​A primeira revolta judaica

Giovanni Alecrim
De casa em casa
Published in
4 min readJun 16, 2021

Os eventos que culminaram com a queda do Templo

Arco de Tito, Roma, Itália

O comportamento do procurador romano Géssio Floro (64–66 d.C.) foi a gota d’água que fez transbordar a revolta. Ele teve uma postura extremamente dura e provocatória, ousando subtrair valores do tesouro do Templo e obrigando a população de Jerusalém a acolher com solenidade suas tropas, entregando em seguida a cidade ao saque.¹

As atitudes do procurador romano Géssio se repetiram e, após seguidas provocações, em 66 d.C., o Rei Agripa vai a Jerusalém tentar remediar a situação, mas sem sucesso. Eclode, então, uma rebelião que se transforma em guerra. Os zelotes conseguem convencer a maioria e os pacifistas, representados pelos fariseus, acabam derrotados. O sumo sacerdote é assassinado e uma pequena guarnição romana, enviada por Géssio, foi entrincheirada no palácio de Herodes. Pouco tempo depois se renderam aos revoltosos judeus com a promessa de que teriam suas vidas poupadas, mas foram todos assassinados.

Os romanos, pegos de surpresa, sofrem seguidas derrotas em quase toda região. Embora com êxito em guerra, os revoltosos não eram profundamente rachados internamente e não souberam tomar vantagem deste primeiro momento, embora exitosos. Sua maior vitória não fora, até então, militar, mas interna. Conseguiram calar os fariseus e sacerdotes que eram enfáticos em não lutar contra Roma. É neste período que a comunidade cristã em Jerusalém se retira da cidade para refugiar-se na Transjordânia. Lembremos que haviam poucos cristãos nessa época em Jerusalém, devido a perseguições dos fariseus e dos procuradores romanos.

Um ano depois das primeiras revoltas, as legiões romanas passaram ao contra-ataque. 60 mil homens desembarcam em Ptolomaida em direção a Jerusalém, comandados por Vespasiano. A Judeia foi rapidamente retomada. Quando Nero morreu, os judeus alimentaram uma certa esperança de reconquistar os territórios perdidos, principalmente com a suspensão das campanhas militares neste período. Em 69 d.C. as legiões orientais romanas aclamaram Vespasiano como imperador, este, confiou a Tito, seu filho, o exército.

Rapidamente, mais uma vez, as legiões romanas vão retomando os territórios na Judeia e, na primavera de 70 d.C., Tito inicia o cerco a Jerusalém. A cidade estava cheia de peregrinos que haviam ido para a Festa da Páscoa. Cercados, não tiveram como sair para suas casas. Em pouco tempo a cidade foi tomada pela fome. Uma série de atrocidades aconteceram neste período, tanto por parte dos judeus, quanto dos romanos. Na cidade, os partidos judaicos pareciam ignorar as atrocidades e brigavam entre si.

No mês de julho as tropas romanas conseguiram romper a muralha tripa que circundava a cidade e finalmente destruir a última resistência, que estava ao redor do Templo. Ao tomar Jerusalém as legiões comandadas por Tito saqueiam e incendeiam a cidade. Parte dos habitantes fora massacrada, outra parte vendida como escravos. Os líderes da revolta, João de Giscala e Simão Bar-Giora, foram presos e executados. O Templo foi destruído e nunca mais reconstruído. Um testemunho vivo da tomada de Jerusalém nós temos, até hoje, registrado no Arco de Tito, na cidade de Roma, na Itália. Nele se vê os soldados romanos carregando os objetos sagrados do judaísmo para fora do Templo destruído. As moedas romanas desta época vinham as inscrições IUDAEA CAPTA, “capturada a Judeia”.

O evangelho de Lucas, escrito entre 70–90 d.C., registra um lamento e uma advertência de Jesus que retrata bem este episódio:

²⁰E, quando virem Jerusalém cercada de exércitos, saberão que chegou a hora de sua destruição. ²¹Então, quem estiver na Judeia, fuja para os montes. Quem estiver na cidade, saia. E quem estiver no campo, não volte para a cidade. ²²Pois aqueles serão os dias da vingança, e as palavras proféticas das Escrituras se cumprirão. ²³Que dias terríveis serão aqueles para as grávidas e para as mães que estiverem amamentando! Pois haverá calamidade na terra e grande ira contra este povo. ²⁴Serão mortos pela espada ou levados como prisioneiros para todas as nações do mundo. E Jerusalém será pisoteada pelos gentios até que o tempo deles chegue ao fim. Lucas 21.20–24

Conclusão

A queda do Templo não foi o fim da resistência judaica. Somente quatro anos depois, em 74 d.C., com a tomada da “impenetrável fortaleza de Massada” é que terá fim a revolta. Mais de 900 sicários, os judeus mais violentos, se refugiaram na fortaleza com suas famílias. A história registra que preferiram cometer suicídio a se entregarem aos soldados romanos.

Os historiadores registram que mais da metade da população judaica foi morta neste período. Tácito e Flávio Josefo falam em mais de 600 mil mortos. Não há mais sumo sacerdote, nem rei, nem qualquer outra autoridade judaica. Apenas a Lei permanece como ponto de referência para o povo que acabara de contemplar a completa destruição do Templo. A fé e a observância da Lei se tornarão os elementos fundamentais para a sobrevivência do judaísmo.

¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017

O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 16 de junho de 2021

Índice das aulas

O índice é atualizado no artigo da primeira lição.

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Giovanni Alecrim
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