Allejo Feelings — Cherno Samba

Tom Camargo
Blog De Bate e Pronto
4 min readOct 5, 2018

O “Ronaldo Inglês” que nunca vingou

A bola alçada no ar. A arquibancada, lotada, prende a respiração, mas o destino desse cruzamento todos já sabem. Mais veloz que Cannigia, ele rapidamente se desfaz de seu zagueiro. Mais matador que Ronaldo, ele acerta a bola na veia. Tá lá. Onde a coruja dorme. Apita o juíz. Cherno Samba se torna imortal, levando o Manchester United a mais um título europeu com apenas 16 anos de idade.

Uma história que você não encontrará em nenhum almanaque da UEFA, mas que milhares de pessoas sentiram na pele, com pequenas variações. Talvez fosse pelo Liverpool. Ou talvez Cherno fosse um pouco mais velho. Mas o desfecho sempre foi o mesmo: clicar ‘save’ no ‘Championship Manager 2001–2002’ e desligar o computador.

Nessa edição do “Allejo Feelings”, vamos falar de talvez a maior lenda do futebol digital: um prodígio de tranquilamente 60 gols por temporada na telinha do computador, o inglês Cherno Samba.

NO JOGO:

Championship Manager 01/02

Cherno era, indiscutivelmente, o “super trunfo” na edição 2001–2002 do jogo “Championship Manager”. O jogador pertencia ao relativamente modesto Millwall e portanto tinha um custo também relativamente baixo. Porem, na época, o jovem de 16 anos já atraía os olhares de diversos clubes de elite. A hype ao seu redor chegou a níveis imprescindíveis após receber uma ligação de ninguém menos que Michael Owen convidando-o pessoalmente a se juntar a ele no Liverpool.

Cherno no jogo era um jogador implacável. Não sentia a pressão em ser camisa 9 titular aos 16 anos de idade e carregar sua equipe até o título da Copa do Mundo e mais algumas ligas ao mesmo tempo. Suas características no jogo eram realmente avassaladoras: rápido, extremamente cirúrgico na finalização e com uma força descomunal.

Estatísticas de Cherno Samba no Championship Manager 01/02: matador-relâmpago (Foto: www.coopnest.com)

NA VIDA REAL:

O menino era bom mesmo, pelo menos a princípio. Aos 13 anos de idade, ele anotou 130 gols em 32 partidas pela equipe de colégio. Uma média de mais de um hat-trick por partida. No ano 2000, o Millwall o trouxe para suas categorias de base onde Cherno continuou impressionando, participando de todas as categorias de base da seleção inglesa, do sub-16 ao sub-20. Porém, nunca chegou ao elenco principal.

Cherno Samba representando a Inglaterra (Foto: www.kotaku.com)

Como dito acima, quase todos os gigantes ingleses queriam Cherno. O Liverpool até chegou a oferecer dois milhões de libras por ele, uma quantia bastante razoável na época, e o convidou a conhecer o lendário Anfield Road. O próprio Cherno diz que ficou apaixonado pelo clima amigável do vestiário dos Reds, e até lembra que o atacante Emile Heskey o convidou para a equipe, contanto que não tomasse seu lugar de titular.

A oferta, porém, foi rejeitada pelo Millwall que via alto potencial no garoto. Não vingou. Sem sequer jogar uma partida pela equipe profissional em dois anos, Cherno foi vendido ao Cádiz, da Espanha. A partir dali, iniciou uma peregrinação por equipes de pouco renome. Foi emprestado ao Málaga B e depois vendido ao Plymouth Argyle da segundona da Inglaterra. De lá, foi emprestado ao Wrexham, da quarta divisão inglesa, mas nem por lá agradou, sendo devolvido ao Plymouth. Perambulou mais cinco anos por clubes de pouquíssima expressão na Europa até se aposentar no FK Tonsberg, da segunda divisão do campeonato norueguês, em 2015. Se na infância ele era capaz de guardar 130 gols em uma temporada, na carreira profissional de dez anos, anotou apenas pouco mais de dez gols.

Dito isso, seu status de herói cult devido ao Championship Manager nunca desapareceu, embora o próprio nunca chegou a jogar o simulador. Além de viver eternamente na memória de assíduos do game, Cherno aproveita seu status de pseudo-celebridade: uma vez quando ligou para sua operadora para pedir um novo celular, foi reconhecido pelo atendente que exclamou “Cherno Samba? Do Championship Manager? Pode deixar que para você eu entrego o celular em um dia ao invés de três!”

Não é um Balon D’Or, mas tá valendo.

--

--