Éramos 11: Brasil de 2006

Grande elenco, grandes craques e grande fracasso. Mas porque?

Igor Giantomaso Desiderio
Blog De Bate e Pronto
10 min readNov 28, 2018

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De acordo com uma pesquisa que realizamos e com a opinião de muitos amantes do futebol, a seleção brasileira que disputou a Copa de 2006 tinha o elenco mais forte (pós 1982) mas diferente da equipe que encantou o mundo com futebol arte no Mundial da Espanha, esta passou bem longe de apresentar todo potencial que cada atleta indicava.

Perguntamos qual melhor elenco do Brasil em Copas após 1982.

Excesso de confiança, talvez. De acordo com recentes entrevistas de Zé Roberto e Juninho Pernambucano, o trabalho não foi realizado da forma e com a seriedade que merecia.

Já o preparador físico Moraci Sant’anna revelou em entrevista ao portal UOL que sete ou oito jogadores daquela lista poderiam ter sido cortados por não estarem e sua melhor forma física e que não foi possível fazer o trabalho necessário em academia por conta de contratos assumidos pela CBF que obrigavam a equipe a ir para campo “bater bola”.

De qualquer maneira, este Éramos 11 fala de uma equipe que deixou saudade mais por seus astros do que pelo futebol apresentado e vamos aqui tentar demonstrar com fatos e dados a real grandeza das peças daquela seleção, tentar entender porque não deslanchou, e claro, te mostrar por onde andam atualmente.

Imagem (brasilcopasdomundo.blogspot.com)

Nos concentrando no desempenho dos jogadores, principalmente próximo a Copa, veja em que nível e condições cada atleta chegou ao Mundial.

Consideramos então os títulos e prêmios individuais de 2004 e 2005 pois os respectivos de 2006 foram conquistados/divulgados após a Copa do Mundo.

1- Dida: Goleiro titular daquele time já começa mostrando suas credenciais quando coloca no banco Júlio Cesar e Rogério Ceni que havia sido Campeão Mundial de clubes como melhor jogador da competição um ano antes, dito isso ao arqueiro brasileiro chegava ao mundial carregando títulos italianos de da Copa pelo Milan, uma Champions League onde Dida defendeu três pênaltis na final tendo Buffon do outro lado pela Juve. Foi eleito melhor goleiro do Calcio em 2004, seleção da Fifa em 2005, 3º melhor goleiro do Mundo em 2004 e 2º em 2005, além da fama de grande pegador de pênaltis, precedida claro de muitas defesas em momentos decisivos pelo clube e seleção.

Dida está aposentado desde 2015.

2- Cafu: O capitão do Penta merece uma citação temporal maior pois desembarcava na Alemanha vindo de três finais de Copa seguidas e com dois títulos. A gente poderia parar por aí, mas Cafu já ostentava mais de 140 jogos pela seleção brasileira, era titular absoluto da posição desde que a conquistou em 1994. Mas próximo daquele Mundial o lateral ganhara pelo Milan (que era na época um dos principais times da Europa) o campeonato Italiano e Supercopa da Itália em 2004 e fora eleito para seleção da UEFA na temporada 2004/05, melhor lateral direito do Mundo (FIFA) em 2005 além claro, da seleção do Mundo no mesmo ano pela mesma entidade e a 29º posição na lista de melhores do Mundo (no geral) também em 2005. Não é loucura dizer que chegamos em 2006 com o melhor lateral do Mundo, porém apesar da ótima forma física, já com seus 36 anos. No banco, o jovem Cicinho, visado pelo Real Madrid pedia passagem, mas foi preterido pela experiência do camisa 2.Atualmente Cafu está aposentado e é dono de algumas empresas em ramos variados, além de dirigir uma fundação que auxilia crianças carentes.

Imagem (people.cn)

6- Roberto Carlos: Só perde para Cafu em número de jogos pela seleção, até o momento da Copa era titular incontestável do Real Madrid há 10 anos. O lateral já carregava na bagagem o prêmio de 2º melhor jogador do mundo pela Fifa em 1997, mais próximo do Mundial o lateral havia ganho uma Supercopa da Espanha em 2003, eleito para seleção da Europa em 2003, e nos anos de 2004 e 2005 ficou respectivamente em 21º e 29º na lista de melhores do ano pela Fifa. Roberto ainda venceria a Laliga do mesmo ano após a Copa. Porém é possível constatar que, apesar de ser um dos melhores laterais esquerdos do mundo durante boa parte de sua carreira e sempre lembrado como o melhor da posição no Real Madrid, R. Carlos já não chegava aquela Copa vivendo sua melhor fase e já aos 33 anos realmente não fez jus à fama de craque. Além de perder o título junto com toda seleção, é injustamente lembrado por uma bobeira no gol de Henry.Atualmente Roberto é técnico de futebol, curiosamente em seu primeiro trabalho acumulou a função de jogador e treinador.

