Emanamantra

Thais Pantaleão
(de)vagar
Published in
2 min readJun 20, 2020
Arte: Thais Pantaleão

Namastê! O nanaíra que habita em mim ignora os problemas sociais e políticos que habitam em você, ou no mundo. Saudação de reverência e respeito — ou não — com as mãozinhas juntas na altura do peito e a cabeça levemente curvada pra frente, enquanto faz cara de quem foi escolhido por uma força maior e despertou para verdade, vive em harmonia com Gaia e te acha uma pobre vítima, escrava do sistema.

Gratidão! Qualidade de quem é grato — segundo o dicionário do Google. Também é tatuagem na lateral do pulso ao lado do símbolo do infinito, ver o lado bom até no que não tem, forjar um privilégio pseudo espiritualizado para si mesmo — atingiu o nirvana em uma viagem transcendental para Balí, você precisa ir pra lá! — fotos de poses de ioga, suco verde, frases do Osho (?), e gente magra, majoritariamente branca, e chata.

Era pra ser legal, não era?! Dalai-lama tinha prometido que seria legal, estava tudo lá, escrito tim tim por tim tim na contra capa daquele planner da Tilibra.

Agora já era, já foi, não adianta mais espernear; nem agradecer.

Goumetizaram a good vibe, ayahuasca virou chá de esquerdo-macho e ciranda categoria de manifestação não violenta. Embranqueceram os costumes alheios, e os aprisionaram num publi post do instagram com textão contra machismo e feminismo, mas favor da humanidade, por igualdade, porém sem contexto histórico, num lugar onde todas as vidas importam, não apenas as vidas pretas, racismo reverso também machuca… muda Brasil.

Bem vindes a evolução espiritual da classe média branca. Iluda-se, aliene-se e agradeça. Aplauda o pôr do sol enquanto destronam seus direitos, faça uma saudação ao universo enquanto algumas vidas são perdidas. Encontre a si mesmo dentro de uma taça de gin artesanal com poucas calorias, eat clean. Tudo vai dar certo. O segredo é acreditar.

--

--