Busque ao Senhor
Salmo Penitencial: quem te louvará da sepultura?

¹Ó Senhor, não me repreendas em tua ira, nem me disciplines em tua fúria. ²Tem compaixão de mim, Senhor, pois estou fraco; cura-me, Senhor, pois meus ossos agonizam. ³Meu coração está muito angustiado; Senhor, quando virás me restaurar?
⁴Volta-te, Senhor, e livra-me! Salva-me por causa do teu amor. ⁵Pois os mortos não se lembram de ti; quem te louvará da sepultura?
⁶Estou exausto de tanto gemer; à noite inundo a cama de tanto chorar, e de lágrimas a encharco. ⁷A tristeza me embaça a vista; meus olhos estão cansados por causa de todos os meus inimigos.
⁸Afastem-se de mim, todos vocês que praticam o mal, pois o Senhor ouviu meu pranto. ⁹O Senhor ouviu minha súplica; o Senhor responderá à minha oração. ¹⁰Sejam humilhados e aterrorizados todos os meus inimigos; recuem de repente, envergonhados.
Este Salmo pertence a um grupo de Salmos escritos no mesmo estilo literário que chamamos de Salmo Penitencial. Trata-se de um lamento pessoal do salmista referente a uma circunstância específica. No Salmo 6, temos um lamento por conta de uma enfermidade. Davi, autor do Salmo, se apresenta diante de Deus clamando por misericórdia sobre sua vida. Davi expressa aqui, poeticamente, que ele como um todo carece da intervenção divina.
A oração em forma de salmo possuí uma nota, em sua abertura, indicando que era para ser entoado com instrumento de oito cordas. O seu tom é de lamento e possivelmente cantado em tons mais graves, por vozes masculinas. A oração possuí quatro movimentos que merecem ser analisados:
- Reconhecimento: versos 1 a 3. Em três momentos ele reconhece que não merece a misericórdia de Deus. “Não me repreendas”, “nem me disciplines” e “tem compaixão”. Este reconhecimento vem de sua condição, ele sabe que é fraco e por si só não conseguirá resolver sua situação: “estou fraco”, “meus ossos agonizam” e “meu coração está muito angustiado”. Interessante notar a expressão “ossos que agonizam”, ela encontra paralelo em outro salmo penitencial, o 32: “Enquanto me recusei a confessar meu pecado, meu corpo definhou, e eu gemia o dia inteiro”. Pecado não confessado faz o corpo perecer.
- Súplica: versos 4 e 5. A súplica vem de forma imperativa: “Volta-te! Livra-me!”. O imperativo não é por exigência, mas por urgência, e nem porque o salmista merece, mas, porque ele reconhece que não merece: “Salva-me por causa do teu amor”. A referência aos mortos aqui aparece como uma justificativa ilustrada de sua necessidade. Ele usa a palavra Sheol, o mundo dos mortos, para se referir à sepultura. Em Isaías 38.18 temos o registro do cântico de Ezequias, rei de Judá, que recorre à mesma imagem: “Pois os mortos não podem exaltar-te; não podem entoar louvores. Aqueles que descem à cova já não podem esperar em tua fidelidade”. Em resumo: morto não louva, não clama, vivos sim! Isso serve tanto para o sentido literal, quanto para o espiritual. Aqueles que estão mortos em seus pecados não são capazes de, por si mesmos, clamarem. Mas quando o Espírito da Vida os capacita, seu clamor sobe como imperativo diante do Senhor!
- Situação: versos 6 e 7. O salmista relata sua situação diante de seu sofrimento. Ele necessita da intervenção divina. Os verbos expressam o quão ruim ele está: gemer, chorar, estar cansado.
- Confiança: versos 8 a 10. Se existe uma lição que aprendemos ao ler os Salmos Penitenciais é a de que todo lamento, toda culpa, todo erro e toda situação extrema não são maiores que a confiança de que Javé virá em seu socorro: “… pois o Senhor ouviu meu pranto. O Senhor ouviu minha súplica; o Senhor responderá à minha oração”.
O Salmo 6 nos ensina que buscar a presença do Senhor é imprescindível nos dias de aflição. Davi estava rendido diante de sua enfermidade, seus amigos julgavam que ele estava enfermo por conta do pecado, seu corpo e sua alma sentiam o peso de sua dor e ele sabia que somente Deus poderia socorrê-lo. Nós precisamos aprender com Davi, em meio às dificuldades de nossas vidas, confiemos em Deus. Só ele pode mudar a história de nossas vidas e curar nosso corpo e nossa alma. Clame ao Senhor, apresente diante dele a sua dificuldade e não oculte dele nada, pois ele está disposto a ouvir nossa súplica e acolher nossa oração.
O presente texto foi escrito para a aula de Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, em 25 de fevereiro de 2021
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O índice é atualizado no artigo da primeira lição.