O retorno a Jerusalém
Um conflito religioso e um rei messiânico garantem o retorno dos exilados
Com a morte de Nabucodonosor, o poder da Babilônia declinou rapidamente. Faltava estabilidade interna. Em apenas sete anos, o trono foi ocupado três vezes por diferentes monarcas.[1]
Entre os anos 597–531 a.C. a elite de Judá esteve na Babilônia. Durente esse período, entre 559 e 539 a.C., a Babilônia passou por eventos que culminariam em seu enfraquecimento e futura queda do império. É muito provável que o evento que desencadeou no fim do Império tenha sido de caráter religioso. Um problema interno que, aliado ao contexto internacional, levou à queda do império.
O cenário internacional
Nebôniades se torna rei da Babilônia e, com pouca habilidade política e grande convicção religiosa, prefere dedicar-se ao culto à deusa lunar Sin, o que levou à reação dos sacerdotes do deus Marduk, deus nacional da Babilônia. Para evitar grandes conflitos, ele renuncia ao governo da cidade da Babilônia, deixando seu filho Belsharuçur, o Belsazarde Daniel 5. no governo na cidade.
Enquanto a Babilônia está envolta em problemas internos, os Medos, que viviam a leste do Eufrates (atual parte ocidental do Irã) e eram aliados históricos dos babilônicos contra os assírios. Procurando conter a crescida dos medos, Nabônides procurou alinhar-se com Ciro II, conhecido como Ciro, o Grande. Ciro derrota os Medos e continua sua campanha expansionista, chegando a conquistar a Lídia e colocando em alerta as cidades gregas da Ásia Menor. Ciro, o Grande, passa então de aliado babilônico a ameaça ao reino de Nebôniades. Em 539 a.C. Ciro derrota Nebôniades, que se vê obrigado a fugir. Ciro não se considera um conquistador, mas sim um libertador, visto que se autoproclama um enviado do deus Marduk para libertar a Babilônia.
Depois da conquista da Babilônia, o novo Impero Persa será o mais vasto do Antigo Oriente, estendendo-se do Rio Indo ao Mar Egeu e do Egito aos montes Cáucaso. [2]
Ciro, o Grande
A história é repleta de referências àquele que fez da Pérsia o maior império do Antigo Oriente. Uma breve pesquisa apontará como Ciro como um rei que fez da política de dominação uma oportunidade de se tornar um imperador reconhecido por diversas culturas e religiões como benevolente e solidário. Tal reconhecimento é visto pelo Deutero-Isaías como uma confirmação de que Ciro fora ungido por Javé para dominar sobre toda a região:
É isto que diz o Senhor a Ciro, seu ungido, cuja mão direita ele fortalecerá. Diante dele, reis poderosos ficarão paralisados de medo; os portões de suas fortalezas se abrirão e nunca mais se fecharão. (Isaías 45.1)
É dificil sabermos o quanto da benevolência de Ciro era fruto de um espírito mais humanista, mas o que se sabe é que sua estratégia de tolerância religiosa permitiu a ele poupar os esforços de seu exercito em conter rebeliões.
O retorno
Esdras e Neemias tratam do retorno dos exilados. A julgar pela relação contida em Esdras 2 e Neemias 7, a quantidade dos que voltaram não era muito grande, em face dos que foram. Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século, afirma que grande parte dos hebreus preferiu ficar na Babilônia para não perder as posições que haviam conquistado.
Teologicamente, os exilados se consideram os guardiões dos valores da religião, autores da maioria dos relatos acerca da história de Israel e chamados a reconstruir Jerusalém. A terceira parte do livro de Isaías vai se referir a este período como um momento difícil de construção do templo e reconstituição da sociedade. O templo foi novamente consagrado em 515 a.C., após a pregação de Ageu e Zacarias. Aqui, provavelmente já estão sob domínio de Cambisés, sucessor de Ciro.
O sucessor de Cambissés foi Dario, outro rei de grande importância para a história da Judéia. Após sucessivas guerras internas, Dario se torna rei e nomeia Zorobabel como governador. Zorobabel era israelita, da família de Davi. Diante de tamanha expressão, Ageu chega a profetizar com esperanças messiânicas sobre Zorobabel, que é retirado de cena rapidamente, trocado por outro governador menos expressivo. No entanto, os israelitas haviam aprendido, no exílio, que a verdadeira autoridade sobre eles não era mais a do governo, mas sim dos sacerdotes, a saber, do sumo sacerdote. A vida religiosa passa a tomar conta de todas as instâncias dos israelitas.
Sucessor de Dario, Xerxes recebe o império já entrando numa fase de crise. Xerxes tenta o que Dario não conseguiu na conhecida batalha de Maratona, vencer os gregos e, como seu antecessor, fracassa. Enquanto tentava submeter a Grécia ao seu reinado, Xerxes não viu o Egito se reorganizando para buscar nova independência. Neste período pouco se sabe o que acontecia na Judeia. As informações são mínimas e nem mesmo os textos bíblicos ajudam. Acredita-se ser desse período que os judeus passaram a crer na conversão de todos os povos a Javé, uma espécie de universalismo judaico. Esta relação com outros povos é expressa em dois livros pequenos e de grande significado. Rute nos apresenta a protagonista estrangeira, esposa do israelita Boaz. Jonas nos apresenta o profeta que prega a um povo inimigo histórico de Israel. Em ambos os relatos a mensagem é clara: os pagãos e estrangeiros podem se converter e entrar em relação com o povo eleito.
Conclusão
O retorno dos exilados para Judeia foi fruto de um cenário internacional profundamente alterado num curto espaço de tempo. A ascensão de Ciro o Grande permitiu uma grande onda de retorno dos exilados pela Babilônia.
Os recém chegados enfrentaram anos de dificuldades, provações e insegurança. Eles tinham de começar de novo, numa terra estranha o que, em si mesmo, já era uma tarefa de grande dificuldade. Eles eram atormentados pela inclemência das estações e sofriam perdas parciais de colheitas (Ag 1.9–11, 2.15–17), o que deixou muitos na miséria, sem roupa e sem comida (c. 1.6). seus vizinhos, especialmente a aristocracia de Samaria, que considerava Judá como parte de seu território e se ressentia com qualquer limitação de suas prerrogativas lá, lhe eram abertamente hostis. [1]
[1] BRIGHT, John. História de Israel. Edições Paulinas. São Paulo, SP, 1978
[2] MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017
O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 03 de março de 2020
Índice das aulas
O índice é atualizado no artigo da primeira lição.