Duelo DBEP: Leônidas da Silva vs Heleno de Freitas
Dois centroavantes que marcaram época
Craques do passado Leônidas e Heleno são referências no assunto gols. Ídolos em seus clubes, os atletas viveram vidas distintas. Enquanto um era humilde e sereno, o outro se destacou pela vida boemia que resultou em sua morte precoce.
Leônidas da Silva:
De família simples no subúrbio carioca, Leônidas deu seus primeiros passos nas categorias de base do São Cristóvão, mesmo time que posteriormente encontraria Ronaldo Fenômeno. Depois rodou por vários clubes do subúrbio carioca, até ser contratado, aos 17 anos, pelo Sírio Libanês.
Em 1931 defendeu as cores do Bonsucesso, onde deu início a sua semi profissionalização ao assinar seu primeiro contrato, pelo qual receberia quatrocentos mil réis por mês. Destaque no rubro-anil com uma media de 1,07 gols por partida chegou a seleção carioca e consequentemente a seleção brasileira, onde ganhou o apelido ‘‘Diamante Negro’’.
Ainda jovem foi a Itália para a disputa da Copa de 1934, mas pouco pode fazer para aquela que seria a pior campanha de nosso país em um mundial.
Após voltar da Itália trocou o Vasco pelo Botafogo e depois de declarar sua torcida para o Flamengo, rumou em direção a Gávea. Sobre o ocorrido, o ex técnico do Botafogo Carlito Rocha disse 30 anos mais tarde “O Leônidas deu uma entrevista no Rio Grande do Sul, afirmando que era Flamengo de coração. Quando voltou, confirmou-me as declarações. Mandei-o embora imediatamente e fixei o preço do passe em cinco contos [de réis], que era o quanto ele devia à tesouraria do clube. No dia seguinte, o Flávio Costa foi lá no clube e levou o Leônidas para o Flamengo. Eu não podia admitir no Botafogo um atleta que dizia, publicamente, que por baixo da camisa alvinegra, pulsava um coração rubro-negro. Não podia’’.
Seu sucesso no Flamengo foi estrondoso. Ao todo foram cinco temporadas (1936–41) e a incrível marca de 153 gols em 149 jogos. Pelo rubro negro ganhou apenas o Carioca de 1939, assim como já havia ganho em 1934 pelo Vasco e em 1935 pelo Botafogo.
Ainda no final da década de 1930, Leônidas foi o maior destaque da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1938, competição no qual foi artilheiro com 8 gols anotados.
Em 1942 se transferiu para o São Paulo. Sua estreia é o recorde de público do estádio do Pacaembu com mais de setenta mil torcedores presentes. Fez mais de 200 jogos pelo tricolor, onde acumulou cinco campeonatos paulistas.
Pelo time da capital paulista, eternizou o gol de bicicleta, jogada clássica no futebol de sua autoria. Realizou a acrobacia em duas oportunidades, a primeira, contra o Palestra Itália, e a segunda — e mais famosa — contra a Juventus.
Na seleção realizou 37 partidas e somou 37 gols durante os anos de 1933 a 1946. Sua precisa media de um gol por partida permanece até hoje como o recorde brasileiro.
Após sua aposentadoria assumiu um cargo na direção do São Paulo, logo depois virou comentarista na rádio. Entretanto teve sua carreira jornalística pausada em 1974 devido ao Mal de Alzheimer. Ficou internado em uma clinica até 2004, quando faleceu.
Uma notoriedade em sua vida foi ser o primeiro negro a assumir uma posição de destaque no esporte brasileiro, o que lhe rendeu diversas críticas de cunho racistas e ao mesmo tempo ser a inspiração de diversas pessoas que viam em seu ídolo a esperança de uma vida melhor.
Heleno de Freitas:
Diferente de Leônidas, Heleno desde jovem era considerado membro da alta sociedade. Estudou na escola São Bento, a mesma que Raul Seixas e Jô Soares. Após a escola ainda cursou Direito na UERJ.
Seu futebol foi descoberto nas areias de Copacabana pelo famoso olheiro carioca Neném Prancha, que o levou para o departamento juvenil do Botafogo em 1935. Pelo encerramento das atividades de categoria de base, Heleno acabou indo para o Fluminense, mas sua carreira profissional começaria em 1939 pelo clube de General Severiano.
Nervoso em campo e boêmio fora dele, Heleno se irritava facilmente e muitas vezes discutia com os seus próprios companheiros de equipe. Durante seus nove anos de Botafogo realizou 233 partidas e marcou 204 gols. Seus feitos o caracterizaram como o principal ídolo alvinegro antes de Garrincha, mesmo que nunca tenha ganhando um título pelo clube.
Em 1948, após muitas brigas internas, o ‘‘príncipe maldito’’ — apelido que ganhou pela sua vida boemia durante os nove anos de Botafogo — foi negociado com o Boca Juniors, na maior transação do futebol brasileiro até então.
Durante sua passagem no time argentino as primeiras marcas de seus vícios em éter e lança perfume apareceram e o brasileiro não encantou. Ao todo foram 17 jogos e apenas sete gols.
Em 1949 retornou ao futebol brasileiro atuando pelo Vasco, onde ganhou o único troféu de sua carreira por clubes, o de campeão carioca de 1949.
Depois do time cruz maltino, Heleno passou pelo Junior Barranquilla na Liga Pirata da Colômbia, lá foram 47 jogos e apenas 14 gols e uma popularidade imensa, que até hoje é percebida com a estatua de Heleno em frente ao estádio.
Retornando ao Brasil ainda atuou por Santos e América (RJ). No alvinegro praiano não realizou nenhuma partida, fruto das brigas com elenco e torcida durante os treinos. Já pelo mecão fez sua estreia em 1953, entretanto aos 30 minutos de jogo foi expulso, sendo assim o ultimo jogo de sua carreira. O jogo marcou também sua única partida no Maracanã.
Fez apenas 18 partidas com a seleção, marcando 15 gols. Seu maior sonho era disputar uma Copa do Mundo, entretanto devido a Segunda Guerra Mundial não teve a oportunidade nos anos de 1942 e 1946, além de 1950, no qual com 30 anos não pôde participar por dois motivos. Primeiro, o técnico do Brasil era Flávio Costa. Segundo, a liga colombiana não era reconhecida pela FIFA e quem nela atuava não poderia ser chamado para uma competição reconhecida pela entidade mundial.
Os vícios em éter e lança-perfume e a sífilis foram, aos poucos, acabando com sua saúde mental, resultando na internação de Heleno em uma clínica em Barbacena (MG). Após quatro anos internado faleceu em 1959.
Sua vida é contada no livro no livro Nunca houve um homem como Heleno, do jornalista e escritor Marcos Eduardo Neves, e no filme Heleno estrelado por Rodrigo Santoro.
E ai, quem leva a melhor nesse duelo?