Éramos Onze: Napoli 1988–1989

A união de dois nanicos — o pouco tradicional Napoli e o pequeno (apenas na estatura) Maradona — rendeu o único título europeu da equipe do sul da Itália

Lucas Parolin
Blog De Bate e Pronto
16 min readOct 10, 2018

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Nos anos 80 e 90, a Itália foi a terra das maiores estrelas internacionais do futebol. Tradicionais equipes como a Juventus do francês Platini, a Roma do brasileiro Falcão e o Milan do holandês Marco Van Basten reinaram não apenas em solo nacional, mas também pelos campos continentais. Houve, porém, um nanico que ousou desafiar seus enormes conterrâneos: o Napoli.

Apesar de tradicional, a azul-celeste equipe do sul da Itália fundada em 1926 pouco tinha para ostentar na segunda metade do século XX. Uma Coppa Italia aqui, outra ali, outros títulos de menor expressão acolá: o Napoli não era, necessariamente, um time a se temer. Porém, a chegada de um também nanico — se não no futebol, na estatura, com apenas 1,65m de altura — mudou para sempre o patamar da equipe. Maradona chegou ao Napoli em 1984 já como um dos maiores jogadores de seu tempo, mas foi com Gli Azzurri que alcançou o status de deus da bola. O Napoli formou, ao redor do meio-campista argentino, um time de encher os olhos que marcou época, com Alemão, Carnevale, o lateral Ferrara e o parceiro Careca, ídolo também do São Paulo Futebol Clube. O plantel venceria diversos títulos em um período de cinco anos: duas (e inéditas) Serie As, uma Coppa Italia, uma Supercoppa Italiana…mas a cereja no bolo do torcedor napolitano seria para sempre a conquista da Copa UEFA de 1988–1989, feito considerado até os dias de hoje como o maior da história do clube.

A chegada de Maradona

A história do Napoli de 88–89 começa, na realidade, em 1984. Após uma passagem sem muito brilho (ou títulos) pelo Barcelona, Maradona precisava de novos ares. Se a relação com o clube grená já não era das melhores, ficou insustentável após o camisa 10 protagonizar uma briga generalizada na final da Copa do Rei daquele ano, contra o Athletic Club (na qual, nota bene, os culés nem saíram com o título) e, por consequência, sofrer uma suspensão de três meses. A cúpula do gigante espanhol se recusou a se esforçar para reverter a decisão do tribunal, o que deixou o sempre sentimental Maradona chateadíssimo. Resultado: quando o modesto Napoli fez uma oferta pelo jogador argentino, Barcelona e Dieguito aceitaram sem sequer pestanejar.

Maradona e Napoli: um casamento que deu certo (Foto: fantasista10.co.uk)

A decisão del Pibe de se unir ao Napoli assombrou a todos. Por que um jogador consagrado e cobiçado como Maradona iria para um clube de tão pouca expressão? O espanto aumentava mais ainda ao saber que a Juventus, logo ela, também havia tentado a contratação do craque. Maradona justificou sua decisão com dois principais motivos. Primeiramente, o Napoli teria sido o único clube a apresentar, de fato, uma proposta real — e monetária. Depois, nas palavras do próprio jogador, “o Giampiero Boniperti (ex-jogador e presidente da Juventus na época) já havia dito que um jogador com meu porte físico não chegaria a lugar algum.” Azar da equipe de Turim, sorte do Napoli.

Maradona desembarcou em Nápoles já como rei. Sua apresentação no estádio San Paolo, com direito à chegada de helicóptero, colocou o Napoli em evidência no mundo da bola pela primeira vez. Os dois primeiros anos não trouxeram conquistas, mas já esboçaram uma grande equipe. Maradona abrilhantou a equipe do técnico Ottavio Bianchi, que já contava com os italianos Ciro Ferrara e De Napoli, e recebeu em 1985 o reforço de Bruno Giordano, diretamente da Lazio. Assim, o Napoli passou a figurar constantemente entre os figurões da Serie A. Era o início promissor de grandes anos que estavam por vir.

