Os Selêucidas
Deus revelado ou um louco no poder?

…a judeia prontamente declarou sua submissão e, em troca, os selêucidas lhe mantiveram o estatuto de autonomia interna, do qual já gozavam sob o domínio ptolomaico, além de uma série de importantes privilégios fiscais.¹
Depois de um século de dominação ptolomaica a judeia é tomada por Antíoco III, selêucida governador da Síria. Não apenas a judeia, mas toda a Palestina é tomada das mãos dos Ptolomeus. Assírios, Babilônios, Persas e Gregos dominaram a região. Com os gregos, no entanto, aconteceu um fato interessante, digno de nota. Com a morte de Alexandre, o Grande, e a divisão dos territórios pelos generais, a Grécia se esfacelou em seu poderio militar e político. Não é de se estranhar que Ptolomeus e Selêucidas tenham guerreado pela Palestina. Isso custará, como veremos mais adiante, a queda do domínio helênico na região. A Palestina agora muda de mãos, sem mudar de cultura, pois é a mesma matriz cultural que vai dominar a região, nas mãos de um novo governante, Antíoco III, que chegou a receber ajuda dos judeus para expulsar os invasores Ptolomeus. Flávio Josefo, historiador judeu do Século I, chega a registrar que Antíoco III enviara uma carta para agradecer o apoio judeu e garantir alguns privilégios para a região.
A influência helênica é cada vez mais constante na região. Apesar do apoio dos judeus a Antíoco III, a reação a uma cultura diferente da sua, sem possibilidades de diálogo sem ser a longo prazo, faz com que os judeus mais tradicionais reajam. É desse período, por exemplo, a norma que proíbe a entrada de estrangeiros no Templo e também a norma que proíbe a criação e comercialização de animais considerados impuros em Jerusalém. Todos esses movimentos são o que é possível ser feito para se conter o avanço da cultura helênica na Palestina, que já influenciava uma parte das classes mais ricas e até mesmo os sacerdotes.
A expansão ao sul, tomando a Palestina, não representa necessariamente o empoderamento dos selêucidas. Nessa mesma época um novo personagem entra no cenário internacional da região e começa a expansão de um novo império: Roma. Filipe V o Macedônio foi vencido pelos romanos três anos após a tomada da judeia pelos selêucidas, em 197 a.C. Em 190 a.C. é a vez de Antíoco III sucumbir diante das legiões romanas comandadas por Cipião, o Africano. O tratado de Paz de Apameia, em 188 a.C., impõe a Antíoco III a cessão de toda a região da Ásia Menor e o tributo de 12 mil talentos. Tamanha perda levou os selêucidas para perto da falência. Isso se reflete imediatamente na judeia.
Antíoco III morre em 187 a.C. e seu sucessor, Seleuco IV, procurou salvar o reino das condições desastrosas em que se encontrava. Dentre as medidas tomadas, o saque dos templos, dentre eles, o de Jerusalém. Para Seleuco IV, algo natural, pois ele se considerava no direito, no entanto, 2 Macabeus 3 registra que sua atitude levou a uma intervenção divina na causa.
Seleuco IV foi sucedido por Antíoco IV, que se intitulou Epifanès, que em grego significa “deus revelado”. No entanto, sua fama entre o povo era de Antíoco Epimanès, que em grego significa “o louco”. Apelido que revela bem sua personalidade. É desse período a composição do Livro da Sirácida, conhecido pelo nome de Eclesiástico, de autoria de Jesus Ben Sirac, escriba de Jerusalém. Dentre os muitos ensinamentos, há uma oração no capítulo 36 que pode muito bem ser aplicada ao período de dominação de Antíoco Epifanès: Levanta a tua mão contra as nações estrangeiras, que elas vejam a tua potência.
Sob domínio de Antíoco Epifanès a situação na judeia piora ainda mais. Mas antes das questões se agravarem, Antíoco se aproveita de seu poder em nomear o sumo sacerdote para vender o posto a Jasão, um judeu de família sacerdotal influenciados pela cultura helênica. É com apoio da classe sacerdotal que Jasão procura helenizar Jerusalém: constrói uma praça de esportes e envia jovens hebreus aos jogos de Tiro: ¹⁸Quando eram celebrados em Tiro os jogos quinquenais com a presença do rei, ¹⁹o torpe Jasão mandou, como espectadores, alguns antioquenos de Jerusalém, levando consigo trezentas dracmas de prata para o sacrifício em honra de Hércules. Os portadores julgaram, porém, não ser conveniente empregá-las para o sacrifício, mas destiná-las para uma outra despesa. (2 Macabeus 4.18–19)
Conclusão
Jasão não permanece muito tempo à frente da judeia. Por volta de 172 a.C. Menelau oferece 300 talentos a Antíoco Epifanès para assumir como sumo sacerdote. Jasão é deposto e, para conter qualquer rebelião, Menelau mata o último sacerdote legítimo, Onias III, que havia sido deposto por Jasão, de quem era irmão. É nesse contexto corrupto que Antíoco Epifanès sai em guerra contra o Egito. No entanto, ele é interrompido pelo ultimatum de Roma. É a partir desse momento que a relação entre Antíoco Epifanès e os judeus se torna cada vez mais tensa.
¹MAZZINGHI, Luca. História de Israel: das origens ao período romano. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 2017
O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 3 de março de 2021
Índice das aulas
O índice é atualizado no artigo da primeira lição.