Setores Velozes vs. Setores Lentos

Guilherme Lima
DealflowBR
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4 min readAug 5, 2021

Texto publicado na DealflowBR #47

Nas últimas semanas ouvi um novo podcast com Marc Andreessen (no Invest Like the Best), que trouxe insights que achei interessantíssimos sobre os setores da economia e uma boa discussão em cima do famoso gráfico sobre a mudança de preços ao longo dos anos:

Basicamente, o gráfico mostra a curva dos preços por setores da economia. Abaixo são algumas de minhas notas e algumas reflexões sobre o que foi comentado no podcast.

Para começar, ele descreve os setores em linhas de cor fria(em tons de azul) como “setores de mudança veloz”. Esses setores têm coisas que geralmente compramos, basicamente. Eles apresentaram uma redução significativa dos preços ao longo do tempo, além de um aumento do valor agregado dos produtos ou serviços. Como exemplos são os carros ou TVs, que evoluíram muito em termos tecnológicos, com preço mais acessíveis em relação a tecnologia, que cresceram em volume de vendas e, consequentemente, em número de empregos.

Já os setores em cores quentes (tons de vermelho), os “setores lentos”, que, basicamente, são três — moradia/habitação, saúde e educação — e tiveram o comportamento exatamente ao contrário: aumento do preço e pouca inovação tecnológica.

Alguns pontos que ele coloca sobre os setores lentos:

  • Por exemplo, hoje, o diploma de faculdade, principalmente nos EUA, é muito caro e o produto entregue é basicamente o mesmo de cem anos atrás. É o mesmo diploma e o mesmo formato, sem adoção de novas tecnologias, e com o preços crescentes.
  • Educação, saúde e moradia soa familiar. Para o povo americano e sua classe média, ter uma boa casa própria, os filhos em uma boa escola e um bom plano de saúde são a base do ‘sonho americano’.

São setores que funcionam da mesma forma que décadas atrás, e teve pouca evolução tecnologia e pouco ganho de produtividade, e isso traz uma percepção que não estamos resolvendo os grandes problemas. Segundo Marc, essa percepção pode ser explicada porque são mercado gigantescos dentro da economia, muito maiores do que o de TVs ou softwares do dia-a-dia, por exemplo. Como o preço desses setores mais lentos crescem, e dos setores mais velozes caem, eles continuam crescendo proporcionalmente na economia.

Além disso, outro ponto importante, que explica o aumento dos preços é que são setores que têm um forma peculiar de gestão e de forte intervenção governamental. Nos setores lentos, a intervenção acontece de duas formas: 1) restrição e regulação da oferta, que acarreta em aumento dos preços, trazendo eleitores e cidadãos mais infelizes. E, para reverter, 2) vem os subsídios governamentais para incentivar a demanda. É um ciclo virtuoso onde a falta de inovação tecnológica, traz esse aumento dos preços e aumento dos subsídios sem limites.

Segundo Marc, para quebrar esse ciclo, e disruptar o setores lentos, é necessário um choque no sistema. Ele cita o COVID, por exemplo, que pôde trazer diversas questões sobre caminhos para sociedade como o trabalho remoto e distribuído que pode mudar, por exemplo, a dinâmica do setor de moradia.

Para empreender em setores lentos

A boa notícia de se empreender em ‘setores lentos’ é que são mercados gigantesco e os competidores não são muito sofisticados e seguem em uma direção antiga ou errada, segundo o Marc. A má notícia é que tem muita restrição, e há problemas sistemáticos que o governo está bem envolvido. Para entrar nesse jogo ou você entra nessa sistemática, o que é mais difícil de inovar fazendo o que é já é possível fazer, ou, então, se você quer realmente inovar, você terá uma desvantagem em relação aos incumbentes que já possuem que é o acesso ao governos e ao capital.

Portanto, e para finalizar o tema, um grande insight que ele traz é como avalia empreendedores de setores velozes vs. setores lentos:

Nos setores velozes, os fundadores precisam construir o melhor produto, lançar, focar nos clientes e ter o melhor go-to-market para então crescer e ganhar mercado rápido e, basicamente, é isso.

Em um setor lento, o fundador precisa ser mais sofisticado, porque terá que ter um modelo de negócio mais complexo, que irá enfrentam maiores complicações para se adaptar a essas regulamentações. Portanto, precisa saber se relacionar com governo desde o início, e saber que os incumbentes, geralmente, têm algum poder nesse aspecto, pois já atingiram quase toda regulamentação possível para operarem. Portanto, captar investimento nesses setores geralmente é mais difícil, e demora mais para desenvolver o seu mercado. Não é para qualquer um. Muito empreendedores ‘ingênuos’ são atropelados pelo processo. Por outro lado, fundadores ambiciosos e sofisticados conseguem criam negócios gigantescos e transformar esses setores.

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Guilherme Lima
DealflowBR

Brazilian venture investor @astellainvest and editor-writer @dealflowbr .