1987: os primeiros títulos e a chegada de Careca

O escudeiro certo para Maradona: Careca (Foto: These Football Times)

Em 1987, o Napoli venceu a primeira Série A de sua história e ainda adicionou uma Coppa Italia à sala de troféus. Porém, os torcedores do Napoli mal sabiam que teriam motivo ainda mais para celebrar naquele ano. No verão, a chegada de um rápido, habilidoso e oportunista artilheiro do São Paulo elevaria em demasia o nível dos Ciucciarelli: Careca. O atacante formou ao lado de Maradona a maior parceria entre um brasileiro e um argentino já vista na história (sai pra lá, Messi e Neymar) e encheu os olhos dos torcedores italianos. O bicampeonato italiano não veio em 1988, mas uma nova e maior alegria estava por vir.

A campanha

O Napoli iniciou a campanha da Copa UEFA com moral elevada, mas sem grandes favoritismos. Clubes alemães e conterrâneos italianos eram vistos como os principais candidatos ao título. O Napoli venceu o PAOK, da Grécia, por modestos 2 a 1 no agregado dos dois jogos, vencendo pelo placar simples em Nápoles e empatando fora de casa. Gols marcados por Maradona e Careca, claro.

Na segunda rodada, o Napoli enfrentou o alemão Lokomotive Leipzig, que havia marcado sete gols em dois jogos contra seu primeiro adversário. Não foi o bastante. Um empate com um gol para cada lado e uma vitória por 2 a 0 levaram o Napoli para a próxima fase. Desta vez, quem brilhou foi o lateral-esquerdo Francini, que marcou um gol em cada partida.

A terceira fase reservou um difícil confronto contra o Bordeaux, com a primeira rodada a ser disputada na França. Carnevale marcou o único gol da partida rapidamente, logo aos cinco minutos de jogo, e um 0 a 0 na Itália foi o bastante para avançar o time de Maradona, que aos poucos ganhava corpo na competição.

Fica pra próxima, Platini (Foto: Trivela)

As quartas-de-final devem ser motivos de palpitações para torcedores napolitanos até os dias de hoje. O rival foi logo a Juventus de Platini, um verdadeiro colosso no futebol italiano e europeu. Foi aqui também que o Napoli conheceu sua primeira derrota, em Turim, por 2 a 0, com direito a um gol contra de Corradini. Eram necessários três gols para chegar às semifinais, tarefa nada fácil. No 15 de março de 89, o milagre: Maradona marcou, de pênalti, aos 10 minutos de jogo. Carnevale fez o seu no fim do primeiro tempo e, sem gols no segundo tempo, veio a prorrogação. No apagar das luzes, aos 120 minutos de jogo, o gol salvador de Renica. Era instalada a euforia histórica na cidade de Napoles: o time da cidade estava a dois jogos de uma final europeia.

Um jogo eternamente na memória de todo torcedor do Napoli

Se o adversário das quartas-de-final já era temido, imagine o da semifinal. Corações italianos devem ter saltado pela boca ao descobrir que teriam que vencer o Bayern de Munique, na época já tricampeão europeu. Para dificultar ainda mais, a decisão das duas partidas foi marcada para Munique. Era preciso, então, jogar muita bola no estádio San Paolo. Para Careca, missão dada e cumprida. O futuro são-paulino marcou um dos gols da vitória por 2 a 0 dos italianos (Carnevale guardou o segundo). Duas semanas depois, foi a vez de viajar à Alemanha. Após um primeiro tempo sem gols, Maradona aproveitou um grotesco erro da zaga alemã para presentear Careca, que abriu o placar aos 16 minutos da segunda etapa, acendendo o sonho azul-celeste. Wohlfarth empatou o placar apenas dois minutos depois, mas o endiabrado Careca fez brilhar sua estrela e marcou o segundo gol do Napoli aos 30 minutos. O Bayern de Munique ainda chegou a empatar, mas foi pouco. O Napoli estava na final e enfrentaria, pela terceira vez, um alemão: o Stuttgart de Fritz Walter, Maurizio Gaudino e Jürgen Klinsmann, ausente no primeiro jogo.

