Mulheres no Audiovisual Brasileiro

Mariana Guedes
De uma para todas
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3 min readJun 19, 2020

Aumento da participação das mulheres no cinema nacional é significativo, mas ainda deixa a desejar

Petra Costa, indicada ao Oscar pelo documentário “Democracia em Vertigem” (2019) Foto:Reprodução/Facebook

Por Mariana Guedes

Em 19 de junho comemora-se o Dia do Cinema Brasileiro. Em celebração à essa data, o De uma para todas dedica essa reportagem às mulheres que estão inseridas no mercado do audiovisual e resistem pela conquista de espaço na profissão. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), entre os anos de 2007 e 2015 a representação feminina era de 40% no setor e elas chegaram a receber em média 13% a menos que os homens.

Pioneiras que fizeram história:

O primeiro longa-metragem dirigido por uma brasileira foi “O Mistério do Dominó Preto”, em 1931, durante o período final do cinema mudo. Além de produzir o filme, Cléo de Verberena, nome artístico de Jacyra Martins da Silveira, também atuou como protagonista da trama policial. Ela fundou, junto a seu marido, a produtora Epica-Film.

Anos mais tarde, por volta de 1960, inicia-se a fase do Cinema Novo, caracterizada pela ênfase na igualdade social e pelo intelectualismo, em contrapartida ao movimento anterior, das chanchadas, nas quais predominavam o humor de caráter popular. A cineasta Helena Solberg dirigiu, em 1966, o documentário “A Entrevista” cuja abordagem era centrada nos relatos de mulheres da burguesia carioca sobre casamento, sexo e política. Ela é reconhecida como a única mulher a se destacar no Cinema Novo.

Outra pioneira que ficou marcada na história do audiovisual brasileiro foi Adélia Sampaio, primeira mulher negra a dirigir um longa metragem, “Amor Maldito”, em 1984. Esse filme estreou na fase final da Ditadura Militar, marcada ainda pelo conservadorismo político e social. Pelo fato de abordar como tema central um romance entre duas mulheres, a Embrafilme (empresa que regulava as políticas públicas e incentivos financeiros para a produção e circulação dos filmes nacionais) chegou a reduzir o orçamento da produção à zero, porque, segundo a organização, não compactuava com uma obra que fizesse panfletagem de uma “doença”.

Adélia Sampaio na gravação do longa “Amor Maldito”

Segundo a Ancine, no ano de 2017, a participação feminina no mercado cinematográfico brasileiro foi de 16%, enquanto os homens cineastas ocuparam 77% das funções (os outros 7% correspondem à produções mistas). A fotógrafa e assistente de direção, Karolina Coube, relata que já vivenciou diversas situações machistas na profissão: “Eu já participei de uma entrevista de emprego na qual dois homens ficavam repetidamente me explicando como fazer a função, perguntando se eu sabia que [o equipamento] era pesado, mesmo já tendo anos de experiência na área”. Ela diz que essas situações desanimam e abalam bastante o emocional. “Nós temos que ser três vezes mais fortes e estáveis para conseguir manter os cargos”, afirma.

Karolina cita como uma de suas referências na profissão a sua amiga cineasta Karen Carvalho, que é negra, diretora e dona de uma produtora. “Se eu, privilegiada, branca, já tenho essas questões de dificuldade para alcançar um cargo no cinema, na TV, no audiovisual, essas mulheres então são uma fortaleza nessa questão”, complementa a assistente de direção. Os dados da Agência Nacional do Cinema também apontam que, no ano de 2016, nenhum filme foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra.

Para a produtora audiovisual e storytelling, Letícia Joanni, embora ainda sejam injustas as oportunidades, acredita que a participação feminina vêm evoluindo no audiovisual: “Toda mulher que se identifique com essa forma de criar arte pode e merece evoluir com ela”, diz. Atualmente alguns nomes que ganharam destaque no cinema são: Laís Bodanzky que dirigiu o longa “Bicho de Sete Cabeças” (2000); Anna Muylaert, diretora de “Que Horas Ela Volta?” (2015); e Petra Costa, indicada ao Oscar pelo documentário “Democracia em Vertigem” (2019).

Confira o infográfico sobre a participação das mulheres no audiovisual brasileiro em nosso perfil no instagram.

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