BR no Mundo: Felipe Augusto de Oliveira

Confira nosso papo com o atleta brasileiro que atua nas Ilha de Gozo em Malta

André Galassi
Blog De Bate e Pronto
7 min readFeb 22, 2019

--

Felipe Augusto de Oliveira é o famoso caso de atleta que abriu mão de tudo para ir em busca de seus sonhos. Com salários atrasados, comercializou balas nos semáforos de Americana, no interior de São Paulo e para conquistar seu lugar no futebol precisou vender televisão, tênis, celular e tudo o que tinha para pagar suas passagens.

Hoje em Malta, um microestado europeu próximo da Itália, o meia-atacante nos conta um pouco de como é a cultura mediterrânea, sua trajetória até chegar no pequeno território , seus desafios e metas para o futuro.

Confira essa entrevista exclusiva no DBeP:

DBeP: Em primeiro lugar, muito obrigado por aceitar nosso convite! Dito isso, se apresente para quem não te conhece, fale um pouco de você, sobre seu estilo de jogo e sua inspiração para jogar.

Felipe Augusto: Primeiramente é um prazer estar falando com vocês, eu que agradeço pela oportunidade. Pra quem não me conhece, eu sou Felipe Augusto, natural de Americana interior de São Paulo, tenho 24 anos e atualmente eu jogo Kercem Ajax aqui em Malta. Sou meio campista ou atacante, faço as duas funções. Hoje no futebol como inspiração eu tenho o Ricardo Oliveira, pelo fato dele ser atacante e centroavante, eu também fui a maior parte da minha carreira centroavante. Me espelho nele pelo fato do homem que ele é como pessoa e pelo profissionalismo dele, então em atividade hoje é o meu espelho é o Ricardo Oliveira.

DBeP: Você foi revelado em 2014 pela Juventus da Rua Javari. Depois disso rodou por alguns clubes do interior paulista, como União São João, Presidente Prudente e Grêmio Mauaense. Em um desses clubes você estava com salários atrasados e teve que vender balas para se sustentar, nos conte um pouco desse episódio.

Felipe Augusto: Sim, me profissionalizei em 2013 na verdade, pelo Juventus da Mooca e depois disso rodei alguns clubes pequenos aí da famosa Bezinha, a quarta divisão do futebol paulista e em um deles eu estava com salário atrasado e o clube não tinha alojamento, então a gente tinha que se virar e a gente alugou uma espécie de um kitnet, um flat pequenininho eu e mais dois companheiros de clube e a gente sem salário precisava pagar a conta da casa e não só aluguel, mas a água, a força também. Então a gente se viu em apuros e acabamos indo pro sinal vender bala pra conseguir o dinheiro da nossas contas para honrar com os compromissos. Foi um momento muito e difícil, mas também o momento de grande aprendizado que me fez amadurecer bastante para poder superar e fazer eu chegar onde estou hoje.

DBeP: Em 2018 você participou do Campeonato Paranaense pelo Foz de Iguaçu, antes de ir para Malta. Nos fale um pouco de como é a vida em clubes de menor expressão e quais são as maiores dificuldades enfrentadas nessas equipes.

Felipe Augusto: Sim, no primeiro semestre de 2018 tive a honra de jogar pelo Foz do Iguaçu, disputando a primeira divisão paranaense. Fizemos um excelente campeonato, no qual garantimos a vaga do clube para esse ano na Copa do Brasil e no Brasileirão Série D. Graças a Deus no Foz tínhamos uma estrutura boa, mas nos clubes de menor expressão, como eu já falei da famosa Bezinha em São Paulo, eu acabei passando muita dificuldade. Clube que as vezes não tinha nem a comida pra gente comer, o outro não tinha alojamento, como falei, enfim. Salário sempre atrasado além de ser muito pouco era sempre atrasado, condições de trabalho também nem sempre das melhores, em questão de material para treinamento, campos, enfim, muita dificuldade mesmo. Mas aí como eu disse são essas dificuldades que que nos fazem crescer e amadurecer para gente chegar e dar valor quando a gente consegue.

DBeP: Em 2018, você chegou ao Kercem Ajax, de Malta. Como o clube apareceu na sua vida, digo, como eles descobriram Felipe Augusto?

Felipe Augusto: Na verdade eu vim para Malta a convite de um amigo que já tinha jogado aqui. Ele me arrumou um teste, mas não foi no Kercem, foi em outro clube aqui da ilha e aí acabou que eu vim pra cá, eu tive que pagar minha passagem, vender tudo que eu tinha no Brasil, televisão, tênis, celular, enfim, vender tudo mesmo que eu tinha pra conseguir o dinheiro da passagem e fazer esse teste. Falei pra mim mesmo e prometi para minha família que eu não voltaria para trás, eu estava largando tudo, porem ia dar certo. E aí acabou que eu vim pro clube e não deu certo na primeira equipe, fiquei um pouco desesperado, mas graças a Deus apareceu o convite do Kercem Ajax, para fazer um teste lá e eu acabei me saindo bem e fui contratado por eles e hoje estou aqui defendendo as cores da equipe.