Final: Maradona e Careca corrigem erros defensivos

As finais foram definidas para os dias 3 e 17 de maio de 1989, com a primeira partida no San Paolo. A força da torcida napolitana seria testada mais uma vez: o Napoli estava, ao longo da competição, invicto em seu estádio. O início da partida foi dramático: gol de Gaudino antes do relógio sequer marcar 20 minutos: 1 a 0 Stuttgart, em um frangaço do goleirão Giuliano Giuliani. Porém, quem tem Maradona não teme. No segundo tempo, após receber cruzamento da direita, o camisa 10 dominou no peito já dentro da área e chutou a bola mão de um zagueiro alemão. O juiz corretamente marcou pênalti e o próprio argentino converteu, empatando a partida e iniciando a festa italiana, que continuaria logo depois quando Careca virou o jogo para os donos da casa. Após (mais uma) jogada magistral de Carnavale, o artilheiro brasileiro recebeu a pelota dentro da área, teve tempo para se enrolar com ela, mas ajeitou o corpo e bateu rasteiro, sem chances para o goleiro Immel. Haja vinho e macarronada para conter a festa no Sul da Itália.

A vitória no primeiro jogo, em casa, deu tranquilidade à equipe de Maradona e Careca para a 2ª partida

A vitória no primeiro jogo e a ótima fase de Maradona jogaram todo o favoritismo, pela primeira vez, para a equipe de Nápoles. Porém, seriam necessários mais 90 minutos e muito suor para que o Napoli conquistasse seu primeiro título continental. O jogo derradeiro traria ainda muitas emoções. Assim como na partida anterior, foram os visitantes que deram o primeiro golpe: aos 18 minutos, Careca serviu Alemão que invadiu a área e deu um toque astuto para vencer Immel, abrir o placar e marcar seu primeiro gol na Copa Uefa. Klinsmann, dessa vez em campo, retribuiu o favor em menos de dez minutos, após cobrança de escanteio. Já estava na cara que esta seria uma final histórica.

Mais dez minutos e mais um tento: o defensor Ferrara, que até agora não havia marcado, mas fazia excelente campanha, foi presenteado pelos deuses do futebol com um gol. Após mais uma cobrança de córner, Maradona ajeitou para o italiano apenas completar para as redes. Intervalo: 2 a 1 para os italianos, repetindo o placar da ida.

No segundo tempo, a equipe comandada por Bianchi continuava avassaladora. Aos 17 jogados, ele, sempre ele, Maradona trouxe a bola campo afora, entortou o meia Hartmann e deixou para Careca matar o jogo, com (mais um!) toquinho sutil escapando de Immel. Jogo morto? Que nada.

Gaudino entrou na área aos 25 e cruzou. De Napoli, volantão partenopei, tentou afastar e violou a própria meta: 3 a 2. O Stuttgart enfrentava um terrível adversário, mas não está morto quem peleia. O Napoli até tentou cozinhar o jogo até seus derradeiros momentos, apoiado na genialidade (e catimba) del Pibe, mas um passe alto e descuidado de De Napoli (de novo!) para o goleiro Giuliani encontrou a cabeça de Schmäler e quase pôs tudo a perder. 3 a 3, placar perigoso! Um mísero gol levaria a partida à prorrogação.

Foi difícil, mas o título ficou com o Napoli (Foto: UEFA.com)

Não foi desta vez para o Stuttgart. Nos acréscimos, De Napoli não atrapalhou mais e a festa, por fim, foi italiana. Maradona, Careca e cia levantaram felizes e orgulhosos o primeiro (e único, até hoje) troféu europeu da história do Napoli.

“Éramos onze,” pensa o torcedor dos Ciucciarelli até hoje. O esquadrão está na ponta da língua do torcedor e aqui nas páginas do De Bate e Pronto.

