Ela sabe o que diz: Luanna Esteves

De uma para todas
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4 min readMay 24, 2020

Na primeira publicação da editoria de Entrevistas do De uma para todas, um bate papo com a Jornalista e produtora audiovisual Luanna Esteves sobre a sua trajetória no jornalismo, a importância da profissão e o machismo na área da comunicação.

  1. Antes de tudo, o que te levou a escolher o jornalismo como profissão?

Desde criança gostava de me comunicar e de me interagir com as pessoas. Também era muito curiosa. Na época do vestibular, já sabendo que iria para a área de Humanas, por eliminação caí no Jornalismo e hoje não me vejo trabalhando com outra coisa que não seja produção de conteúdo. Sempre trabalhei nessa área de entretenimento e cultura, nunca fui do hard news.

2. Hoje, você é muito conhecida pelo público capixaba por ser a apresentadora do “Em Movimento”, na TV Gazeta. Como foi a sua trajetória até chegar a uma das emissoras mais importantes do estado?

Me formei na UFES e desde aquela época sempre trabalhei na parte cultural. Participei da Rádio Universitária quando ainda era estudante, e depois que me formei trabalhei mais um ano lá, em um programa sobre música brasileira chamado “Tardes Infinitas”, que era uma multiplataforma em que também trabalhávamos na produção de eventos. Depois disso abri uma produtora audiovisual, onde realizamos a produção de conteúdos autorais, com uma visão mais crítica. Mantive a produtora por 4 anos, trabalhando com campanhas publicitárias, políticas, webseries e conteúdos mais voltados para a internet e instituições. Nesse período comecei a me interessar mais pela televisão. Fui trabalhar na A Tribuna, em um programa chamado “Ponto Cult”, onde comecei como produtora e depois virei apresentadora. Um tempo depois o programa acabou e fui despedida. Enquanto isso, eu ainda estava trabalhando com a produtora e comecei a pegar trabalhos no ramo do cinema. Produzi um filme, um curta e depois um documentário. Também comecei a trabalhar com mostras de cinema no interior do estado e, no meio disso tudo, me chamaram para o “Em Movimento”. Lá estou há 2 anos, mas mantenho esse trabalho paralelo à produção de eventos. Então, apesar de ser jornalista de formação, também trabalho com produção de eventos.

3. Você sentiu alguma dificuldade em ingressar no mercado de trabalho jornalístico por ser mulher?

Por ser do jornalismo cultural e, principalmente, do entretenimento, geralmente procuram mulheres para atuar nessa área. Sou uma mulher padrão. Branca e magra. Então, infelizmente, é mais fácil. O preconceito ele existe por essa diferenciação de tratamento.

4. As mulheres hoje são a maioria na área do jornalismo. Mesmo assim, é nítido que o gênero ainda é uma barreira que resulta em casos de assédio, diferença salarial e na falta de mulheres em cargos de maior importância e prestígio. Na sua opinião, qual o impacto do machismo no jornalismo e a importância da representatividade feminina na profissão?

Realmente somos maioria. Mas, principalmente se tratando de tv, por ser um viés do jornalismo em que se utiliza muito a imagem, eu acho que a figura feminina padrão ainda é muito utilizada como isca. Mas isso também é utilizado para os homens, na figura do “homem padrão, bonitão e galante que atrai os olhares junto com a informação”. Já dentro dos bastidores, nota-se um processo de transição. Estamos percebendo cada vez mais mulheres ocupando cargos, apesar de ainda não ser uma realidade, pois em todos os lugares que conheço as funções de chefia ainda são de homens. Então isso ainda não aconteceu, apesar de já notarmos alguns movimentos para essa transformação. E, por estar nesse período de transição, percebo que o pensamento machista está tão enraizado, que algumas mulheres ainda possuem essa visão de que somente o homem pode ter esse lugar de credibilidade.

5. Quem são a suas referências de jornalismo feminino no Brasil?

Gosto muito da Mari Palma, que agora está na CNN. Ela é uma referência no que diz respeito à sensibilidade, à uma linguagem menos dura e mais acessível. Acho que ela fala com verdade, se coloca nas coisas e isso chega nas pessoas. Ela também usa um tom mais atual e mais jovial de falar informação. Outra pessoa que sou mega fã é a Jessica Senra. Ela é baiana e apresenta o BATV, lá de Salvador. Ela é um espetáculo, uma mulher fortíssima que se posiciona muito. Apesar de fazer hard news, ela tem um sorriso e consegue passar informação de forma muito leve e didática, além de se posicionar com firmeza e intensidade, principalmente em assuntos relacionados à mulher, como feminicídio. Ela é uma super inspiração.

6. Nos últimos anos tem se tornado cada vez mais nítido a desvalorização da atividade jornalística. Com o fenômeno das fake news e os intensos ataques à imprensa por parte da sociedade e até mesmo de governantes, qual é a importância e a principal função do jornalismo neste momento?

Fake news se combate com informações verdadeiras. E mais do que nunca é necessário o trabalho de apuração do jornalista e de uma curadoria das coisas. Então, apesar dos ataques, percebo que esse é o momento do jornalismo, pois as pessoas precisam de um norte e o jornalista é essa pessoa que está aqui para te orientar a navegar.

7. Por último, quais são os seus conselhos para as mulheres que querem construir uma carreira na área do jornalismo?

Meu conselho é CORAGEM. Temos que ter a coragem de ser quem a gente é, a coragem de se mostrar transparente, para que as pessoas saibam em quem confiar. Coragem em todos os sentidos. Acho que esse é o principal conselho e é a necessidade da nossa profissão.

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