Duelo DBEP: Pavel Nedved vs Andrey Arshavin

Lucas Parolin
Blog De Bate e Pronto
6 min readNov 26, 2018

Meias nascidos para lá da cortina de ferro que encantaram a Europa e o mundo

Pavel Nedved e Andrey Arshavin dividem, além da origem leste-europeia, o distinto talento com a bola nos pés. Os meias cerebrais, de cabelos e olhos claros e que ainda conheciam o caminho do gol, tiveram, porém, carreiras bastante distintas, muito em razão das repetidas e crônicas lesões de um deles.

Pavel Nedved

Nedved nasceu na antiga Tchecoslováquia na cidade de Cheb no 30 de agosto de 1972, mas cresceu a 20 minutos dali, em Skalná. Foi nesta cidade que ele chutou uma bola pela primeira vez, e aos cinco anos de idade já defendia o clube local, o Tatran Skalná. Aos 13 anos, o tcheco voltou a sua cidade natal para defender o Rudá Hvězda Cheb e lá ficou por um ano, para depois passar mais cinco no Škoda Plzeň. Depois, como parte de seu serviço militar obrigatório (ou já esqueceram que estamos falando de um satélite da antiga União Soviética?), Nedved foi transferido para o time oficial do exército, o Dukla Prague, na capital do país. Após o fim da obrigatoriedade, Pavel continuou em Praga, mas dessa vez defendendo as cores do tradicional Sparta Prague.

Pavel Nedved, sensação da Eurocopa 1996 (Foto: Imortais do Futebol)

O ano era 1992 e Nedved já estava na tenra idade de 20 anos, e começando a abrir os olhos do futebol nacional. Depois de alguns títulos nacionais com o clube, ele começou a ser convocado para a seleção nacional. Em 1996, na Eurocopa, o meia impressionou ao marcar um gol contra a Itália na fase de grupos. Sua seleção ainda chegaria à final, quando seria derrotada nos pênaltis pela Alemanha. A performance do meia — habilidoso, rápido, cerebral e propenso sempre a marcar gols — chamou as atenções do holandês PSV, com quem Nedved chegou a firmar um acordo verbal, mas foi a italiana Lazio que pescou o jovem talento em um contrato de quatro anos valendo ₤1.2 milhões. Era o começo de uma bonita jornada no país em forma de bota.

Na Lazio, Nedved foi muito feliz (e seus torcedores, também). Venceu a Coppa Itallia em 97–98 e 99–00, chegou à final da Copa UEFA de 97–98 e ainda conquistou a Recopa Europeia em 98–99, com direito ao gol do título. Em 2001, o meia renovou seu contrato com Le Aquile, mas mesmo assim o clube tentou vendê-lo no meio do ano. Quem procura, acha, e Nedved partiu para a Juventus em julho por 75 bilhões de liras, equivalente a mais de 38 milhões de euros atualmente.

Nedved na Lazio: bom início no futebol italiano (Foto: Calciopédia)

Foi na Juventus que Nedved viveu seu auge. O tcheco não tinha uma tarefa fácil: ele seria o substituto de ninguém mais, ninguém menos, que Zinedine Zidane, recém-partido para o Real Madrid. Por mais que as chuteiras fossem difícil de calçar, ele se saiu muito bem. Foram dois Campeonatos Italianos consecutivos, em 01–02 e 02–03, e também duas Supercopas da Itália, em 2002 e 2003. O Juventino, com certeza, ainda há de se lembrar que a estrela do meio-campo não pode participar da final da Champions League de 2003 contra o Milan, por razão de acúmulo de cartões amarelos. Ainda assim, ele foi eleito o Futebolista do Ano pela revista World Soccer naquele ano, além do prêmio de Futebolista Europeu do Ano, o que o tornou apenas o segundo jogador tcheco a conquistar a honraria. Vale lembrar que ele ficou a frente “apenas” de uns tais de Thierry Henry e Paolo Maldini.

