Duelo DBeP: Gamarra vs Lugano

Da América do Sul para o mundo

Lucas Parolin
Blog De Bate e Pronto
8 min readFeb 8, 2019

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Dois zagueiros latino-americanos com grandes histórias na Copa do Mundo e em clubes paulistas, Lugano e Gamarra são defendidos à unha e dentes por seus fãs. Apesar dos dois terem se enfrentado poucas vezes, eles travam duelos imaginários em mesas de bar ao redor do país (e, muito provavelmente, também da América do Sul). Seus estilos, porém, se contrastam: enquanto Gamarra era mais técnico, Lugano se destacou por sua inigualável liderança e garra dentro de campo.

Gamarra: o mais velho dos dois jogadores nasceu no Paraguai, no 17 de fevereiro de 1971. Os primeiros chutes foram com o pequeno 30 de Agosto, da liga Capiateña, uma liga regional paraguaia. Dado seu sucesso por lá, já em 1991 foi para a base do tradicional Cerro Porteño, onde rapidamente subiu para o time profissional e, logo em 1992, venceu seu primeiro título nacional. Seu início foi, de fato, meteórico: Gamarra já disputou os Jogos Olímpicos no mesmo ano, foi transferido para uma curta passagem no Independiente da Argentina e voltou ao Cerro em 1993, quando também estrearia na seleção principal paraguaia. Depois de mais um título nacional com os Azulgrana, em 1994, Gamarra iniciou sua carreira futebolística no Brasil, ao ser transferido para o Internacional de Porto Alegre.

Antes do Corinthians, veio o Internacional (Foto: Site oficial — Internacional)

Foi nos gramados gaúchos que o futebol de Gamarra começou a desabrochar de verdade. Em 1996, ajudou o clube a vencer o Torneio Mercosul de 1996 e o Campeonato Gaúcho de 1997, em uma final contra o arquirrival Grêmio. No mesmo ano, foi homenageado pela confederação de seu país como “Jogador Paraguaio do Ano”, prêmio que venceria também no ano seguinte.

Ainda em 1997, Gamarra tentaria, pela primeira (mas não última) vez a sorte no Velho Continente. O paraguaio de ruivos cabelos se transferiu para o Benfica, em Portugal, mas não obteve grande destaque. Então, foi a hora de arrumar as malas e voltar ao Brasil, para o Corinthians, clube onde viveria seus melhores momentos como jogador.

O ano de 1998 foi imenso para Gamarra. Na equipe de Vanderlei Luxemburgo, o zagueiro comandou a defesa do clube paulista e se sagrou campeão brasileiro daquele ano. Na Copa do Mundo, porém, veio o grande momento. Apesar da precoce eliminação nas oitavas-de-final para os anfitriões (e eventuais campeões) franceses, Gamarra se destacou por jogar quatro partidas sem marcar uma única falta, algo impressionante para um zagueiro. E olha que ele enfrentou nomes como como Stoichkov, Raúl, Kanu, Henry e Trezeguet! Com essa marca, ele foi eleito para a seleção do torneio e se tornou nome comum nas especulações dos grandes clubes europeus.

O auge corinthiano (Foto: Tudo Timão)

O expressivo número não veio por acidente. Baixo para um zagueiro (1,77m), Gamarra tinha que compensar seus poucos atributos físicos com uma técnica impecável. O paraguaio, então, tornou-se mestre dos botes e do posicionamento. Assim, nenhum desarme seu era em vão: Gamarra chegava sempre limpo na bola, sempre com a certeza de que levaria a melhor. Também um marcador implacável, ele tinha o dom de prever a jogada antes de que ela acontecesse, assim evitando disputados corpo a corpo e na velocidade contra atacantes mais altos, fortes e velozes que ele.

Uma Copa e nem uma mísera falta: Gamarra (Foto: Trivela)

É claro, os rumores não tardaram em se tornarem realidade. No ano seguinte, após conquistar o título estadual com o Corinthians (mais uma vez, vencendo o rival histórico do clube, o Palmeiras), Gamarra foi transferido para o Atlético de Madrid. O sonho de uma passagem brilhante por um clube europeu, porém, não veio. O clube de Madrid teve uma temporada horrorosa e terminou rebaixado no Campeonato Espanhol. Mais uma vez, Gamarra retornou ao Brasil, dessa vez para o Rio de Janeiro.

No clube carioca, Gamarra oscilou entre altos e baixos, mas conseguiu conquistar em 2001 a Copa dos Campeões e o Campeonato Carioca (contra mais um rival histórico de seu clube, o Fluminense). Com os salários atrasados no Flamengo, lá foi ele, mais uma vez, desbravar os campos europeus. Depois de conhecer Portugal e Espanha, Gamarra foi para a Grécia, jogar no AEK Atenas. Agora, sim, finalmente, o zagueiro teve algum sucesso pelo continente que consagrou Zinedine Zidane, ao conquistar em 2002 a Copa da Grécia. Foi então que um de seus maiores sonhos se tornou realidade: Gamarra foi transferido para a Internazionale de Milão e desfilaria seu futebol por gramados italianos.

Antes disso, porém, ele disputou mais uma Copa do Mundo. No Japão e na Coréia, história repetida: eliminação nas oitavas-de-final , sem cometer sequer uma falta. Porém, desta vez a indicação para o melhor time do torneio não veio.

O sonho italiano (Foto: US Sports Guru)

Gamarra passou três anos na Itália e foi bastante aproveitado nos primeiros dois. Em 2004, veio o principal resultado com a seleção paraguaia: a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, com Gamarra capitão. Na Itália, porém, o zagueiro viveu uma seca de títulos ao lado da Internazionale. Em 2005, com Gamarra já no banco, I Nerazzurri venceu a Copa da Itália, mas o ruivo já não estava feliz ali. Arrumou as malas e foi para o Palmeiras, para a tristeza de muitos corinthianos.