3- Lúcio: Bicampeão da Bundesliga e Copa da Alemanha nas temporadas 2004/05 e 2005/06 e campeão da Copa da Liga Alemão em 2004 (ainda as venceria em 2007, mas foi pós Copa). Melhor jogador da Bundesliga em 2003/04. Era com esses títulos coletivos e individuais que Lúcio se apresentava para o Mundial de 2006, titular absoluto do Bayer de Munique, é verdade que esbarrou nos monstros Terry, Nesta e Cannavaro para entrar na seleção da UEFA, mas em 2010 conseguiria sua vaga. Era unânime que o Brasil contava com um dos grandes zagueiros do Mundo no momento e o melhor do país para a posição.Lúcio é dos poucos daquele time que ainda atua. Tem contrato com o modesto Brasiliense.

4- Juan: Este ótimo zagueiro tem sim vários títulos na carreira, mas como estamos aqui avaliando os momentos mais próximos ao Mundial de 2006, Juan não chega para a competição com canecos coletivos ou individuais de grande relevância, de modo que vamos recorrer a nossa boa e velha percepção. Resta a este humilde editor recordar que o defensor chegava a Copa já há 4 anos no Bayer Leverkusen onde marcou 16 gols, tido como excelente zagueiro pela torcida e imprensa, de técnica apurada e frieza nas jogadas, após o torneiro ainda passaria 7 anos como titular na Roma. Enfim amigos, mais uma peça forte e incontestável daquela seleção. Em 2004 o clube elegeu junto com seus torcedores a equipe do século, e Juan claro, está entre os 11. Juan ainda atua pelo Flamengo, clube que o revelou.

5- Emerson: Mais um sem grandes conquistas individuas, Emerson não foi uma referência técnica, mas chegava ao Mundial como titular da Juventus e atual campeão Italiano. Tinha a função de carregar o piano do badalado time recheado de craques. Após a Copa ainda jogou no Real Madrid e Milan, então sim, nosso volante vivia grande momento na Europa. Mais um eleito para o time do século do Bayer Leverkusen. Atualmente Emerson cuida de uma escolinha de futebol em Pelotas e comanda a equipe do Miame Dade FC nos EUA.

11- Zé Roberto: Zé Roberto fez sucesso na Alemanha logo que desembarcou no Leverkusen (também eleito no time do século) mas as vésperas da Copa atuava pelo poderoso Bayern de Munique que ganhara a Bundesliga, Copas da Alemanha e da Liga Alemão nos dois anos anteriores do Mundial de 2006. Muito bem cotado na Alemanha, o polivalente Zé que já havia disputado um mundial como lateral, atuava na Alemanha como meia e fazia na seleção as vezes de volante para ligar o jogo da defesa para o quarteto mágico a frente. Seria ainda eleito para seleção do torneio. Não era um galáctico, mas um excelente jogador que enchia os olhos dos europeus e saiu salvo mesmo com a derrota, sendo considerado um ponto de salvação naquele time. Zé Roberto recém se aposentou e trabalha na transição das categorias de base no Palmeiras.

Imagem (Twitter)

8- Kaká: Começa aqui a relação de quatro jogadores que se esperava, fossem os protagonistas da seleção e daquele Mundial. Realmente não temos espaço para citar a quantidade de títulos coletivos e principalmente individuais de Kaká. Desde sua chegada a Itália em 2003 o craque acumulou vitórias, gols e conquistas, podemos resumir dizendo contávamos com um jogador que seria campeão da Champions no mesmo ano, eleito melhor do mundo no ano seguinte, citado em todas as listas de melhores da Europa por alguns anos, referência mundial e protagonista de um Milan que ganhou tudo quanto pode no país e continente muito em função de seu bom futebol. Kaká estreou fazendo um belo gol que deu a vitória ao Brasil, podem nem de longe foi o “Kaká italiano” que se esperava.
Atualmente acumula funções de embaixador no Orlando City e convites para funções administrativas no Milan.

10- Ronaldinho Gaúcho: Um espaço em branco seria o ideal, para que cada um escrevesse este tópico com a magia que merece. Mas teimosamente, vamos lançar aqui alguns fatos. Pouco antes da Copa, Ronaldinho já era símbolo da reconstrução de um Barcelona que voltará a vencer e encantar na Europa e por onde marcara (até 2006) 67 gols e 55 assistências. O Bruxo, havia conduzido o time catalão as conquistas de La Liga 2004/05 e 2005/05, Champions League 2005/06 e mais 11 títulos. Individualmente precisamos nos ater aos conquistados as vésperas da Copa para entender “que Ronaldinho” chegava ao Mundial de 2006.

