Supera, boy

Thais Pantaleão
(de)vagar
Published in
2 min readJun 29, 2020
Arte: Thais Pantaleão

A gente canta o que a gente vive, as pessoas que compõem fazem isso do jeito que a gente conhece porque vivem no mundo que a gente vive. E mundo que a gente vive está uma bosta. Faz tempo.

A gente vive em um dos países que mais mata mulheres no mundo, qual a real chance de que as músicas românticas populares brasileiras não sejam abusivas? Não tem chance. Elas são abusivas. Caetano Veloso é abusivo, e não sabe o que fazer da vida sem você, porque você (leia este próximo “você” com bastante ênfase e um pouco de raiva)… Porque você não ensinou ele a te esquecer, só ensinou ele a te querer, e te querendo ele foi tentando se encontrar.

Está tudo errado, Caetano, não da pra querer se encontrar querendo outra pessoa, muito menos achar que a culpa disso é da própria pessoa que não te ensinou a esquecer.

Como poesia até que pode ser bonito falar “[…] já cheguei a tal ponto de me trocar diversas vezes por você, só pra ver se te encontro”, mas assim, na vida real é meio esquisito e no mínimo obsessivo. Sem contar que ele já está buscando em outros braços os abraços da pessoa, já acionou os contatinhos e ainda se diz vazio. Ninguém o atirou no abismo e o deixou lá sozinho, e se ele está prometendo que agora vai fazer por onde nunca mais perdê-la é porque fez merda. Você que lute, Caê. Assuma seus b.o.

Ninguém bem que podia perdoar, e nem aceitar mais uma vez. Não precisa aceitar nenhuma vez, inclusive. A vontade que ele sente só é válida se você sentir também, e se sentir bem com isso.

Homem quando pede não ordena, e se ele tentar ordenar pula fora. Quando culpa, ou se desculpa com loucura, é sobre ele, não se engane. A gente vive em um dos países que mais mata mulheres no mundo, que por si só já está uma bosta, qual a real chance de ele estar sendo abusivo com você?

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