Confiança e sabedoria
Salmo Penitencial: Dia e noite, tua mão pesava sobre mim

¹Como é feliz aquele cuja desobediência é perdoada, cujo pecado é coberto! ²Sim, como é feliz aquele cuja culpa o Senhor não leva em conta, cuja consciência é sempre sincera! ³Enquanto me recusei a confessar meu pecado, meu corpo definhou, e eu gemia o dia inteiro. ⁴Dia e noite, tua mão pesava sobre mim; minha força evaporou como água no calor do verão.
⁵Finalmente, confessei a ti todos os meus pecados e não escondi mais a minha culpa. Disse comigo: “Confessarei ao Senhor a minha rebeldia”, e tu perdoaste toda a minha culpa.
⁶Portanto, todos que forem fiéis orem a ti enquanto há tempo, para que não se afoguem quando vier a inundação. ⁷Pois és meu esconderijo; tu me guardas da aflição e me cercas de cânticos de vitória.
⁸O Senhor diz: “Eu o guiarei pelo melhor caminho para sua vida, lhe darei conselhos e cuidarei de você. ⁹Não sejam como o cavalo ou a mula, que não têm entendimento e precisam de freios e rédeas para ser controlados”. ¹⁰O perverso tem muitas tristezas, mas o que confia no Senhor é cercado de amor. ¹¹Portanto, alegrem-se no Senhor e exultem, todos vocês que são justos! Gritem de alegria, todos vocês que têm coração íntegro!
Este Salmo pertence a um grupo de Salmos escritos no mesmo estilo literário que chamamos de Salmo Penitencial. Trata-se de um lamento pessoal do salmista referente a uma circunstância específica. No Salmo 32 temos a expressão do salmista por ser perdoado. Este perdão ocorre após a confissão de seu pecado. Enquanto ele não o confessou, segundo o próprio salmista, “meu corpo definhou, e eu gemia o dia inteiro”, ou seja, havia dor física e não apenas emocional e espiritual. O pecado consumia sua vida e, enquanto ele não o confessou, não obteve alívio de sua dor.
O salmo possuí quatro estrofes, duas maiores — a primeira e a quarta, e duas menores — a segunda e a terceira. Esta estrutura marca a relevância das estrofes menores, dada as três marcações de interlúdio, o Selah, indicando uma pausa entre elas. Olhando atentamente para as quatro estrofes, percebemos bem a razão do intervalo: é preciso parar e meditar na profundidade do que foi cantado. O meio do salmo, as estrofes menores, são o cerne do ensinamento deste cântico. Vamos olhar para cada estrofe com calma.
- O perdão gera felicidade: versos 1–4: está claro que aquele que Javé não vê culpa, aquele que é perdoado, é feliz. Não confessar gera dor e sofrimento, o corpo definha. Este ensinamento, no entanto, não se restringe ao perdão concedido por Deus. Se você errou com alguém no passado, restituir pelos erros e reconciliar é uma parte importante do crescimento e amadurecimento espiritual. Para quê manter o pecado encoberto, o erro escondido, se só lhe trará sofrimento? Livre-se do sofrimento, confesse seu pecado a Deus e a quem você magoou, pensou mal, fez mau juízo, caluniou. Lembre-se da recomendação apostólica: “Portanto, confessem seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo tem grande poder e produz grandes resultados” Tiago 5.16. Faça uma pausa, medite sobre as palavras dos versos 1 a 4.
- Pecado confessado, pecador perdoado: verso 5: o salmista gemia de dor, seu corpo sofreu as consequências de seus erros, ele não tinha forças, ele sentia a mão de Javé pesando sobre ele. Qual a saída? Ele conhece a saída, já recorreu a ela outras vezes, e agora, se vê diante dela. Por que relutou tanto em se apresentar diante de Deus com seu pecado? Não sabemos, mas uma hipótese é a de que ninguém gosta de contemplar os próprios erros. Perdão dos pecados passa pelo reconhecimento dos erros. Reconhecer não é só admitir verbalmente. Zaqueu não reconheceu de lábios, ele restituiu quatro vezes mais aqueles à quem fraudou. O salmista ia ter que encarar seus erros, mais uma vez, e isso causava e dor, ia ter que revisitar, restaurar, reconciliar, restituir. No entanto, quando confessamos nossos pecados, todos os nossos pecados, a mão de Deus não pesa mais sobre nós, podemos seguir adiante, somos perdoados de todas as nossas culpas. Faça uma pausa, medite sobre as palavras do verso 5.
- Seja sábio, busque ao Senhor: versos 6–7: se pudéssemos sintetizar em uma expressão os versos seis e sete, seria: não faça o que eu fiz. Não se afoguem na aflição, não se rendam ao sofrimento e não se prendam ao orgulho, estúpido orgulho que insiste me afastar as pessoas, não aproximá-las. Quando você confessa o seu pecado você não recebe um salvo-conduto para a angústia e o sofrimento, ou seja, não significa que você não sofrerá de novo, pelo contrário, você vai encarar a verdade e isso vai te trazer aflições, sensações do passado e do presente que irão te confrontar com o seu erro. É por isso que o salmista afirma que Deus é o seu esconderijo. Faça uma pausa, medite sobre as palavras dos versos 6 a 7.
- A alegria vem do Senhor, ele cuida de nós: versos 8–11: a última estrofe é um convite a reconhecer que Deus é quem guia e cuida. Este cuidado se dá nos conselhos e proteção que ele graciosamente nos dá. Sempre que leio o verso 9, fico com a impressão de que o salmista está dando um chacoalhão na gente: larga a mão de ser uma mula ou um cavalo! Tem que ficar puxando o tempo todo para você voltar para Javé! E creio ser esse mesmo o tom, tanto que no verso 10 ele vai dizer o que acontece com quem é mula ou cavalo: tem muita tristeza. No entanto, aqueles que confiam no Senhor, estes são cercados de amor. Amor de Deus, amor das pessoas ao seu redor. E quem está cercado de amor se alegra, canta, grita de alegria! Faça uma pausa, medite sobre as palavras dos versos 8 a 11.
O que aprendemos com o Salmo 32? A confiança do salmista em Deus se expressa na confissão de seu pecado. Ele confia que o Senhor o perdoará, e que somente pelo perdão ele terá alívio pleno de sua dor. Esta confiança se desdobra na sabedoria que vem de Deus, que é o único capaz de instruir ao seu povo para que vivam conforme sua santa vontade. “Não sejam como o cavalo ou mula”, ou seja, não haja por instinto, sem discernir. Ao confessar a Deus o seu pecado, peça a ele que, com o perdão, derrame confiança e sabedoria sobre sua vida. Mas lembre-se também de confessar seus erros àquele a quem você magoou, pensou mal, fez mau juízo, caluniou. Quando confessamos os nossos pecados e trilhamos o caminho da restauração, restituição e reconciliação, estamos testemunhando aos que têm dificuldade de confessar e reconhecer seus erros. Apresentemos nossos pedidos a Deus, certos de que ele nos ensina sua santa vontade e confiante que seu perdão nos liberta do pecado e da escuridão da ignorância.
O presente texto foi escrito para a aula de Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, em 6 de março de 2021
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O índice é atualizado no artigo da primeira lição.