Nosso 10 era literalmente o Melhor do Mundo no momento, eleito pela Fifa e World Soccer em 2004 e 2005, FIFPRO 2005, melhor estrangeiro de La Liga 2004 e 2005 atacante da UEFA 2004/05, Ballon d’Or 2005, jogador do ano UEFA 2005/06, fora eleito melhor em praticamente todas as competições que disputou. Tudo isso amigos, só aumentou a frustração do torcedor brasileiro após a eliminação.

Atualmente Ronaldinho participa de eventos pelo mundo, geralmente relacionados ao futebol.

7- Adriano: Começo este tópico lamentando pois com 36 anos e a bola que tinha, Adriano ainda poderia estar atuando em ótimo nível, mas diversos motivos os fizeram “desistir da carreira” em meados de 2010 após sua última boa passagem por um clube (Flamengo).

Mas o Imperador chegava aquela Copa com as seguintes conquistas recentes: Campeão da Copa e Super Copa da Itália em 2004/05 e 2005/06, Campeão italiano 2005/06 (ainda o seria em 2006/07, 2007/08 e 2008/09) sendo o astro principal da Inter de Milão. Campeão, artilheiro e melhor jogador da Copa América e das Confederações respectivamente em 2004 e 2005, pra não citar o gol do empate épico contra Argentina no último minuto e vice artilheiro da Champions League 2004/05 e 5ª colocado na lista de melhor do Mundo Fifa. Mas tão importante quando estes títulos era o patamar de craque que Adriano estava e provavelmente alcançaria, os italianos lembraram o surgimento do Fenômeno Ronaldo pois Adriano vinha jogando de forma tão arrasadora quanto, a sensação do torcedor no geral era de que o prêmio de melhor do mundo era caminho certo num futuro próximo. Mas Adriano acabou por fazer uma Copa do Mundo no máximo regular (na média do time) com apenas 2 gols e nos anos que se seguiram acumulou polêmicas e quedas de rendimento, nos deixando apenas saudade e a perspectiva do jogador que poderia ter sido. Deixou a seleção com média de 0,60 gols por jogo. Atualmente Adriano vive na Vila Cruzeiro, seu local de criação e se sustenta com o dinheiro ganho no futebol.

9- Ronaldo: 3 gols. O Fenômeno com certeza dispensa apresentações. Mas apesar de Ronaldo se apresentar em 2006 como o craque, artilheiro e campeão da Copa do Mundo de 2002 e melhor do Mundo Fifa do mesmo ano, seu 3º troféu, fora toda a superação pós lesão para ter realizado tal feito, 2006 não era um de seus melhores anos. O camisa 9 já visivelmente fora de forma, foi apenas o 12º colocado na lista da Fifa (sim, para Ronaldo isso era pouco) e já não ostentava artilharias em campeonatos e prêmios individuais como outrora. “Poxa, mas então, porque foi levado a Copa?”.
Amigos, este homem teve pela seleção brasileira naquele ano, a média de 0,87 gols por jogo, se tornaria o maior artilheiro em Copas do Mundo com os 3 que marcou em 2006, ainda era matador e carregava todo respeito de seu nome, futebol e conquistas, qualquer outra seleção do Mundo que contasse com tal jogador o convocaria. Infelizmente Ronaldo não repetiria a façanha de 2002 e voltou para casa nas quartas de final. Atualmente Ronaldo é empresário no ramo do Futebol e embaixador do Real Madrid no Brasil.

Menções honrosas: Aquele time ainda time no banco o então prodígio Robinho que um ano antes se apresentara no poderoso Real Madrid e prometia. Rogério Ceni melhor jogador e campeão do Mundo de Clubes em 2005 vivendo talvez o melhor momento da carreira e Juninho Pernambucano que fez absurdos pelo Lyon, levando o clube ao inédito Hepta Campeonato Francês, bateu recordes de gols e prêmios individuais.

Quem não viu a geração de 1982 talvez tenha nesta seleção a maior sensação de “Como não vencemos” possível.

Esperamos ter conseguidos demonstrar o baita elenco que o Brasil levou ao Mundial, as credenciais que o atribuem tal status e alguns dos motivos pelos quais, não funcionou como se esperava. Fato é que a França com os velocistas e infernais Ribery e Malouda jogando pelos lados e o maestro Zidane que esteve excepcionalmente inspirado naquele jogo, eliminou este grande elenco brasileiro e chegou até a final contra Itália, e o resto nós já sabemos.

Imagem (UOL)

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Igor Giantomaso Desiderio
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SP/Tricolor, Louco por futebol e co-fundador do De Bate e Pronto.