Ídolo Juventino (Foto: YouTube)

Já 2005 começou mal para Nedved. Lesões no joelho e na cabeça o fizeram perder os dois primeiros meses da temporada. A Juventus até venceria o caneco naquele ano, e no próximo, mas o escândalo do Calciapoli não apenas retirou os títulos do clube, mas também o relegou para a segunda divisão nacional. É aqui que Nedved, já um grande jogador da história da Juventus, passa a ídolo. Diferentemente de jogadores como Fabio Cannavaro e Lilian Thuram, Pavel permaneceu na Juventus, lutou para trazer o clube de volta a Serie A e, claro, obteve sucesso na missão. Ele é, até hoje, o estrangeiro que mais atuou pelo clube.

Em 2009, Nedved deixou os gramados para começar a atuar na diretoria da Juventus, posto que ocupa até hoje. Em junho de 2018, porém, o jogador voltou a calçar chuteiras rapidamente para jogar uma partida oficial com seu filho no FK Skalná, clube da cidade onde cresceu.

Na seleção, Nedved participou de três Eurocopas (chegando à final em 1996 e à semifinal em 2004) e da Copa do Mundo de 2006, a primeira da República Tcheca (o país havia participado anteriormente apenas como Tchecoslováquia). Na Copa, porém, Nedved não foi muito bem: não marcou nenhum gol (até venceu o goleiro ganês, mas estava impedido) e sua seleção ficou pelo caminho logo na fase de grupos.

Andrey Arshavin

Andrey Arshavin nasceu na antiga Leningrado, atual São Petesburgo, no dia 29 de maio de 1981. Sua vida não foi nada fácil. Primeiramente, ele esteve envolvido em um acidente automobilístico logo quando criança, no qual teve sorte de escapar com vida. Aos 12 anos, seus pais se divorciaram, e o jovem russo dormiu muitas vezes no gelado chão da casa de sua mãe. Seu pai, um jogador de futebol profissional de pouco sucesso que faleceu precocemente aos 40 anos, o incentivou a buscar a mesma carreira. Sorte deles.

Arshavin começou cedo, aos sete anos, nas academias do Zenit. Depois de anos nas categorias de base do clube, ele teve sua primeira chance na equipe principal aos dezenove anos. Porém, foi apenas em 2007 que ele conheceu o sucesso pela primeira vez. Shava, como era conhecido entre os fanáticos do Zenit, foi titular em todos os 30 jogos, marcou 11 gols e distribuiu 11 assistências na conquista do título nacional russo do clube. Era o início de seu estrelato. Na temporada 07–08, foi eleito o melhor jogador em campo na final da Copa UEFA, conquistada também pelo Zenit. Ainda naquele ano, lideraria a seleção russa às semifinais da Eurocopa, marcando dois gols durante a competição. O atleta de 27 anos agora era conhecido por toda a Europa.

Demorou, mas Arshavin enfim mostrou seu talento (Foto: Arsenal.com)

Não foram poucos os clubes que se interessaram por aquele meia de drible fácil e faro de gol. O vencedor do leilão foi o Arsenal, que ofereceu 18 milhões de euros pelo craque (curiosamente, apenas um milhão a mais que o Tottenham). Esta foi, na época, a contratação mais cara da história do clube. Seu tempo no Arsenal não foi vitorioso, já que ambos não conquistaram nenhum título no casamento que durou até 2012. Arshavin batalhou diretamente e constantemente com lesões, o que impediram grandes sequências de jogos nos Gunners. Há de se lembrar, porém, que existiram bons momentos, o principal deles quando marcou quatro gols contra o rival Liverpool em pleno Anfield Road.

No Arsenal, muito futebol, mais lesões ainda e nenhum título (Foto: Globo Esporte)

Em 2013, voltou ao Zenit, até para conquistar mais alguns títulos nacionais. Pela seleção, não conseguiu classificar a Rússia para a Copa de 2010 e foi eliminado na primeira fase da Eurocopa 2012. Foram 17 gols em 75 jogos por seu país.

Arshavin se aposentou em novembro de 2018, após passagens pelo Kuban Kranosdar e Kairat, este segundo um clube do Kazaquistão.

Veja alguns números dos jogadores.

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