Éramos 11: Sport 2008

O Brasil voltou a ser teu, Sport

Mateus Schuler
Blog De Bate e Pronto
8 min readFeb 4, 2019

--

Em 7 de fevereiro de 1988, o Brasil se curvou ao Sport, que garantia na oportunidade o primeiro título nacional da história. Ainda que haja polêmica em torno da conquista, os torcedores — principalmente os presentes — guardam na memória cada detalhe da vitória por 1 a 0 sobre o Guarani pelo Campeonato Brasileiro.

Em 11 de junho de 2008, 20 anos depois, o palco era o mesmo. A festa também, mesmo o adversário sendo outro. Mais uma vez, o país se rendia ao Leão da Ilha, dessa vez com a Copa do Brasil de maneira — ainda única — inédita, com triunfo mais que suficiente por 2 a 0 diante do Corinthians, voltando a disputar a Copa Libertadores da América em 2009.

Vice-campeão em 1989, ano da primeira edição do torneio, o rubro-negro estava no segundo ano consecutivo na elite nacional e buscava maior consolidação. Tudo teve início no dia 27 de fevereiro, ao empatar em 2 a 2 com o Imperatriz fora de casa. Na volta, uma goleada acachapante por 4 a 1 e classificação à segunda fase. Aí veio o Brasiliense, que foi derrotado na ida por 2 a 1 e um novo 4 a 1 no segundo jogo, com direito a gols do artilheiro Romerito, que finalizou a competição com cinco no total.

Fator casa faz a diferença: 100% como mandante

OITAVAS DE FINAL: Palmeiras — os outros três do goleador leonino vieram aqui. O rival era o Verdão, um dos favoritos. Apesar da expulsão de Bia, o primeiro confronto contra os alviverdes — em pleno Parque Antártica — ficou no empate sem gols, deixando o panorama em aberto. Aí foi quando brilhou a estrela do meia-atacante, que marcou por três vezes em mais um 4 a 1; Dutra fez o outro, enquanto Alex Mineiro descontou.

QUARTAS DE FINAL: Internacional — outro duelo contra uma equipe importante. Campeão da Libertadores dois anos antes e que viria a conquistar a Copa Sul-Americana em 2008, o Colorado deu fim à invencibilidade dos pernambucanos ao vencer por 1 a 0. Em uma Ilha abarrotada, com 31.555 torcedores — público divulgado — incentivando do início ao fim, mais um resultado positivo e vaga nas semifinais. Após abrir o placar, o time gaúcho deixou tudo igual e um clima pesado, já que os rubro-negros precisavam agora vencer por dois gols de diferença. Roger deu um novo ânimo, mas foi o memorável gol de Durval — em cobrança de falta inesperada — que assegurou a classificação.

Elenco rubro-negro comemora mais um título nacional (Foto: Divulgação/Sport)

SEMIFINAL: Vasco — diferente de toda a competição, o Leão iniciou a saga diante de seus torcedores. Mesmo assim, não desapontou e saiu com boa vantagem para o Rio de Janeiro. Com gols quase ao mesmo tempo, de Durval e Daniel Paulista, tinha certa tranquilidade. O drama, entretanto, foi mais que o esperado, com os vascaínos revertendo a desvantagem no último lance do segundo tempo. A emoção maior foi nos pênaltis, quando Edmundo — que levou a disputa à marca da cal — iniciou desperdiçando. Durante a série, o goleiro Magrão fez o seu em um lance bastante nervoso, com a bola batendo ainda no travessão. Na última cobrança, Carlinhos Bala levou o time à grande final depois de 20 anos.

A FINAL

Corinthians — o fato do Timão participar da segunda divisão pela primeira vez - e única — em toda a história não foi parâmetro para chegar à decisão. Bicampeões do torneio, os paulistas tentaram fazer valer a força do Morumbi, que teve o maior público — 63.871 — na noite de 4 de junho, mas os pernambucanos não desacreditaram e conseguiram um gol chorado aos 46 minutos da etapa final, com Enílton. Com o apito final, Carlinhos Bala chegou a dizer que esse seria o do título, porém a desconfiança ainda era grande.

Uma semana depois, para 33.921 apaixonados, Recife voltou a se vestir de vermelho e preto. Tudo começou aos 34 minutos, ainda no primeiro tempo, quando Carlinhos Bala fez o primeiro tento em um chute cruzado. Três minutos mais tarde, o coração dos leoninos fez tum-tum-tum de alegria. Em cobrança de escanteio, a zaga corintiana cortou parcialmente e Luciano Henrique emendou, de primeira, da meia-lua. Enílton, que deixou a disputa aberta, ainda tentou resvalar, contudo Felipe viu a bola passar debaixo de suas pernas e cruzar a linha, sem sequer balançar as redes. A festa quase foi interrompida em solicitação de pênalti por parte dos visitantes, mas a arbitragem nada marcou. Daí então foi só esperar o apito final para a comemoração.

Vídeo com narração do saudoso Adilson Couto, da Rádio Jornal Recife

O ELENCO

Magrão

Formado no Nacional-SP, o goleiro chegou em 2005 ao clube sem muito holofote, alternando entre titular e reserva até o meio de 2007. Desde então, assumiu a titularidade e se tornou um dos maiores ídolos, sendo o único remanescente no elenco. Defendeu 33 pênaltis e é reconhecido internacionalmente por essa marca.

Diante de Raniel, jogador do Cruzeiro, Magrão defendeu o 33º pênalti com a camisa do Leão (Foto: Williams Aguiar/Sport)

Diogo

Cria do Leão, o lateral-direito teve a responsabilidade de substituir Luisinho Netto, um dos principais nomes na campanha, que teria “se vendido” para o Corinthians antes da decisão. O jogador deu conta do recado, fazendo o suficiente, mas nunca conseguiu emplacar na carreira, sem conseguir estabilização. Hoje está sem clube.

