regiões que estavam sob seu domínio, boqueando qualquer tentativa de rebelião ou chama de esperança de mudanças. As medidas de Antíoco IV, portanto, são muito mais visando acelerar o processo de helenização que perseguição religiosa de fato, embora esta seja uma consequência daquela.
Não podemos nos esquecer, conforme vimos anteriormente, que havia em Jerusalém um partido muito forte simpático aos gregos, sendo o sumo sacerdote membro dele. Diante das medidas de Antíoco IV, é provável que o sumo sacerdote tenha mais apoiado que condenado, pois desejava a helenização do povo hebreu, via na cultura grega o futuro de sua nação. Não seria de se estranhar que os próprios integrantes do judaísmo simpáticos à helenização tenham incitado a perseguição aos hebreus discordantes. Lembremos que os que defendiam a helenização do povo hebreu eram as elites de Judá.
Conclusão
As causas da perseguição de Antíoco IV são diversas. Diante das atitudes do rei, grande parte dos hebreus da época interpretaram tudo como sendo um ataque direto à comunidade israelita. Precisamos lembrar que os hebreus deste período se consideravam superiores moral e religiosamente em relação aos demais povos. O que só intensificou a revolta entre o povo de Jerusalém. Mesmo apoiado pelas elites de Judá, principalmente os sacerdotes, Antíoco IV não conseguiria evitar que suas investidas se transformassem em perseguição religiosa e levassem ao surgimento de um movimento rebelde estruturado, com estratégias de guerrilhas e comandados por uma família: os Macabeus. Esse é o assunto da nossa próxima aula.
¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017
O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 10 de março de 2021
Índice das aulas
O índice é atualizado no artigo da primeira lição.
