​Os Macabeus

Giovanni Alecrim
De casa em casa
Published in
4 min readMar 31, 2021

Os judeus voltam a governar por conta própria

Os dois livros dos Macabeus insistem sobremaneira sobre as motivações religiosas que animavam estes movimentos de oposição à política selêucida, motivações claramente resumidas nas palavras que o autor de 1Mc coloca na boca de Matias, considerado o fundador da revolta: Ainda que todas as nações que se encontram na esfera do domínio do rei lhe obedeçam, abandonando cada uma o culto dos seus antepassados e conformando-se às ordens reais, eu, meus filhos e meus irmãos continuaremos a seguir a Aliança dos nossos pais. Deus nos livre de abandonar a Lei e as tradições. Não daremos ouvido às palavras do rei, desviando-nos de nosso culto para a direita ou para a esquerda (1Mc 2,19–22).¹

A obra de helenização por parte de Antíoco IV, o Epifanes, encontrou oposição nos judeus mais fiéis às tradições. Os “hasidim”, piedosos, foram formados a partir da junção de pequenos grupos de oposição que estavam espalhados em Jerusalém. Os mais conhecidos fariseus pertenciam aos “hasidim”. As tensões são evidentes e se acentuam ainda mais quando Jerusalém passa ao status de polis, uma cidade grega com estatuto igual às demais. Com isto, a cidadania, que antes era determinada pela circuncisão, observância do sábado e outras leis da Torá, agora é determinada pelo censo e a posição social da pessoa. As classes mais ricas são favorecidas, os nobres, sacerdotes e proprietários de terra formam uma elite poderosa, enquanto o povo, bem, o povo continua sendo oprimido.

Matias Macabeu

Este cenário cria um clima de revolta entre o povo. O sacerdote Matias, contrário à helenização, é exilado em Modim, pequeno vilarejo distante 25 km de Jerusalém. Ele se rebela contra a imposição de adoração aos deuses gregos e, com seus filhos, fica foragido. Junto a eles, algumas famílias que já estavam dispostas a se rebelarem.

Judas Macabeu

É do meio deste povo que Judas Macabeu, filho de Matias, se destaca dos demais. Carismático, ele consegue agrupar em torno de si os diversos movimentos rebeldes. Quando lemos os livros de Primeiro e Segundo Macabeus somos levados por uma narrativa épica. O sucesso de Judas Macabeu se dá por ele evitar um confronto direto com o exército selêucida. Se batesse de frente, seria facilmente derrotado. Ao invés disso, Judas Macabeu adota táticas de guerrilhas. Com ações pontuais e sempre bem elaboradas, previamente seguras de que eles teriam a superioridade. Os selêucidas foram surpreendidos. Antíoco IV estava mais ao oriente, envolvido em uma campanha militar. Com o contingente inimigo reduzido, as táticas bem elaboradas, as motivações religiosas tradicionais e uma boa estratégia de convencimento de Judas Macabeu levaram os rebeldes a atingir o sucesso num curto espaço de tempo. Em dezembro de 164 a.C. Judas Macabeu conquista Jerusalém, exceto a fortaleza de Acra. Como primeiro ato, em 25 de Casleu (18 de dezembro) de 164 a.C., ele reconsagra o Templo e restabelece o culto. Apenas a título de curiosidade, ainda hoje os judeus celebram tal feito na Festa de Hanukká. Segundo o relato de João 10.22, é bem provável que Jesus de Nazaré a tenha celebrado: Era inverno, e Jesus estava em Jerusalém na celebração da Festa da Dedicação. (João 10.22).

No mesmo ano que Judas Macabeu conquista Jerusalém, Antíoco IV morre na frente de batalha. Antíoco V assume o trono e concede a Judá um edito de tolerância para os judeus. Neste meio tempo o embate para a sucessão do cargo de sumo sacerdote se reacende. Demétrio I, sucessor de Antíoco V, envia como sumo sacerdote Alcimo, de tendência helenizante, porém, da casa de Aarão. Tal nomeação dividiu ainda mais os judeus, inclusive os macabeus. Aproveitando tal situação interna, Demétrio I volta às políticas de Antíoco IV e intensifica a repressão aos judeus. Em 161 a.C., em um combate contra as tropas de Demétrio I, Judas Macabeu morre.

Jônatas Macabeus

Jônatas Macabeu assume a liderança da resistência dos macabeus. Em 152 ele firma um acordo com Alexandre Balas, pretendente ao trono selêucida, e consegue ser nomeado sumo sacerdote e ainda recebe uma declaração de autonomia quase que total da Judeia. Jônatas foi o primeiro a cunhar moedas com seu nome, sinal de uma independência quase efetiva para os judeus. O fato de um Macabeu ter sido nomeado sumo sacerdote fez com que os judeus mais tradicionais se afastassem e se ressentissem do movimento. Como vimos antes, era tradição que o sumo sacerdote fosse da família dos sadocitas. Em 143 a.C. Jônatas é assassinado em uma armadilha. Após maquinar com mais um sucessor ao trono selêucida, fazer acordo com espartanos e romanos, ele cai numa emboscada.

Simão Macabeu

Com a morte de Jônatas, chega ao poder Simão Macabeu, mantendo o encardo de sumo sacerdote e recebendo de Demétrio II o reconhecimento de “sumo sacerdote insigne, estratego e chefe dos judeus”. Assim, o movimento macabeu se beneficia das dificuldades internas dos selêucidas e Simão passa a concentrar o maior poder que os macabeus tiveram, até então, em suas mãos: poderes civis, religioso e militar. Enfim a Judeia estava independente novamente. Em 143 a.C. Simão é assassinado por um parente seu. Com a morte de Simão Macabeu, encerra-se a narrativa dos livros de Primeira e Segunda Macabeus.

Conclusão

O movimento macabeu nasceu do desejo de revolta e resistência contra o processo de helenização e o domínio por parte dos selêucidas. Como todo movimento, nasce utópico e idealista e termina rendido às motivações políticas e jogos de poder. O sucessor de Simão Macabeu vai dar início a uma dinastia, a primeira desde a volta do exílio na Babilônia. João Hircano I vai dar início a dinastia asmoneia.

¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017

O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 31 de março de 2021

Índice das aulas

O índice é atualizado no artigo da primeira lição.

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