Giuliano Giuliani: o goleirão com nome de gângster italiano de filme dos anos 80 quase pôs tudo a perder na primeira partida da final, com um erro grotesco. Mas, verdade seja dita, se Giuliano nem sempre era espetacular, era quase sempre seguríssimo e deveras vocal na organização defensiva de sua equipe, característica extremamente contrastante com sua persona reservada. Iniciou a carreira profissional no Arezzo em 1976, foi para o Napoli em 1988 após passagens pelo Como e pelo Verona e se aposentou em 1993 na Udinese. Sua equipe de maior sucesso foi, de fato, o Napoli, onde venceu não apenas a Copa Uefa, como também o título nacional da Serie A em 1990. Não teve sequer uma chance na seleção principal, mas fez parte do elenco olímpico em 1988. Giuliano morreu em 1996, vítima do vírus HIV, o qual ele diz ter contraído em 1989, em Buenos Aires, durante o casamento do parceiro de clube Diego Maradona.

Gol importante e muita dedicação defensiva (Foto: Panini Old School)

Ciro Ferrara: considerado um dos maiores defensores de uma excelente geração de marcadores italianos, Ferrara fez história. Com estilo agressivo e poderoso, e paradoxalmente ainda assim elegante, o jogador nascido de Nápoles possuía todas as qualidades necessárias para um grande defensor: tempo de bola impecável, compostura, toque refinado, classe e versatilidade, que o permitia jogar em qualquer posição da defesa e, por vezes, até mesmo na primeira linha do meio-campo. Ryan Giggs, por exemplo, considera Ferrara como o marcador mais complicado que teve que encarar em toda sua carreira. Apesar do estilo durão, jamais foi desleal. Seus botes eram fortes, sim, mas precisos. Jogou por dez anos no Napoli (tinha apenas 20 anos na conquista da Copa Uefa) e se transferiu para a Juventus em 1994, onde jogou até sua aposentadoria em 2005. Os títulos foram diversos: sete títulos nacionais, duas Coppas Italias, a Copa Uefa aqui relatada, uma Champions League, uma Copa Intercontinental e tantos outros. Ferrara ainda chegou, com a seleção italiana, às semifinais da Eurocopa de 1988, dos Jogos Olímpicos no mesmo ano e da Copa do Mundo de 1990. Na seleção, foram 49 partidas e nenhum gol. Após a aposentadoria, treinou a Juventus, a seleção sub-21 da Itália, o Sampdoria e, hoje, comanda o chinês Wuhan Zall.

Alessandro Renica: cultuado na Itália e pouco conhecido fora dela, Alessandro Renica nasceu na França, em 1962. Iniciou sua carreira no L.R. Vicenza em 1979, passou pelo Sampdoria entre 1982 e 1985 antes de chegar ao Napoli, onde obteve as maiores conquistas de sua vida. Renica era desses zagueiros sem firulas, que não davam chances ao adversário e não tinham medo de chutar a bola para o mato em caso de dificuldade. Tem, para sempre, o gol na prorrogação contra a Juventus para se orgulhar. Em 1991, transferiu-se ao Verona, onde pendurou as chuteiras em 1993. Atuou depois como técnico, principalmente no Chioggia, clube atualmente na quarta divisão do futebol italiano.

Giancarlo Corradini: esforçado, porém pouco técnico, Corradini se encontrou no Napoli do final dos anos 80, onde serviu como um alicerce de experiência na jovem zaga da equipe. Anteriormente, passou pelo Sassuolo, seu primeiro clube, Genoa, Reggiana e Torino. Foi com 28 anos que chegou ao Napoli e conquistou seus primeiros títulos. Permaneceu no clube até sua aposentadoria, em 1994. Depois disso, Corradini permaneceu ativo no futebol, passando os anos entre 1999 e 2007 na comissão técnica da Juventus. Teve também algumas passagens com técnico por diversos clubes europeus, como o Venezia e o Cuneo na Italia e o Watford, como assistente técnico, na Inglaterra.

