Duelo DBeP: Marcelinho Carioca vs Neto

Matheus Mazon
Blog De Bate e Pronto
6 min readFeb 1, 2019

Trata-se de dois ídolos do Corinthians dos anos 90, os quais se destacaram pela qualidade nas bolas paradas e pelos títulos importantes conquistados pelo clube

Olhando para o passado e analisando com frieza, é nítida a semelhança entre os jogadores. Ambos são ídolos do rubro-negro da capital paulista, conquistaram títulos importantes, atuavam no meio-campo e eram exímios cobradores de falta.

Na imagem, vemos Neto (à esquerda) e Marcelinho Carioca (à direita), comemorando importantes gols com a camisa do Timão

Neto: Nascido em Santo Antônio de Posse, José Ferreira Neto foi atrás de seu sonho de ser jogador de futebol em Campinas. Iniciou sua carreira no dente de leite da Ponte Preta, em 1979, incentivado pelo pai, que necessitava do sucesso do filho para o sustento de sua família. Porém, logo após alguns meses, devido a falta de alojamento no estádio Moisés Lucarelli, Neto se transferiu para o Guarani, o qual lhe oferecia melhor estrutura. O meia-esquerda encantou os olhos das torcedores bugrinos e chamou a atenção de olheiros dos grandes clubes do país, após marcar 59 gols em 73 jogos pelo time campineiro. No entanto, Neto foi contratado pelo Bangu, do Rio de Janeiro, em 1986, e teve uma passagem breve pela equipe, fazendo apenas um gol na temporada.

Em 1987, a vida do garoto do interior do estado paulista ganha mais holofotes, transferindo-se para o São Paulo Futebol Clube. Apesar do titulo estadual, a passagem de Neto pelo clube foi discreta, marcando 5 gols em 33 partidas, e isso se deu pelo fato do ex-jogador ter sofrido um acidente automobilístico na época, deixando-o fora dos gramados por um certo tempo.
No ano seguinte, Neto retorna ao Guarani, fazendo ainda mais sucesso e conquistando o vice-campeonato paulista daquele ano. O jogador fez 15 gols em 44 jogos na temporada, e um desses gols tomou repercussão nacional, o chamado “Golpe de Mestre”, nome dado pela revista Placar ao antológico gol de bicicleta de Neto sobre o Corinthians, no primeiro jogo da final do Paulistão de 1988. Atuações brilhantes e gols marcantes fizeram com que o camisa 10 ganhasse a convocação e medalha de prata nas olimpíadas de Seul e tivesse mais uma oportunidade em um clube grande do país, sendo contratado pelo Palmeiras em 1989. Mais uma decepção! Os fracos desempenhos no time e as poucas oportunidades dadas pelo técnico Emerson Leão culminaram em apenas 25 jogos e 9 gols no Palestra Itália, e assim, a transferência para o arquirrival já era uma realidade.

A partir da chegada no Corinthians, no mesmo ano, a carreira de Neto finalmente deslanchou. A impressão que dava aos torcedores era de que o meia-esquerda havia nascido para aquele clube e logo em 1990, seria, para muitos, o melhor ano da carreira de Neto. Ao lado de Ronaldo Giovaneli, Wilson Mano, Tupãzinho, entre outros craques, o “xodó da Fiel”, apelido dado a Neto na mesma temporada, conquistou o primeiro título brasileiro da história do time do Parque São Jorge, sendo protagonista durante o torneio e principalmente, em horas decisivas, como por exemplo, a assistência para Wilson Mano no primeiro jogo da finalíssima, contra o São Paulo, em pleno Morumbi. Porém, na mesma temporada houve uma decepção na carreira de Neto. Havia a expectativa do meia disputar a Copa do Mundo daquele ano, mas Sebastião Lazaroni, técnico da Seleção Brasileira na época, não o convocou, devido ao comportamento do jogador. Naquele torneio, o Brasil teve um desempenho muito abaixo do esperado e manchou a carreira de Lazaroni, fato que Neto ironiza até hoje nos Donos da Bola, seu programa na TV Bandeirantes.

A partir daí, Neto continuou a fazer gols pelo timão, e conquistou momentos de glória, principalmente no Maracanã, com uma pintura de falta da intermediária sobre o Flamengo, do goleiro Gilmar Rinaldi. Falando em gol de falta, deve-se enfatizar que Neto era um especialista no assunto e até hoje é lembrado pelas suas cobranças perfeitas. Segundo o Almanaque do Timão, Neto balançou a rede 24 vezes pelo clube em cobranças de falta, sendo considerado um dos melhores de todos os tempos nesse quesito.

