Duelo DBEP: Zetti x Ronaldo

Dois goleiros emblemáticos dos anos 90 (na humilde opinião desde que vos escreve, melhor época do futebol recente)

Igor Giantomaso Desiderio
Blog De Bate e Pronto
7 min readOct 3, 2018

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Zetti e Ronaldo foram dois grandes e extremamente emblemáticos goleiros, para quem acompanhou futebol nos anos 90. Em uma época em que realmente não era fácil chegar e manter-se como titular em um time grande, Zetti e Ronaldo eram a personificação das camisas 1 de São Paulo e Corinthians. Qual criança peladeira não brincou de goleiro enaltecendo suas defesas aos gritos de “ZETTIIIIIII” ou “RONAAAAALDOOOO”?

Imagem (instagram do Zetti)

Esses dois arqueiros realmente tinham a confiança do torcedor e dos companheiros e, quando saíram dos respectivos clubes, deixaram uma lacuna difícil de preencher (ainda que a história de Rogério Ceni me contradiga, seu início pós-Zetti não foi fácil). Há quem diga, inclusive, que a dupla deveria ter tido sorte melhor na Copa do Mundo de 1994. Algumas opiniões da época pediam um como titular e outro no grupo, mas como o título veio, essa discussão ficou de lado e prevaleceu o pragmatismo de Parreira que apostou em Taffarel que, apesar da eficiência nas decisões por pênaltis, cometia algumas falhas, inclusive nas Eliminatórias.

É claro que tricolores preferem Zetti enquanto os alvinegros são cravam Ronaldo. Então, vamos contar um pouco da história e mostrar números da carreira de cada um, aí você decide. Esse é mais um Duelo DBeP.

Armelino Donizetti Quagliato: Zetti começou a carreira no clube de sua cidade, o Capivariano, e logo se transferiu para os juvenis do Guarani, onde foi dispensado por ser considerado gordinho. Foi no Palmeiras, porém, que o goleiro começou a ganhar destaque. Apesar de um começo difícil, sendo emprestado ao Paraná e Toledo e depois ficando quase um ano sem jogar, o arqueiro chegou a titularidade em 1987, mesmo ano em que alcançaria um recorde de 12 partidas sem sofrer gols (marca recentemente perseguida pelo Palmeiras de Felipão, com Weverton no gol), mas o goleiro campeão olímpico não conseguiu batê-la. Mesmo com essa incrível marca, foi em outro clube que Zetti viveria seu auge.
Sua carreira pausou quando quebrou a perna em uma dividida com Bebeto, então no Flamengo, e por consequência foi forçado a ficar um bom tempo afastado. Ao retornar, seria barrado pelo atual titular Velloso. Após algumas possibilidades de ida ao exterior, Zetti acabou fechando com o São Paulo em 1990, e neste momento começaria para clube e jogador uma história de sucesso e títulos.
No São Paulo, o goleiro tinha como antecessores recentes nada menos que Gilmar e Rojas, ambos goleiros com presença em suas seleções e que inclusive revezavam como titular no Tricolor Paulista, além de Waldir Peres, campeão brasileiro e paulista pelo clube e titular na Copa do Mundo de 1982 com o técnico Telê, o mesmo que agora comandaria Zetti. Pois o camisa 1 chegou mostrando a que veio, logo se firmou como titular, o que fez Gilmar se transferir para o Flamengo.

Imagem (trivela.uol.com.br)

Durante os sete anos que esteve no São Paulo, Zetti foi sinônimo de segurança embaixo das traves. Com ótimas saídas de bola, forte fisicamente e ágil, ele era o tipo de goleiro que, além de falhar pouco, operava seus milagres em momentos decisivos. Como na Libertadores de 1994, onde fez cerca de cinco defesas espetaculares diante do poderoso Palmeiras de Luxemburgo, ou na final em 1992 quando defendeu o pênalti decisivo de Gamboa. Apesar de não ter a fama ou não ser relacionado quando se trata do assunto, Zetti era grande pegador de pênaltis, tanto que saiu vitorioso em 9 de 12 disputas em que esteve. Entre os vários títulos pelo São Paulo, destacamos um Brasileiro, duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes.

O ótimo desempenho aliados aos títulos conquistados credenciaram Zetti à seleção brasileira durante toda campanha classificatória e do Tetra como reserva imediato de Taffarel. Alguns contemporâneos afirmam que pela fase, não seria injusto que fosse o titular, mas claro que os pênaltis defendidos pelo colega na final da Copa encerram o assunto.

Imagem (memoriasdoesporte.com.br)

Enfim, os torcedores São-Paulinos de pelo menos 25 anos idolatram Rogério Ceni como um Mito máximo do clube, mas quando se propõe comparar o desempenho embaixo das traves apenas, Zetti chega forte na parada como um dos melhores goleiros da história tricolor e com certeza um dos melhores do país em sua época.