Corradini era certeza de raça em campo (Foto: World Football)

Giovanni Francini: lateral-esquerdo de muito vigor físico e altura, no alto de seus 1,80m, Francini era uma importante válvula de escape do canhoto Maradona. Sempre intenso em seu jogo, ele começou a carreira em 1980 no Torino, jogou no Reggiana (e fez parte da equipe rebaixada à Serie C em 1983), e só chegou ao Napoli em 1987, após o primeiro título nacional de Maradona e cia. Em 1994, foi ao Genoa, jogou apenas seis partidas e já foi transferio ao Brescia, onde finalizou a carreira em 1996. Pela seleção, participou do elenco da Eurocopa de 1988.

Luca Fusi: importante meia defensivo italiano nos anos 80 e 90, mordedor e de bote preciso, Luca Fusi começou a carreira no Bulciago, clube do qual seu pai era o presidente. A estreia no profissional, porém, foi no Como, em 1981, onde ficou por cinco anos. Depois, foi ao Sampdoria, pela quantia de 3,5 bilhões de liras (cerca de R$8 milhões) onde jogou por dois anos. Foi negociado com o Napoli em 1988 pelo valor de 5,8 bilhões de liras (R$13 milhões) e, lá, deslanchou. Após os títulos em 89 e 90, se transferiu para o Turim, onde jogou ao lado de Walter Casagrande e marcou um importante gol contra o Real Madrid nas semifinais da Champions League. Jogou ainda na Juventus e no Lugano, time suíço, onde encerrou sua carreira em 1997. Seguiu depois para a carreira como técnico, onde permanece até hoje, como treinador do Castel Rigone, equipe do segundo escalão italiano.

Alemão: uma carinha de brasileiro…(Foto: Globo Esporte)

Alemão: apesar do apelido, Ricardo Rogério de Brito era um dos dois brasileiros titulares do Napoli nos anos 80. Nascido em Minas Gerais, na cidade de Lavras, Alemão começou sua carreira justamente no time da cidade, o Fabril, em 1980. Foi no carioca Botafogo, porém, que ganhou destaque com um futebol incansável e operário, que inclusive o qualificou a jogar a Copa do Mundo de 1986, no México. Após o Mundial, transferiu-se para o Atlético de Madrid e, menos de um ano depois, foi ao Napoli, onde encontrou suas maiores glórias. Depois de uma passagem de dois anos no Atalanta, iniciada em 1992, foi jogar no São Paulo, onde conquistou a Copa Conmebol. Encerrou sua carreira em 1996, no Volta Redonda. Além da Copa do Mundo de 86, também disputou pela seleção a edição de 1990 e a Copa América de 1989, quando ajudou o Brasil a encerrar um longo jejum e se sagrar campeão. Em 2007, iniciou sua trajetória como treinador.

Fernando De Napoli: não deixe as falhas na finalíssima te dizer o contrário: De Napoli jogava de terno. Um meio-campo defensivo, mas com habilidade o bastante para armar o jogo com passes precisos, ele foi um dos principais jogadores da conquista do Napoli na Copa Uefa. Começou sua carreira em 1982 no modesto Rimini e se mudou para o igualmente modesto Avellino em 1983. Em 1986, finalmente, foi ao Napoli e viveu seus melhores anos. De tão positivos, começou a figurar nas convocações da Azzurra e participou das Copas de 1986 e 1990, além da Eurocopa de 1988. Jogou também no tradicionalíssimo Milan, onde fez parte do elenco bicampeão nacional e vencedor da Champions League de 93–94, em um esquadrão que contava com lendas como Paolo Maldini, Marcel Desailly, Zvonimir Boban e o técnico Fabio Capello. De Napoli encerrou sua carreira em 1997, no Reggiana. Em razão de seu estilo de jogo combativo, ganhou o apelido de “Rambo”.