Igor

Campeão brasileiro pelo Atlético-PR em 2001, veio para o Sport em 2007 por indicação de Geninho, técnico à época e com quem havia trabalhado no Furacão. Permaneceu até 2011, vivendo altos e baixos, assim como a equipe, mostrando segurança ao lado de Durval. Foi profissional até 2015, encerrando em 2017 no Amador de Curitiba pelo Trieste.

Durval

Autor de um dos tentos mais marcantes da competição, o zagueiro e capitão leonino ficou marcado anteriormente pelo gol contra na decisão da Libertadores de 2005, quando atuava no Atlético-PR diante do São Paulo. Ainda assim, se firmou na equipe e foi um dos pilares defensivos, mas caiu de produção em 2009, ao receber proposta e ser negociado com o Santos. No Peixe, foi campeão da Copa Libertadores em 2011 ao lado de Edu Dracena, além de atuar junto a Neymar. Voltou ao Leão em 2014, permanecendo até 2018, tendo o futuro indefinido.

Dutra

De volta ao clube após seis temporadas — em 2007 — no Yokohama Marinos, onde se tornou ídolo, o lateral-esquerdo era o mais experiente ao lado de Sandro Goiano e Luisinho Netto. À época, todos possuíam 34 anos e eram líderes do elenco, entretanto Dutra encerrou sua segunda passagem de maneira melancólica. Vestiu a camisa rubro-negra por 240 vezes e hoje está aposentado, buscando se tornar treinador.

Daniel Paulista

Contratado junto ao arquirrival Náutico, onde foi destaque no ano anterior, encaixou bem na cabeça de área leonina e foi um dos destaques na temporada. O bom desempenho o levou ao Rapid Bucaresti, com o dinheiro da venda sendo destinado ao CT José Médicis, hoje um dos principais patrimônios do clube. Chegou a voltar em 2009, mas sofreu grave lesão no joelho, atuando pouco. Fora dos gramados, foi auxiliar-técnico fixo da comissão técnica do Leão, virando interino e até efetivado, contudo não deu sequência.

Sandro Goiano

Vice-campeão da Libertadores com o Grêmio em 2007, foi dispensado junto a outros nomes de maior renome no cenário nacional na reformulação do elenco. A liderança no plantel dos pernambucanos foi imediata, se consolidando no meio-campo, mas defendendo a equipe por apenas dois anos. Hoje em dia trabalha como dirigente e está desempregado.

Luciano Henrique

Reforço indicado por Alexandre Gallo ainda em 2007, até teve um bom início, mas o técnico foi ao Internacional e o levou. Lá, porém, teve poucas oportunidades, retornando em 2008 e se tornou uma peça importante ao setor de armação. Marcou o gol do título e saiu em 2009, se aposentando oficialmente em 2014. Atualmente disputa campeonatos de nível amador.

Kássio

Apontado como uma das promessas para aquele ano, até iniciou a partida decisiva entre os titulares, no entanto teve uma atuação ruim e acabou substituído antes da primeira metade da etapa inicial. A mudança surtiu um efeito mais que esperado, garantindo assim o título ao rubro-negro da Praça da Bandeira. Após rodar por vários clubes, por nunca se firmar, atua agora no Lagarto, que disputa a divisão principal do Sergipano e busca vaga na Série D do Campeonato Brasileiro.

Carlinhos Bala

Rei de Pernambuco. O homem que falou com Deus. Por essas palavras-chave, qualquer torcedor vai reconhecer de imediato ao ser perguntado quem é. Polêmico por provocar os rivais — inclusive o próprio Sport — em diversas situações, marcou um dos gols na final e fez seu nome entrar para a história. Antes, foi fundamental no acesso do Santa Cruz em 2005, sendo negociado com o Cruzeiro e sem render o bom desempenho de outrora. Aposentado oficialmente, ainda participa de jogos festivos, mas não mostrou objeções para o futuro.

Leandro Machado

Criado no Internacional, ainda nos anos 90, foi logo negociado com o futebol europeu como uma boa promessa. Teve bom reconhecimento ainda com a camisa do Flamengo, todavia sofreu com lesões no joelho ao longo da carreira, inclusive se aposentando no Leão da Ilha na mesma temporada do título, sendo a finalíssima sua última partida como jogador.

Extra

Luisinho Netto

Lateral-direito experiente, com passagens por grandes clubes do país, teve a Copa do Brasil como seu título de maior expressão. No rubro-negro, levou toda sua experiência para dentro de campo e teve boas atuações. Na decisão, foi acusado de “se vender” e acabou sacado da equipe. Hoje atua como treinador no Amador de Curitiba.

Enílton

Apesar de ter uma carreira contestada por mais atuações ruins que boas, foi um dos heróis na conquista. Em 2005, se destacou pelo Juventude na Série A e o Palmeiras o contratou, contudo nunca se firmou, sendo emprestado aos pernambucanos. Marcou apenas um gol, mas que teve grande importância no título. Se aposentou em 2012 e vem trabalhando como auxiliar técnico.

Romerito

Artilheiro leonino e vice da competição, com cinco gols marcados, estava emprestado pelo Goiás desde 2007. O bom desempenho fez com que o Esmeraldino solicitasse seu retorno, o tirando da partida decisiva e deixando bastante decepcionado por não atuar. Ainda assim, compareceu à Ilha do Retiro como um torcedor, comemorando junto aos ex-companheiros. Goiano, marcou seu nome no estado natal, permanecendo até hoje, sendo o atual técnico da Aparecidense.

--

--