Zetti ainda passaria por Santos, Fluminense, União Barbarense e Sport mas sem o mesmo brilho de outrora.

Algumas curiosidades: O goleiro Zetti foi um dos últimos a aderir a uma moda entre os goleiros nos anos 1990: jogar de calças. Ele alega que começou por conta do frio, mas notou que poderia dar sua saídas pelo chão sem ralar os joelhos, então continuou a usá-las. No Mundial de 1993, passou uma espécie de tinta preta abaixo dos olhos, para evitar que o forte sol refletisse e ofuscasse a visão.Em 1995, após o jogador Luizão se contundir, e ficar no gramado com fortes dores, Zetti carregou o colega de profissão nos braços para que pudesse receber atendimento médico.Na Bolívia, ainda é possível encontrar um produto chamado Chá de Zetti, um trocadilho com o episódio ocorrido durante as eliminatórias de 1993.

Confira algumas defesas de Zetti.

Ronaldo Giovanelli: Ronaldo já começou sua carreira no clube em que viveria seus melhoremos momentos, o Corinthians, em 1988. Assim como Zetti, não parecia ter pela frente um caminho fácil já que o clube contava com Waldir Peres e Carlos, simplesmente os goleiros titulares da seleção brasileira nas duas últimas Copas do Mundo (1982 e 1986). A dispensa de um e lesão do outro deram a oportunidade da estreia de Ronaldo, mas o goleiro começaria com a mão direita mesmo no início do campeonato Paulista do mesmo ano, ao defender um pênalti de Dario Pereira, então jogador do São Paulo. No mesmo ano ainda, faria grandes atuações, ajudando o Corinthians a ganhar o 20º título Paulista, o primeiro do goleiro.

Imagem (históriasdofutebol.com.br)

Ronaldo era um goleiro de muita agilidade e ótimo reflexo. Suas defesas, às vezes cinematográficas, saltavam aos olhos. Sim, era um jogador nada discreto em vários aspectos, desde as golas levantadas às declarações e principalmente no comportamento. O arqueiro tinha uma fama muito justificada de encrenqueiro, foram algumas expulsões ao longo da carreira. Tanto que o corinthiano na faixa dos 30 anos deve se lembrar de Maurício ou Wilson defendendo a meta do clube alvinegro por em mais de uma oportunidade.

Sabemos que seleção brasileira é uma questão complicada que passa muito pelo gosto do treinador, principalmente em épocas de boa safra. Ronaldo teve poucas oportunidades. Foram algumas como o técnico Paulo Roberto Falcão, após o fracasso de 1990, mas com a saída do treinador esteve em apenas um jogo, a derrota por 2 x 1 contra a Alemanha, Ronaldo seria titular de Carlos Alberto Parreira mas nunca mais foi convocado (o trio da Copa de 1994 era o preferido do treinador desde o começo do trabalho). Há quem diga que o comportamento e fama de bad boy podem ter atrapalhado Ronaldo, mas jamais saberemos.

Imagem (históriadofutebol.com.br)

Ronaldo com certeza já foi unanimidade quando se escala o melhor goleiro do Corinthians, mas a história recente do clube que passou a contar também com Dida e Cássio gera múltiplas opiniões. A seu favor há a simpatia da torcida por ter vindo da base, por estar presente no título Brasileiro de 1990 (o primeiro e improvável) e de ter sido um grande goleiro em elencos apenas medianos do time do Parque São Jorge. Além disso, a garra e determinação de Ronaldo Giovanelli são o o retrato do que o torcedor admira no clube e seus ídolos.

Ronaldo ainda passaria por outros times antes de encerrar a carreira (Fluminense, Inter de Limeira, Cruzeiro, Portuguesa, Ponte Preta, Portuguesa Santista) mas foi no timão que virou ídolo e o grande goleiro sobre quem escrevemos aqui.

Curiosidades: Ronaldo é integrante de uma banda de Rock (Ronaldo e os Impedidos). Pela Portuguesa Santista, chegou a jogar com um uniforme em referência a sua banda (listrado no estilo presidiário).
Outro uniforme no mínimo curioso foi usado no Corinthians, uma camisa que simulava cabelos no peitos.

Confira algumas defesas de Ronaldo.

Seja você torcedor do São Paulo ou Corinthians, com certeza lhe vem a mente grandes jogos e defesas quando pensa nestes dois camisas 1. Analise, compare, relembre e nos diga: quem leva a melhor neste Duelo?

Imagem (zetti1.com.br)

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Igor Giantomaso Desiderio
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SP/Tricolor, Louco por futebol e co-fundador do De Bate e Pronto.