Maradona: El Pibe de Ouro foi, indiscutivelmente, um dos seres humanos mais habilidosos a já calçar um par de chuteiras. Suas histórias já são lendas: desde o início humilde porém avassalador em Buenos Aires, no Argentina Juniors, em 1976, que já fizeram com que Argentinos clamassem por sua convocação na Copa de 1978. Depois, nos dois anos meteóricos no gigante Boca Juniors, onde virou ídolo e campeão argentino. Em 1982, jogou sua primeira Copa do Mundo, onde foi eliminado pelo Brasil, e se transferiu para o Barcelona, onde coletou mais brigas e desavenças do que títulos. Em 1986, já no Napoli (estes seus anos já foram bem relatados acima), tornou-se imortal ao vencer a Copa do Mundo no México, carregando um pouco habilidoso time argentino nas costas e marcando gols inesquecíveis. Saiu do Napoli apenas em 1991, quando voltou à Espanha, dessa vez para o Sevilla. Em 1993, retornaria ao seu país natal, para jogar no Newell’s Old Boys e encerrar a carreira no querido Boca Juniors. Pela seleção argentina, Maradona também disputou a final da Copa do Mundo de 1990, com outra atuação de gala, e participou da Copa de 1994 (com um triste final, pego no doping). El D10S foi abençoado com o que é talvez a maior canhota de todos os tempos e parecia jamais se desprender da bola. Foi eleito o melhor jogador do mundo em 1986. Colecionou polêmicas, brigas, suspensões e problemas com drogas ao redor da vida e da carreira profissional. Ainda deu tempo de se tornar técnico e dirigir a seleção que tanto defendeu na Copa do Mundo de 2010. E é uma das pessoas mais ovacionadas na Argentina e no mundo, ostentando até uma religião em sua homenagem.

Carnevale, a terceira peça que complementou a dupla Maradona-Careca (Foto: Calciopédia)

Andrea Carnevale: antes de se juntar ao Napoli em 1986, Carnevale foi um verdadeiro highlander do futebol italiano, jogando em seis equipes diferentes desde 1978. Após o sucesso ao lado de Maradona e Careca, Andrea se transferiu ao Roma. Após marcar quatro gols em suas cinco primeiras partidas, foi suspenso do futebol por um ano em razão de seu uso de drogas. Permaneceria no Roma por mais dois anos, encerrando sua carreira na Udinese e no Pescara. Pela seleção italiana, Carnevale foi titular e marcou dois gols durante a preparação para a Copa do Mundo de 1990 e nas duas primeiras partidas da competição, mas foi posteriormente substituído por Totò Schillaci — que seria o artilheiro daquela Copa.

Careca: Antônio de Oliveira Filho nasceu em um cinco de outubro de 1960 em Araraquara, interior de São Paulo. Começou a carreira no histórico time do Guarani de 1978, campeão brasileiro em cima do Palmeiras. Teria feito parte da orquestra verde-amarela da Copa de 1982, mas uma lesão o impossibilitou a viagem — e muitos argumentam até hoje que, com sua presença, o título brasileiro não escaparia. Em 1983, Careca se mudou para a capital para jogar no São Paulo, onde se tornou ídolo e um dos maiores artilheiros da história do clube, além de campeão brasileiro de 1986 (marcando um importante gol nas finais). Em 1987, foi viver seus melhores anos no Napoli, ao lado de Maradona. Em 1994, se mudou para o Japão, para jogar no Kashiwa Reysol, e terminou a carreira peregrinando por times do interior de São Paulo (e também com uma rápida passagem pelo Santos). Careca é sem sombra de dúvidas um dos maiores atacantes da história do futebol brasileiro, com um faro de gol e senso de posicionamento incomparáveis — e foi o maior parceiro de Maradona em qualquer equipe do Pibe.

O professor e seu principal soldado (Foto: Il Napolista)

Ottavio Bianchi: o técnico daquela estrelada equipe foi um jogador mediano, mas com mais de 100 partidas disputadas pelo Napoli. Ele iniciou sua carreira de treinador no SPAL em 1976, e pulou de clube em clube com pouco sucesso até chegar mais uma vez no Napoli em 1985. Com a constelação de craques em mãos, trouxe os melhores anos do clube e é celebrado por lá até hoje. Passou, depois, por Roma, Inter de Milão e Fiorentina, encerrando sua carreira em 2002. Venceu também uma Coppa Italia pela Roma em 1990.

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