Quando a resposta não vem

Giovanni Alecrim
De casa em casa
Published in
4 min readJun 10, 2021

Paulo pede ajuda de Deus

⁸Em três ocasiões, supliquei ao Senhor que o removesse, ⁹mas ele disse: “Minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza”. Portanto, agora fico feliz de me orgulhar de minhas fraquezas, para que o poder de Deus opere por meu intermédio. (2 Coríntios 12.8–9)

Paulo orou, por três vezes, pedindo a Deus que removesse dele algo que o perturbava. Incomodava tanto que ele o chama de “espinho na carne”, ou seja, ele está ali, presente, incomodando. A resposta à oração de Paulo é uma das sentenças mais preciosas do cristianismo: minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza.

O espinho na carne é um dos grandes mistérios. Os leitores mais atentos tentam procurar respostas para ele, querendo saber do que se trata. Segundo o teólogo belga radicado no Brasil, o saudoso José Comblin¹, estima-se que existam mais de 150 interpretações diferentes do que seria o espinho na carne. O próprio Comblin propõe agrupar as interpretações em três grandes grupos:

  1. O primeiro grupo é fundamentado em interpretações da Idade Média e de alguns autores modernos que sugerem um tormento ou angústia interna, tentações sexuais, sentimento de culpa, atração pelo pecado. Todas são subjetivas e não encontram muito respaldo na bibliografia cristã e nem no próprio texto bíblico.
  2. O segundo grupo é fundamentado em interpretações de teólogos como Tertuliano, Jerônimo, Pelágio e Primásio, que sugerem uma doença física ou mental, sem determinar o tipo de doença, o que seria muito difícil com o que se tem em mãos hoje. Os argumentos elencados por eles para apontar como sendo doença física ou mental são: a. O sentido imediato das palavras espinho na carne, indicando um sofrimento visível e palpável. b. O fato de doenças serem frequentemente atribuídas a demônios e particularmente a Satanás. c. A alusão de Paulo a uma doença em Gálatas 4.13: e certamente se lembram de que eu estava doente quando lhes anunciei as boas-novas pela primeira vez. d. A comparação entre os dados aqui narrados e as expressões helenísticas de curas milagrosas
  3. O terceiro grupo é fundamentado em interpretações de teólogos como Crisóstomo, Agostinho, Teodoreto e outros Padres, que sugerem algo relacionado a perseguições. Os argumentos apresentados por eles são: a. Satanás, sendo o autor do espinho na carne, pode agir por um grupo de pessoas. b. O termo “atormentado” ou “esbofeteado” usado em 2 Coríntios 12.7 é usado no mesmo sentido em 1 Coríntios 4.11 em referência à perseguição sofrida pelo apóstolo. c. Na Septuaginta a expressão “espinho” é usada para designar, metaforicamente, os inimigos de Israel, como em Ezequiel 28.24. d. A “carne” pode ser entendida no sentido da existência humana total, como em Filipenses 1.24. e. O contexto de 2 Coríntios 12 fala de seguidamente de perseguição.

Três veze Paulo pediu que Jesus retirasse dele este espinho. Ele pede diretamente a Jesus, não ao Pai. Por que três vezes? Este número é frequente nas narrativas de milagres, mas também pode indicar o hábito dos judeus da prática da oração três vezes por dia. A resposta de Jesus vem em forma de oráculo divino. Precisamos lembrar que é o Jesus ressurreto quem responde a Paulo. O poder de Deus se manifesta na fraqueza humana. A graça de Deus é a força do apóstolo. Pela força da graça ele evangeliza e planta igrejas. Ele não precisa de um bem-estar físico ou mental. O poder de Deus não se manifesta segundo as condições ideais para o ser humano, mas sim em sua fraqueza. Ao apontar para a graça, Jesus diz a Paulo que sua fraqueza não deve ser motivo de tristeza, mas de alegria, porque a força de Deus está com ele.

O que aprendemos deste episódio? Orar é a maneira como nos relacionamos com Deus, é como conversamos com ele. Isto não significa que ele nos responderá como queremos, e no tempo que queremos. Com certeza você vive uma situação que gostaria de ver resolvida rapidamente, ou que gostaria de não viver. No entanto, nem sempre podemos nos ver livres dela. Por quê? A resposta é simples: meu poder opera melhor na fraqueza. Quando a resposta não vem, ou não é a que nós gostaríamos, precisamos compreender os propósitos de Deus e entender que a graça dele é suficiente para nós. Quando oramos, pedimos que ele mude as circunstâncias de nossas vidas. Oremos pedindo também que ele nos prepare para viver e compreender sua graça, que é sem medida e que é mais que suficiente para vivermos.

¹COMBLIN, José. Comentário Bíblico: Segunda epístola aos coríntios. Editora Vozes, Imprensa Metodista e Editora Sinodal. Petrópolis, 1991.

O presente texto foi escrito para a aula de Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, em 10 de junho de 2021

Índice das aulas

O índice é atualizado no artigo da primeira lição.

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Giovanni Alecrim
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