Após a saída do Corinthians, José Ferreira Neto passou por vários clubes do Brasil, como Santos, Atlético-MG, e até um retorno ao time de Itaquera em 1997. Neto hoje possui 52 anos e trabalha na TV Bandeirantes, apresentando um programa esportivo diariamente na hora do almoço, além de fazer sucesso com declarações e vídeos engraçados nas redes sociais.

Marcelinho Carioca: Filho de um gari e uma empregada doméstica, Marcelo Pereira Surcin foi descoberto no Madureira e transferido à Gávea aos 16 anos, em 1987. Marcelinho, na época, parecia já ser iluminado. Promovido ao profissional por ninguém menos que Telê Santana, em 1988, o menino de apenas 17 anos ganhava uma chance no profissional, estreando em um Fla-Flu, substituindo Zico, em pleno Maracanã. Não tinha jeito melhor de começar uma carreira!

Apesar de dois títulos de expressão, a Copa do Brasil de 1990 e o Campeonato Brasileiro de 1992, Marcelinho foi negociado pelo Flamengo em 1993, contra sua vontade, situação em que declarou “quando foram me vender, eu não queria. Eu saí extremamente chateado e triste, porque me tiraram para pagar o salário dos medalhões.” No entanto, ele não imaginaria que, juntando-se ao Corinthians, viveria os melhores momentos de sua carreira.

Logo em sua chegada, Marcelinho “Carioca” ganhou esse apelido no Parque São Jorge, com o intuito de não haver confusão com o outro Marcelinho do elenco, e em sua primeira entrevista coletiva, se declarou disposto a conquistar títulos e fazer história pelo Timão. E por ali passaram-se quatro anos, tendo conquistas importantes, como os Paulistas de 1995 e 1997, e a Copa do Brasil de 1995, além de marcar 101 gols em 187 jogos. As atuações de destaque fizeram o Valencia, da Espanha, contratar o jogador em 1997.

Entretanto, com apenas 11 jogos e dificuldade de adaptação na Europa, Marcelinho Carioca noticia publicamente a vontade de voltar ao Brasil. Sendo assim, Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) na época, criou o famoso “disque Marcelinho”, na qual os torcedores dos quatro grandes de São Paulo poderiam ligar à Federação, com o custo de apenas três reais, caso quisessem o jogador em seus respectivos times. Ao término da votação, em apenas uma semana, a FPF constatou a vitória dos corintianos com 62% dos votos e contratou o jogador, juntando-se ao Timão, em um elenco recheado de craques.

Apesar do famoso pênalti perdido na semifinal da Libertadores de 1999, contra o Palmeiras, Marcelinho Carioca se destacou e nessa passagem, a mais vitoriosa dele no Corinthians, conquistando o Campeonato Brasileiro consecutivamente, em 1998 e 1999, além do inesquecível título mundial, em 2000, ganhando jogos contra times como Vasco e Real Madrid. Após essas grandes conquistas, o meio-campista virou ídolo da torcida e ganhou o apelido de “Pé-de-Anjo”, devido ao seu pé pequeno, calçando 36, o qual ajudava-o a cobrar faltas com tanta perfeição. Marcelinho Carioca se despediu do Corinthians marcando 206 gols.

Após a saída da capital, devido aos desentendimentos com jogadores do elenco, Marcelinho se transferiu ao Santos em 2001, onde teve passagem discreta. Continuou tendo passagens discretas em clubes mundo afora, como Gamba Osaka, do Japão, Al-Nassr, da Arábia Saudita, Vasco da Gama, entre outros.

Em 2007, o jogador aceita uma proposta do Santo André, e apesar de estar em final de carreira, consegue atuar em 100 jogos, durante dois anos, marcando 15 gols e levando o time do ABC Paulista à disputa da primeira divisão do Brasileirão, em 2009. Marcelinho se torna ídolo por lá e decide por se aposentar em 2010, atuando em um único jogo pelo Corinthians, time em que se consagrou e teve seu auge na carreira.

Duelo estatístico:

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Matheus Mazon
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Utilizo aqui para falar de futebol. Jornalista em formação, criador do Canal Grandes Ligas e do Cartoletando.