​Alexandre, o Grande

Giovanni Alecrim
De casa em casa
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5 min readFeb 17, 2021

O conquistador amplias suas fronteiras e chega à judeia

Estátua de Alexandre, o Grande, na cidade de Tessalônica, na Grécia

As intenções de Alexandre eram mais políticas e pragmáticas do que culturais e civilizatórias. É difícil sustentar que ele se pretendesse portador de uma nova civilização, o “pacificador do mundo”, que “civilizou os bárbaros” e “ensinou a lei e a paz a tribos ignorantes e sem ordem”, como defenderá quatro séculos mais tarde o historiador grego Plutarco.¹

Alexandre Magno rompe com uma sequência de troca de poderes na Judeia entre povos do Oriente Médio e o Egito. A cultura, a civilização e a filosofia grega chegam ao Oriente Médio pelas mãos de um dos maiores conquistadores da história. Estamos no início do chamado período helenístico e as principais mudanças foram as colônias gregas fundadas quase que em todo o Oriente — várias cidades com o nome Alexandria são desse período, a mais famosa delas, a do Egito –, a língua grega substituiu o aramaico como língua internacional, o modo de governo e leis gregos são adotados por muitas cidades. Surgem ginásios, teatros e termas por toda parte. A educação dos jovens segundo a cultura grega, a chamada paideia, se torna a porta de acesso a esse novo mundo.

Os gregos não impuseram seu estilo e cultura, tanto que em algumas localidades o processo de helenização foi maior que em outros. No Egito e na Ásia Menor, por exemplo, foram profundos, ao passo que na Mesopotâmia foi mais superficial. Isso acontece, pois os povos conquistados é que resolvem assimilar ou não a cultura grega. Como não é imposto por decreto, o que se assiste é a cultura helênica mostrando-se assimilável pelas demais culturas.

Uma das grandes marcas do período são quatro grandes escolas filosóficas pós-aristotélicas: cínicos, céticos, epicuristas e estoicos. Escolas assim definidas pelo “Dicionário básico de filosofia” de Hilton Japiassú²

  • Cínicos: (do lat. cynicus, do gr. kynikós: como um cão) 1. Escola filosófica de Antístenes (444–365 a.C.), discípulo de Sócrates, assim chamada porque ele ensinava no Cynosarge (mausoléu do cão) e se considerava a si mesmo o cão. Sua doutrina foi retomada por Diógenes, que também se considerava o cão, em função de seu estilo de vida: desprezava todas as convenções sociais e as leis existentes, sua filosofia pregando um retorno à vida simples conforme à natureza.
  • Céticos: (do gr. skeptikós: aquele que investiga) 1. Concepção segundo a qual o conhecimento do real é impossível à razão humana. Portanto, o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo sobre as coisas e submeter toda afirmação a uma dúvida constante.
  • Epicuristas: Doutrina de Epicuro (341–270 a.C.) e de seus seguidores segundo a qual, na moral, o bem é o prazer, isto é, a satisfação de nossos desejos e impulsos de forma moderada, levando assim à tranquilidade. Por extensão, e de forma imprópria, este termo passou a aplicar-se a todo aquele que faz do prazer ou do gozo o objetivo da vida, o assim denominado “epicurista”.”
  • Estoicos: Escola filosófica grega, deriva seu nome da Stoa Poikilé, um pórtico em Atenas, onde lecionava o seu fundador, o filósofo Zenão de Cício (334–262 a.C.), sendo também, por vezes, conhecida como filosofia do Pórtico. O estoicismo desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física e pela ética, articuladas por princípios comuns. É, no entanto, a ética estoica que teve maior influência no desenvolvimento da tradição filosófica, chegando mesmo a influenciar o pensamento ético cristão nos primórdios do cristianismo. Na concepção estoica, os princípios éticos da harmonia e do equilíbrio baseiam-se, em última análise, nos princípios que ordenam o próprio cosmo. Assim, o homem, como parte desse cosmo, deve orientar sua vida prática por esses princípios.

Com a expansão do mundo para os gregos, a presença de outros povos e culturas de maneira mais efetiva em sua realidade, estas escolas filosóficas vão trilhar o caminho da reflexão profunda sobre a humanidade e sua possibilidade de ser feliz.

Apesar de toda a vastidão do império, o contato dos gregos com os hebreus não foi diferente de antes da conquista da região por Alexandre, sendo limitado a poucos contatos comerciais. Império vasto, culturas diversas, mas o interesse grego por elas é quase zero. É nesse período que nasce a Septuaginta, tradução para o grego da Bíblia Hebraica, e nem assim encontramos rastro de sua influência ou citação a ela entre os autores gregos do período.

Se os gregos não tinham interesse no mundo hebreu, o contrário não se pode afirmar. Os hebreus acolheram bem a tomada de Jerusalém por Alexandre. Ele reconheceu a autoridade do Sumo Sacerdote como chefe e representante oficial de um povo regulado por uma lei, a saber, a Torá. Pouco mudou para o cidadão de Jerusalém a chegada de Alexandre, o Grande, cuja tolerância com organizações sociais e religiões é uma das grandes virtudes de seu período. Se em Jerusalém havia paz, em Samaria houve rebelião. Em 331 a.C. a cidade foi devastada e posteriormente reconstruída como colônia da macedônia.

Mas, e a Bíblia, o que diz sobre esse período? Muito pouco. Esdras e Neemias não vão além do período persa. Os Macabeus, livro do cânone católico-romano, trata de acontecimentos de um século e meio depois, ainda assim, registra na abertura de seu primeiro livro uma imagem negativa do conquistador:

Ora, aconteceu que, já senhor da Grécia, Alexandre, filho de Filipe da Macedônia, oriundo da terra de Cetim, derrotou também Dario, rei dos persas e dos medos e reinou em seu lugar. Empreendeu inúmeras guerras, apoderou-se de muitas cidades e matou muitos reis. Avançou até os confins da terra e apoderou-se das riquezas de vários povos, e diante dele silenciou a terra. Tornando-se altivo, seu coração ensoberbeceu-se. (1 Macabeus 1.1–3)

Tal julgamento negativo a respeito de um conquistador tão tolerante religiosamente pode nos assustar, mas não, é natural que um judeu piedoso não aceite nem tolere um conquistador que atribui a si mesmo prerrogativas divinas. Coisa, aliás, que não é exclusividade de Alexandre, foi bastante comum naquele período.

Conclusão

Alexandre Magno, ou Alexandre, o grande, foi um dos maiores conquistadores da história. Sua visão de mundo, sua ânsia em romper fronteiras e conquistar terras levou o povo e a cultura grega a lugares distantes e muito diferentes. Ele consegue conquistar e pacificar preservando a religião e oferecendo uma visão de cultura diferente que acaba sendo assimilada por boa parte de seu império. No entanto, ele não teve tempo de consolidar suas conquistas, morrendo aos 33 anos, em 323 a.C no antigo palácio do rei Nabucodonosor II, na Babilônia. Os seus generais dividiram entre si os territórios conquistados. Ptolomeu apoderou-se do Egito e, posteriormente, da judeia. É o que veremos na próxima aula.

¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017

²JAPIASSÚ, Hilton, MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Editora Zahar. 5ª edição. São Paulo, SP. 1990

O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 17 de fevereiro de 2021

Índice das aulas

O índice é atualizado no artigo da primeira lição.

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Giovanni Alecrim
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