DBeP: O Kercem disputa a liga da Ilha de Gozo, que pertence a Malta. Passados alguns meses aí, como está sendo sua adaptação a ilha? Quais as principais diferenças culturais que você está sentindo?

Felipe Augusto: A vida aqui na ilha eu não posso reclamar de nada, uma vida muito tranquila, muito segura. No começou na adaptação o que foi mais difícil foi a questão da língua, do idioma. Eles usam inglês, eu não sabia falar, foi mais complicado assim no começo pra se comunicar principalmente durante os treinamentos. Mas já passado sete meses que eu estou aqui hoje já me comunico bem com os meus companheiros de trabalho, também no dia. Não falo fluente mas consigo me virar tranquilamente sozinho. A diferença é basicamente a segurança do país, um local muito seguro, muito tranquilo. É um povo muito acolhedor e também o custo de vida que é muito abaixo do Brasil, uma diferença gritante, para você poder viver. É um país espetacular.

DBeP: E em termos de estrutura, quais são as maiores diferenças do futebol brasileiro para o futebol maltês?

Felipe Augusto: Em questão de estrutura futebol brasileiro é bem mais profissional, pelo fato de o Brasil ser o país do futebol. Se fizer uma pesquisa, a cada 10 crianças tenho certeza que no mínimo sete, tem o sonho em ser jogador de futebol. Então, os clubes do Brasil pôr mais pequenos que sejam sempre tem uma estrutura bem profissional, sempre tem um cronograma de trabalho. Aqui é um pouco diferente, a gente treinar um período só que é a noite. Eu faço academia por conta para treinar sempre a mais, já que a gente quer chegar em lugares maiores. É um pouco diferente nesse sentido, o Brasil é visto como o sonho de todo mundo aqui. Eles não têm futebol como a gente tem no Brasil, mas também não tenho nada o que reclamar, é uma estrutura bacana que dá pra trabalhar tranquilamente.

DBeP: Recentemente você marcou o famoso gol que o Pelé não fez e está fazendo até uma hashtag de campanha. Já se imaginou ao lado de Cristiano Ronaldo e companhia na premiação? É um sonho que pode se tornar realidade?

Felipe Augusto: Sim, foi lançada a campanha pelo Globo Esporte, é o Felipe Augusto no Puskas, #FelipeAugustoNoPuskas. Graças A Deus já bombou no Brasil todo, fora do Brasil também, no Olé da Espanha, Argentina, enfim, vários lugares do mundo já compartilhando esse vídeo e falando sobre o gol. Pra ser bem sincero, a minha ficha ainda não caiu de que eu posso estar do lado dos maiores jogadores do mundo no final do ano concorrendo esse prêmio. Para ser bem sincero minha ficha não caiu, as vezes me pego pensando, eu posso estar do lado do pessoal que eu jogo pelo videogame, vejo apenas pela televisão e a ficha ainda não cai. Mas se Deus quiser, se for da vontade de Deus vai dar tudo certo e vou estar lá representando o Brasil no final do ano.

DBeP: Você tem apenas 24 anos, ainda é jovem. Quais são seus planos para o futuro? Pretende retornar ao Brasil ou acha que seu futuro é na Europa?

Felipe Augusto: Sim, ainda sou jovem e o meu futuro prefiro deixar nas mãos de Deus, ele sabe de todas as coisas. Se eu estou aqui hoje não é por merecimento, é pela graça e misericórdia de Deus. Se eu for contar história detalhadamente, eu já desisti do futebol algumas vezes, e hoje eu sou a prova viva de que Deus é na minha vida, então somente agradecer a ele por esse momento. O meu futuro é continuar trabalhando aqui primeiramente onde eu estou, no Kercem, porque depois essa repercussão toda com certeza cobrança vai ser maior, então eu tenho que continuar desempenhando um bom futebol. E deixar nas mão de Deus, claro que se rolar um convite do Brasil que seja uma proposta bacana para mim é válido, é legal, eu pretendo sim, mas também se pintar outras propostas seja de qual país for, ou até aqui mesmo, aonde já teve algumas sondagens. Enfim, vamos ver a temporada está acabando agora terminei abril, é esperar acabar e sentar com a minha família para decidir o que é melhor.

Confira o gol de Felipe que rodou o mundo, e pode ser forte candidato ao Prêmio Puskas (Vídeo: Soccer Top Goals)

--

--

André Galassi
Blog De Bate e Pronto

São Carlense e amante de um bom e velho esporte bretão.