Os romanos chegaram
E com eles Herodes, o Grande
Ao longo desses anos, os acontecimentos na Palestina estão intrinsecamente ligados aos de Roma, particularmente à luta pelo poder entre Pompeu, morto no Egito em 48 a.C., e Júlio César e, após a morte deste último em 44 a.C., à luta entre Otaviano e Antônio que se encerrará na Batalha de Ácio em 31 a.C., da qual Otaviano saiu vencedor e tornou-se, assim, o primeiro imperador, assumindo em 27 a.C. o título divino de Augusto.¹
A judeia, imersa em um conflito interno pela sucessão e Alexandra Salomé, vê um dos pretendentes recorrer à Roma para apaziguar a situação. Em 63 a.C. Pompeu entra em Jerusalém, de portões abertos e em três meses resolve a situação interna. Aristóbulo, derrotado e preso, foi exilado em Roma. Hircano II assume como sumo sacerdote. Com a Judeia sob sua mão, Pompeu redimensiona o poder da dinastia asmoneia. Samaria ganha independência e as cidades gregas da Transjordânia são reunidas em uma confederação chamada Decápole (dez cidades), nome citado em Mateus 4.25, quando o evangelista a cita entre as regiões de onde afluíam pessoas para seguir Jesus. Feitas as divisões, restam nas mãos de Hircano II a Judeia, Idumeia, Pereia e parte da galileia. De um reino com grande independente, Judá passou a um estado vassalo de Roma.
O cenário na Palestina, neste período, se tornará irrelevante e sofrerá as consequências da guerra pelo poder em Roma. Primeiro entre Pompeu, morto em 48 a.C., e Júlio César, morto em 44 a.C. Em seguida, outra luta entre Otaviano e Antônio, que se encerra na Batalha de Ácio em 31 a.C., tendo Otaviano como vencedor e se tornando IMPERATOR, o primeiro imperador romano, assumindo em 27 a.C. o título de AUGUSTUS, passando para história como GAIUS IULIUS CAESAR OCTAVIANUS AUGUSTUS, IMPERATOR ROMANORUM.
Na Palestina, Hircano II consegue conservar seu poder tomando partido ao lado de Julio César contra Pompeu. Aliado a Hircano II aparece Antipas, governador da Idumeia, que recebe de César a nomeação de governador da Judeia, enquanto Hircano II continua como sumo sacerdote e etnarca (líder de uma determinada etnia). É neste momento que, independente de quem governe a região, o sumo sacerdote concentra em suas mãos poder religioso e político sobre os judeus. Em 37 a.C. assume como governador o filho de Antipas, Herodes, nomeado por Antônio.
Herodes, o Grande
É no reinado de Herodes Antipas na Palestina que acontece a invasão dos partos, povo do Oriente, apoiado por Antígono, filho do exilado Aristóbulo, com intuito de retomar o poder. Chegam a conquistar Jerusalém e fazer Hircano II prisioneiro, cortando-lhe uma de suas orelhas, fazendo com que ele não pudesse mais ocupar o cargo de sumo sacerdote, que exigia integridade física (Levítico 21.16–23). Apoiado por Roma, Herodes derrota os partos e mata Antígono, o último dos asmoneus. Neste período Otaviano chega ao poder em Roma e Herodes, habilidoso, declara submissão ao imperador, recebendo dele a ampliação de seu território.
Nos primeiros anos de seu reinado, Herodes promove uma caçada aos seus opositores e possíveis opositores. Membros do sinédrio, Mariamne, sua esposa, os filhos Alexandre e Aristóbulo, e mais tarde o primogênito Antípatro. Um tirano, desconfiado, capaz de eliminar a própria família para satisfazer sua sede de poder. Ninguém podia lhe fazer sombra na região. Não à toa o historiador Flávio Josefo faz referências profundamente negativas a ele. Historiadores modernos o classificam como psicopata e, diante do que narra a história, percebemos que o evento da chacina dos inocentes, noquando do nascimento de Jesus, é apenas uma das faces tiranas de Herodes.
Tirano, Herodes revela-se, portanto um político muito habilidoso. Aumenta suas riquezas e poder com uma forte política fiscal. Seu projeto ambicioso reergueu a cidade de Samaria, reconstruiu a torre de Straton, cidade localizada às margens do Mar Mediterrâneo, mudando seu nome para Cesareia Marítima, assim nomeada em homenagem ao imperador. Em Cesareia Marítima se estabelecerá, mais tarde, a sede do procurador romano e administrador imperial. Além das cidades, ergueu fortalezas como as de Belém, Masqueronte e Massada, palácios, como a Fortaleza Antônia em Jerusalém, onde também ergueu torres — uma das quais resiste até hoje, e um anfiteatro, e um hipódromo. Sua obra mais importante é, sem dúvida, a ampliação do Templo de Jerusalém. Iniciada em 19 a.C., se estendeu pelos dias de Jesus (lembremos de João 2.20) e só foi concluída em 63 d.C., sete anos antes de sua destruição completa pelas tropas romanas.
Conclusão
O reinado de Herodes foi politicamente seguro e economicamente estável, mas isto não lhe rendeu apoio popular. Sendo ele idumeu, os judeus o olhavam com profundo desprezo e desconfiança. Governava um povo de maioria judia, permeado por gregos e povos de outras culturas e religiões. Tentou ganhar a confiança dos judeus ampliando o Templo, observando formalmente a Lei mosaica e apoiando a causa dos judeus da diáspora. Profundamente conformado com os costumes políticos e religiosos do Império, Herodes imprimiu sua marca única na região. Concentrou poder, ergueu edifícios, templos pagãos, construiu cidades e valorizou intensamente a cultura greco-romana na Palestina. Dois de seus filhos foram enviados a Roma para estudar. Todo esse apreço aos romanos tinha um preço alto internamente: oposição. Movimentos, partidos e correntes ideológicas que se levantavam contra o Império. Esse é o assunto da nossa próxima aula.
¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017
O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 28 de abril de 2021
Índice das aulas
O índice é atualizado no artigo da primeira lição.