Das profundezas

Giovanni Alecrim
De casa em casa
Published in
4 min readMay 1, 2021

Salmo Penitencial: Anseio pelo Senhor, mais que as sentinelas anseiam pelo amanhecer

¹Das profundezas do desespero, Senhor,
clamo a ti.
²Escuta minha voz, ó Senhor;
dá ouvidos à minha oração.

³Senhor , se mantivesses um registro de nossos pecados,
quem, ó Senhor, sobreviveria?
⁴Tu, porém, ofereces perdão,
para que aprendamos a te temer.

⁵Espero no Senhor,
sim, espero nele;
em sua palavra, depositei minha esperança.
⁶Anseio pelo Senhor,
mais que as sentinelas anseiam pelo amanhecer;
sim, mais que as sentinelas anseiam pelo amanhecer.

⁷Ó Israel, ponha sua esperança no Senhor;
pois no Senhor há amor
e transbordante redenção.
⁸Ele próprio resgatará Israel
de todos os seus pecados.

Este Salmo pertence a um grupo de Salmos escritos no mesmo estilo literário, ao qual chamamos Salmo Penitencial. Trata-se de um lamento pessoal do salmista referente a uma circunstância específica. No Salmo 130 temos o salmista pedindo a Deus que o livre de sua aflição, causada não por um inimigo, mas sim pelo próprio pecado do salmista. Por esta causa, ele se volta para Deus e pede, mansamente, pelo perdão. Em seus dois últimos versículos, o salmista exorta à nação que deposite sua esperança em Deus. O Salmo 130 é conhecido na história da igreja por suas palavras iniciais no latim: De profundis. Seu vocabulário se aproxima bastante do Salmo 86, no entanto, no 130 temos uma ampliação do conceito de misericórdia, em relação ao 86. Vamos olhar atentamente para cada uma das quatro partes deste salmo e compreender melhor o que ele tem a nos ensinar.

  • Condição: versos 1 e 2: o salmista inicia sua oração reconhecendo sua condição. “Das profundezas” é uma forma figurada de dizer que se está muito angustiado. Nada muito diferente da nossa expressão “profundamente angustiado”. De qual profundeza ele clama? Onde fica tal fosso profundo? De seu desespero e angústia, e de sua alma. É das profundezas que ele clama a Javé e este clamor ecoa pelo restante do salmo: “escuta minha voz”, “Espero no Senhor”, “Anseio pelo Senhor”. Há um abismo de desespero e angústia, e é dele que o salmista clama, pois, tem certeza do perdão
  • Certeza: versos 3 e 4: quem sobreviveria diante de Deus, caso ele mantivesse um registro de nossos pecados? Este versículo vem jogar por terra o conceito de que, no dia do juízo final, nossos pecados serão expostos e passarão diante de nós, como num tribunal inquisitório. Não, nossos pecados não estão registrados, arquivados e com backups na nuvem. O perdão de Deus garante total limpeza dos registros de nosso pecado. Somos lavados pelo sangue de Jesus derramado na cruz para remissão de muitos. É na confiança do perdão que o salmista espera com esperança.
  • Espera: versos 5 e 6: a esperança do salmista não está em situações, soluções mágicas e momentâneas, sua esperança está na palavra de Javé. Esta esperança é firme, pois está fundamentada em Javé, e não no próprio salmista. Nas profundezas de seu desespero, ele anseia pelo Senhor. Ele espera o socorro vir. O exemplo dado pelo salmista é muito rico em imagens para nós. A figura da sentinela, que dá o seu plantão à noite, vigiando, sendo responsável pela segurança da cidade ou acampamento é bastante conhecida do contexto do salmista. As sentinelas aguardam o amanhecer não apenas para entregarem seu turno e irem descansar, mas principalmente porque a escuridão cessa e não há mais as ameças escondidas pela penumbra da noite. O salmista está nas profundezas do desespero, não há luz, não sinal de amanhecer, os perigos e ameaças estão ao seu redor, mas ele anseia pela luz salvadora do alvorecer de Javé em sua vida. Ele reconhece que este alvorecer trará perdão e misericórdia sobre ele.
  • Misericórdia: versos 7 e 8: por que é a Javé que o salmista clama? Porque nele há “amor e transbordante redenção”. Chama-me a atenção o fato do salmista qualificar a redenção como transbordante, vai além da borda, enche e sobra. Deus não nos redime pela metade, a obra da redenção é completa. “Está consumado” é a expressão de Jesus, suas últimas palavras antes da morte, para nos revelar que a graça de Deus transborda sobre nós, nos preenche e atinge tudo ao nosso redor. Por isso o salmista exclama “Ó Israel, ponha sua esperança no Senhor”.

Quero destacar para nós o versículo três, que nos traz uma pergunta “Senhor, se mantivesses um registro de nossos pecados, quem, ó Senhor, sobreviveria?” Você reconhece que em sua vida há muito a ser mudado pela ação do Espírito Santo? Você consegue olhar para sua vida e ver nela a necessidade constante de transformação, para que a obra de Deus seja feita em sua vida? Se Deus se atentasse apenas para os nossos pecados, ou seja, nossos erros, ninguém sobreviveria. No entanto, nosso Deus é misericordioso e com ele está o perdão, para que o temamos. Hoje, ao apresentar diante de Deus seus pedidos de oração, tenha seu coração grato a Deus, pois ele nos perdoa e nos mantém próximos a ele, para podermos orar e clamar por mudança em nossas vidas.

O presente texto foi escrito para a aula de Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, em 1º de maio de 2021

Índice das aulas

O índice é atualizado no artigo da primeira lição.

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Giovanni Alecrim
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