No Palmeiras, a única felicidade foi ser eleito para a seleção do Campeonato Brasileiro de 2005. O jogador ainda participou da Copa do Mundo na Alemanha em 2006, onde anunciou sua aposentadoria da seleção paraguaia. Em 2007, ele voltou ao seu país natal para defender o Olimpia, onde encerrou a carreira em 2008.

Lugano: um dos maiores ídolos são-paulinos das últimas décadas (e, quiçá, de toda a história), Diego Lugano nasceu no 2 de novembro de 1980 em Canelones, no Uruguai. O zagueiro deu seus primeiros passos no futebol em sua cidade natal, no Club Atlético Libertad. Com o bom futebol, se mudou para Montevidéu para defender as categorias de base do Nacional, e em 1999 teve a chancela de outra lenda uruguaia, Hugo de León, que atuava como técnico do time na época, para subir à equipe titular.

Inícios (Foto: Twitter)

No Nacional, já encontrou glórias. Foram dois títulos nacionais seguidos, em 2000 e 2001, jogando ao lado de outro uruguaio bastante conhecido pelo Brasil, “El Loco” Abreu. Então, foi emprestado ao Plaza Colonia, também no Uruguai, para jogar sob a batuta de Diego Aguirre. Lugano e o resto do elenco fizeram história no modesto clube, ao vencer o tradicionalíssimo Peñarol no Estádio Centenário pela primeira vez e se classificar para a Libertadores 2003.

Os êxitos chamaram a atenção de um certo clube na cidade de São Paulo, e a vida de Diego Lugano nunca mais seria a mesma. Contratado sob desconfiança e com a pecha de “Homem do Presidente”, pelo grande esforço que o então-presidente do Tricolor Paulista, Marcelo Portugal Gouvêa, fez em trazê-lo, Lugano demorou para engrenar. Amargou a reserva até a saída do técnico Oswaldo de Oliveira, ainda em 2003, e passou a desfilar seu estilo raçudo e de muita garra na titularidade são-paulina. Em 2005, veio a glória máxima: Campeonato Paulista, Libertadores e Mundial como titular absoluto do esquadrão. Nascia, ali, o Diós do São Paulo.

Um Diós entre um esquadrão (Foto: Gazeta Esportiva)

Em 2006, após a derrota são-paulina na final da Libertadores para o Internacional, don Diego iniciou sua carreira na Europa, deixando muita tristeza para os torcedores paulistas.

O Fenerbahçe da Turquia foi seu destino. Lá, ele chegou a um nível de idolatria semelhante ao vivido no Brasil: foram dois Campeonatos Turcos, duas Supercopas da Turquia e, mais uma vez, muito sangue e suor em campo. Diego Lugano era, senão brilhante com a bola nos pés, um verdadeiro batalhador na cancha.

Capitão de uma grande fase da Celeste (Foto: Pênalti FC)

O ano de 2007 também marcou seus primeiros êxitos com a seleção uruguaia. Ele já defendia a Celeste desde 2004, porém a equipe sequer se classificou para a Copa de 2006 na Alemanha. Na Copa América de 2007, Lugano foi apontado como o capitão do esquadrão, posto que tardaria a soltar. Em 2008, veio o primeiro gol internacional, contra a Venezuela nas Eliminatórias. Um ano depois, garantiria junto aos seus companheiros a participação do Uruguai na Copa de 2010.

O torneio foi um show à parte para Lugano e os demais uruguaios. Com muito raça e um belo futebol, eles chegaram às semifinais, quando foram eliminados pela Holanda em um jogo eletrizante por 3–2. Ninguém se esquece, porém, da batalha campal que foram as quartas-de-final contra Gana, em um jogo marcado espetacularmente por seu companheiro Luís Suárez.

A seleção uruguaia liderada por Lugano ainda traria muitas felicidades a seus compatriotas. Na Copa América do ano seguinte, disputada na Argentina, a Celeste levantou o caneco após vencer o Paraguai na final. Lugano, é claro, fez parte de toda a conquista.

De volta à esfera do futebol de clubes, Lugano atuou no Fenerbahçe até agosto de 2011, quando foi para a França jogar no Paris Saint-Germain, em uma transação de cerca de três milhões de euros. A passagem por lá, porém, deixou menos saudades: dois anos de clube, 21 partidas, um gol e nenhum título.

No fim, menos êxito e a garra de sempre (Foto: Sambafoot)

Lugano, então, passou a flutuar por equipes de menor expressão pela Europa. A primeira parada foi no Málaga. Depois, um pulo na Inglaterra para jogar West Bromwich. Por fim, uma viagem à Suécia, no Häcken. Em 2015, voltou à América do Sul para atuar no paraguaio Cerro Porteño. Os ares de Símon Bolívar o fizeram bem: ele voltou à antiga forma e teve ótimo rendimento. Foram 16 jogos, cinco gols e um vice-campeonato nacional.

Lugano é o São Paulo e o São Paulo é o Lugano (Foto: SPFC)

Quando Diego já estava pensando em encerrar a carreira, havia ainda quem clamasse por sua volta: o São Paulo Futebol Clube, é claro. Em 2016, Lugano voltou para a alegria dos tricolores de todo o Brasil para ser a presença experiente que o clube precisava. A performance não foi a mesma de outrora, é verdade. Mas, quem se importa? O importante era ter o ídolo de volta.

Lugano jogou no São Paulo até 2017, quando se aposentou de vez. Hoje em dia, ele faz parte do corpo de dirigentes do clube, para nunca mais sair do local aonde ele mais foi feliz.

Duelo estatístico:

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