Sabedoria
Salomão pede sabedoria
⁶Salomão respondeu: “Tu mostraste grande amor leal ao teu servo, meu pai, Davi, pois ele foi fiel, justo e verdadeiro diante de ti. Agora, continuaste a mostrar teu grande amor leal dando-lhe um filho para sentar-se em seu trono.
⁷“Agora, ó Senhor, meu Deus, tu me fizeste reinar em lugar de meu pai, Davi, mas sou como uma criança pequena que não sabe o que fazer. ⁸Aqui estou, no meio do teu povo escolhido, uma nação tão grande e numerosa que nem se pode contar! ⁹Dá a teu servo um coração compreensivo, para que eu possa governar bem o teu povo e saber a diferença entre o certo e o errado. Pois quem é capaz de governar sozinho este teu grande povo?”.
¹⁰O Senhor se agradou do pedido de Salomão. ¹¹Por isso, Deus respondeu: “Uma vez que você pediu sabedoria para governar meu povo com justiça, e não vida longa, nem riqueza, nem a morte de seus inimigos, ¹²atenderei a seu pedido. Eu lhe darei um coração sábio e compassivo, como ninguém teve nem jamais terá. ¹³Também lhe darei o que não pediu: riquezas e fama. Nenhum outro rei em todo o mundo se comparará a você pelo resto de sua vida. ¹⁴E, se você me seguir e obedecer a meus decretos e mandamentos, como fez seu pai, Davi, eu lhe darei vida longa”. (1 Reis 3.6–14)
Davi reinou de 1010–970 a.C. Em 970 a.C. Salomão assume o trono, reinando por cerca de quarenta anos. Um tempo de consolidação e expansão do Reino de Deus. Salomão era um tido como um homem de paz, o que aliás, é o significado de seu nome. O que é bastante interessante pensarmos nisto, pois ele é filho de Bate-Seba, portanto, nasceu em um contexto e fruto de uma situação nada pacífica. Salomão foi quem conduziu Israel ao auge, mas legou à nação a derrocada de uma dinastia. Ele era o décimo filho de Davi, portanto, longe demais do trono. Ainda por cima, era filho de Bate-Seba, a mulher com quem Davi cometera adultério e mandara matar o marido. Na linha de sucessão, Salomão sequer era contado. No entanto, é para ele que vai o trono, segundo promessa de Davi. Adonias, primeiro na linha de sucessão, vendo que seu pai estava doente, decide se autoproclamar rei e dar um banquete, “Mas o sacerdote Zadoque, Benaia, filho de Joiada, o profeta Natã, Simei, Reí e a guarda pessoal de Davi se recusaram a apoiar Adonias”. (1 Reis 1.8). Bate-Seba e Natã comunicam Davi, que proclama Salomão rei. Após a morte do pai, Adonias tenta mais uma vez tomar o trono, mas Salomão tom a frente e executa todos os que se opuseram a ele e apoiaram seu irmão. No relato de 1 Reis 1–3, temos essa história com mais detalhes e, como é de se imaginar, escrita bem depois dos fatos ocorridos. Ao final de tudo, Salomão recebe a aprovação divina durante a noite passada no santuário de Gabaon (Gibeon). O que temos, nos três capítulos, é a legitimação teológica da subida de Salomão ao trono. Se Davi, seu pai, foi o rei que fez nascer Israel enquanto reino e nação, a Salomão coube a consolidação das instituições.
É nesse contexto que temos a pergunta de Javé e a resposta de Salomão em forma de oração. Vamos a ela:
- Verso 6 — Continuidade: Salomão começa sua resposta falando da bênção de Javé sobre a vida de seu pai, Davi, que se reflete na sucessão do trono. A forma como o cronista narra essa passagem visa validar divinamente a chegada de Salomão ao trono, mostrando uma imagem humilde do rei, que responde à ordem de Javé, “Pedes o que tu queres e eu lhe darei”, pedindo sabedoria e não glória e poder
- Verso 7 e 8 — Reconhecimento: Salomão reconhece sua pequenez diante da grandeza da missão à sua frente. Por estar distante da linha de sucessão, é provável que ele não tenha se inteirado de todo o processo que é ser rei, o que aliás, era meio que uma novidade para todos ali.
- Verso 9 — Petição: Salomão pede um coração compreensivo, capaz de discernir entre o certo e errado. Mais uma vez ele relata sua incapacidade diante da missão à sua frente.
A fama de Salomão como um rei sábio é bastante difundida no meio cristão. Toda a sabedoria atribuída a Salomão tem um profundo contraste com sua atuação como rei de Israel. Se tomarmos por base Provérbios 1.7, que diz que “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os tolos desprezam a sabedoria e a disciplina”, fica difícil dizer que Salomão foi um rei sábio, pois ele se casou com várias mulheres para conseguir uma paz de Estado, cultuou os deuses de suas esposas e construiu para eles locais de culto, não soube administrar sua casa com o fim de deixar um herdeiro consolidado para o trono e ainda não ouviu seu povo quanto às queixa a respeito dos impostos, serviços forçados e a divisão dos distritos. Teria sido Salomão de fato um sábio? Não foi com pouca sabedoria que o reino se consolidou, no entanto, assim como seu pai foi o homem segundo o coração de Deus, mas cometeu assassinatos, foi conivente com o estupro de uma de suas filhas, cometido por um de seus irmãos, entre outras falhas importantes registradas na Bíblia.
O texto de 1Reis relata que Salomão amava ao Senhor e andava nos preceitos de seu pai, Davi. Um dia, Salomão fora até Gabaon (Gibeon), para lá oferecer sacrifícios ao Senhor. É em Gabaon (Gibeon) que o Senhor lhe aparece em sonhos e diz para pedir o que quisesse, pois o Senhor lhe daria. Salomão responde com a oração de 1 Reis 3, pedindo sabedoria. Diante de uma oportunidade como a de Salomão muitos seriam tentados a pedir riquezas, poder e glória. Salomão pede sabedoria. Com a sabedoria é possível discernir o que é justo e o que é injusto, o que é ou não vontade de Deus. Rei do povo de Deus, Salomão pede corretamente por sabedoria, pois sabia bem que não seria tarefa fácil comandar o povo que pertence ao Senhor. Em resposta ao seu pedido, Deus lhe concede não só sabedoria, mas também riquezas e reconhecimento de seus feitos, tudo sob a condicional de “se você me seguir e obedecer a meus decretos e mandamentos”. Quando oramos, precisamos ter em mente que a sabedoria que precisamos vem de Deus. Ele sabe o que é melhor para nós e não podemos abrir mão da sabedoria de Deus. Ela é essencial para seguirmos adiante em nossas vidas. Ao apresentar seus pedidos diante de Deus, peça também por sabedoria, para que ele nos revele como agir e como ser instrumento para a execução de seus milagres em nossas vidas.
O presente texto foi escrito para a aula de Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, em 10 de janeiro de 2021
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O índice é atualizado no artigo da primeira lição.