Articulando o Jogo: Cruzeiro x Borussia Dortmund

Final da Copa Intercontinental 02/11/1997

Tom Camargo
Blog De Bate e Pronto
5 min readJul 27, 2018

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Era 2 de novembro de 1997, uma noite fria em Tóquio. Final da Copa Intercontinental. De um lado se aquecia a equipe alemã do Borussia Dortmund, time vencedor da Liga dos Campeões da UEFA na temporada 1996–97. Do outro, o representante das Américas, campeões da Copa Libertadores de 1997, os celestes do Cruzeiro Esporte Club.

(http://mafiaazul.tripod.com)

Embora ambos fossem vencedores do campeonato supremo de suas respectivas regiões, o clima não poderia ser mais diferente em seus vestiários. Der BVB buscava sacramentar uma temporada perfeita: haviam conquistado seu primeiro título da Champions League, despachando a poderosa Juventus de Zinedine Zidane e Alessandro del Piero, além de conquistar a Bundesliga da temporada anterior. Só faltava a metafórica joia do Mundial para adornar a coroa de maior equipe do mundo na época. Do outro lado do Atlântico, a Raposa apenas escapou do rebaixamento no Campeonato Brasileiro na última rodada, em um sofrido empate por 2–2 na Vila Belmiro contra o Santos, e no processo perdeu o técnico da campanha da Libertadores, Paulo Autuori, substituído por Nelsinho Baptista. Se não fosse o bastante, o Cruzeiro também buscava o seu primeiro título mundial, mas era assombrado pelo fantasma do mundial de 1996, quando falhou ante outra equipe alemã na final, o Bayern de Munique.

Devido a péssima fase do time e a pressão que inevitavelmente segue uma final de Mundial, a diretoria do Cruzeiro decidiu fazer uma série de contratações pontuais de peso especificamente para esse embate: os atacantes Bebeto e Donizete ‘Pantera’, o zagueirão Gonçalves e o lateral-direito Alberto. Os noticiários da época clamavam essa equipe celeste de ‘Cruzeiro de Aluguel’.

Donizete Pantera, Gonçalvez e Bebeto chegam ao Cruzeiro (https://www.mg.superesportes.com.br)

Nelsinho teve que aproveitar as contratações de quase R$500 mil (um alto valor para a época) e começou uma verdadeira dança das cadeiras no esquema tático cruzeirense. Wilson Gottardo, capitão da equipe que conquistou as Américas, sequer foi relacionado à partida. Gonçalves entrou no lugar do titular Gelson Baresi, Donizete e Bebeto também foram encaixados na equipe, mas para não ter que sacar o Elivélton, autor do gol do título da Libertadores, o próprio foi improvisado na lateral esquerda, sacando o titular Nonato que contou em uma entrevista recente para o site Superesportes que o clima no vestiário era tão imprevisível que faltando 30 dias para o Mundial, “nem o Dida, que era titular absoluto, tinha comprado a passagem da esposa dele. Ninguém sabia se ia viajar”. Contratado especificamente para essa partida, Alberto ficou no banco.

Chefão novo, astros novos, equipe de cara nova. Pareceu que ia funcionar, a Raposa surpreendeu no início da partida e começou pressionando. Já no primeiro minuto de jogo o meia Roberto Palacios, jogador que mais atuou pela seleção Peruana, arriscou contra o arqueiro alemão Stefan Klos e por pouco não abriu o placar. Elivélton também quase viu sua estrela brilhar novamente com forte chute de fora da área e o matador-de-aluguel Donizete desperdiçou chance cara-a-cara com o goleiro.

(https://cruzeiropedia.org)

O choque inicial foi o suficiente para que a equipe alemã, uma das mais caras da época, acordasse e impusesse seu jogo. A marcação se fechou, os espaços para os mineiros atacarem desapareceram e o meio de campo foi dominado por uma onda amarela. Contra-ataques velozes explodiram seguidamente com perigo contra o goleiro Dida, o melhor jogador da Celeste em campo. Eventualmente até o paredão sucumbiu. Aos 35 minutos do primeiro tempo Michael Zorc, australiano naturalizado alemão, abriu o placar após lambança da defesa mineira, deixando a bola nos pés do aussie-alemão após falhar em limpar um cruzamento pela lateral esquerda do suiço Stephane Chapuisat. O Cruzeiro decidiu então se jogar ao ataque. Ricardinho quase forçou um gol-contra de Feiersinger com um cruzamento, mas fora isso os alemães neutralizavam qualquer tentativa ofensiva com facilidade. Bebeto e Donizete pareciam cada vez mais perdidos em campo e após sofrer uma dura entrada da zaga inimiga, Bebeto desapareceu por completo do jogo. Ainda mais enfraquecido no segundo tempo, o Cruzeiro só conseguiu seu primeiro chute a gol aos 27 minutos. A situação se tornou ainda mais desesperadora quando o lateral direito Vitor, que se tornou o único jogador tetra-campeão da Libertadores, foi expulso aos 23 minutos do segundo tempo. O evidente domínio da equipe alemã se tornou ainda mais absoluto, e o atacante Heiko Herrlich desferiu o golpe de misericórdia ao 39 minutos após cruzamento do português Paulo Sousa novamente pela esquerda, do improvisado Elivélton. Fim de partida.

Desde então o Cruzeiro nunca voltou a levantar a taça da Libertadores das Américas, embora tenha chegado a final da edição de 2009, e portanto nunca voltou a jogar uma final de Mundial. O Borussia Dortmund conseguiu sacramentar sua temporada dos sonhos com títulos da Champions League, Bundesliga e Mundial. Foi um zênite que nunca mais foi alcançado pela equipe, com o Borussia caindo em decadência no início do século 21 e quase declarando falência, salvo apenas por um empréstimo do arqui-rival Bayern de Munique, uma história para outra hora.

Confira os gols e melhores lances da partida no vídeo abaixo:

Ficha Completa

Cruzeiro 0 x 2 Borussia Dortmund

Data: 02/11/1997

Estádio: National Stadium, Tóquio

Árbitro: José Garcia-Aranda (Espanha)

Cruzeiro: Dida; Vitor, Joao Carlos, Goncalves, Elivélton; Fabinho, Ricardinho; Cleisson, Palacios (Marcelo Ramos); Bebeto, Donizete.

Técnico: Nelsinho Baptista

Borussia Dortmund: Klos; Reuter, Feiersinger, Julio Cesar, Heinrich; Freund, Sousa, Zorc (Kirovski), Moller; Chapuisat (Decheiver), Herrlich.

Técnico: Nevio Scala

Gols: Zorc 34' (Borussia Dortmund), Herrlich 85' (Borussia Dortmund)

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