Duelo DBEP: Zidane x Platini

Verônica Jensen
Blog De Bate e Pronto
12 min readAug 15, 2018

Não podemos negar que, de alguns anos pra cá, a seleção francesa se tornou uma pedra no sapato, ou melhor na chuteira, do Brasil. Nos últimos confrontos em Copas do Mundo, em 1998 e 2006, a seleção canarinho tropeçou, e feio, diante dos Bleus, como a França é chamada; bleu em francês significa azul. Mas antes mesmo dos títulos mundiais, outros jogadores se destacaram. Por isso, o Duelo DBEP coloca frente à frente dois grandes jogadores franceses. Dois jogadores camisa 10 que fizeram história com a seleção da França e com a camisa da Juventus.

De um lado, o franco-italiano Michel Platini, meio campista habilidoso, elegante, camisa 10 da seleção da França, ídolo da Juventus e ex-presidente da UEFA; do outro, o franco-argelino Zinédine Zidane, meio campista habilidoso, elegante, camisa 10 da seleção da França, ídolo da Juventus e ex-técnico do Real Madrid.

As coincidências são muitas! Os estilos dentro de campo também. Dois jogadores que marcaram gerações com seu estilo do jogo. Platini, ídolo dos anos 80 e Zidane, dos anos 90/2000; campeões de Eurocopas e participaram de três Copas do Mundo cada um. Ahh, e cada um possui três Bolas de Ouro!

Então, vamos embarcar na elegância e habilidade e conhecer um pouco mais de cada um?

Michel François Platini: nascido em 21 de junho de 1955, filho de imigrantes italianos começou a carreira aos onze anos no time juvenil de sua cidade natal, Joeuf. Seu talento nato fez com que Platini fosse alçado às categorias mais velhas precocemente; mas enquanto seu talento se sobressaía, seu físico era muito pequeno, franzino; o banco de reservas foi seu grande amigo no início de sua carreira. Aos 16 anos, na equipe sub-18 do Joeuf, chamou a atenção de outro time, na ocasião o Metz, durante um amistoso. Mas o interesse não foi pra frente; sabe o que atrapalhou a negociação? Seu porte físico. Depois dessa decepção, em 1972 foi contratado pelo Nancy, equipe da segunda divisão francesa. Estreou no time principal aos dezessete anos e aos dezoito já era titular.

Platini foi convocado pela primeira vez para defender a seleção francesa em 1976 e já fez sua estreia da melhor forma: marcando gol. Sua autoconfiança, sua leitura de jogo estiveram presentes em sua primeira partida. Não é preciso dizer que após sua grande estreia, logo foi nomeado capitão da França durante os Jogos Olímpicos de 1976. Ainda no Nancy, levou o time ao título da Copa de França e assim, convocado para sua primeira Copa do Mundo. Porém sua primeira participação no torneio acabou logo na primeira fase.

Um dos maiores lances da carreira de Michel Platini aconteceria semanas após a eliminação da Copa. Em um amistoso contra a Itália, o jogador cobrou uma falta duas vezes. Como assim?

Platini cobrou a falta e fez um gol maravilhoso, onde a bola entrou no ângulo do gol de Dino Zoff. Mas o árbitro não validou o lance e mandou Platini cobrar novamente. E não é que ele cobrou da mesma maneira e a bola entrou no mesmo ângulo? Parecia replay! A partida terminou empatada e o lance entrou para a história do futebol.

Em 1979 se transferiu para o Saint-Étienne, após interesse de outros times franceses, como o Paris Saint-Germain e a Internazionale, de Milão. No clube francês, foi campeão da Ligue 1 em 1981, quando marcou os dois gols da vitória. Paralelamente ao Saint-Étienne, Platini levava a seleção francesa à mais uma Copa e sua segunda Copa consecutiva. A edição de 1982 foi seu melhor torneio; levou a França à quarta colocação, sendo eliminado pela Alemanha Ocidental nas semifinais numa partida repleta de emoção: empate nos 90 minutos; na prorrogação, os Bleus fizeram 3 a 1, mas deixaram os alemães empatarem! Na decisão nos pênaltis, vitória da Alemanha e eliminação francesa.

Brilhante passagem pela Juventus

Sua grande atuação na Copa fez com que equipes de outros países sondassem novamente o jogador e, em 1983, fez sua maior transferência; saiu de terras francesas e desembarcou na Itália, mais precisamente em Turim, na equipe da Juventus. E já deixou a torcida da Vecchia Signora, como a Juventus é carinhosamente chamada, esperançosa, pois logo em sua primeira temporada, foi o artilheiro da equipe. Nem é preciso dizer que já conquistaria seu primeiro título na temporada 1983/84 e, consequentemente, uma Bola de Ouro para sua carreira.

A mudança para a Juve fez muito bem ao meio-campista. Foi se tornando peça fundamental na equipe, conquistou títulos, jogou partidas espetaculares, refinou seu toque, sua visão de jogo, tornando-se um ídolo, não só para a Juventus, como para a França.

Com o scudetto, a Juventus se classificou para a Copa dos Campeões da UEFA e adivinha se Michel Platini não levou a equipe à sua primeira vitória? Sim, através de um gol dele, a equipe de Turim conquistaria o título em 1984. No mesmo ano foi convocado para a Eurocopa e ganhou mais um título para sua carreira, o primeiro da França em competições internacionais. Além disso, Platini conquistou sua segunda Bola de Ouro consecutiva.

E não parou por aí. Ne temporada seguinte, 1984/85, o jogador foi mais uma vez artilheiro do Campeonato Italiano e, de quebra, mais uma Bola de Ouro foi entregue a ele, após vencer o Mundial Interclubes e conquistar seu segundo título italiano. UAU! Com seu terceiro prêmio consecutivo de melhor jogador do mundo, o francês se tornaria recordista da premiação; outros dois jogadores holandeses, Marco van Basten e Johan Cruijff, também haviam conquistado três vezes, mas não consecutivamente.

Em sua carreira ainda teve mais uma participação em Copas do Mundo; em 1986, Platini foi atrás do título que faltava em sua coleção, mas infelizmente não conseguiu. Após vencer o Brasil (!!) nas quartas de final, numa partida decidida nos pênaltis — onde desperdiçou sua cobrança — foi eliminado novamente pela Alemanha Ocidental; dessa vez levou para casa a terceira colocação.

Aposentadoria

Todo craque sabe a hora de parar e com Michel Platini não foi diferente. Após conquistar diversos títulos, ser consagrado melhor do mundo três vezes, ser idolatrado por italianos e franceses, o jogador se despediu da Juventus, e dos gramados no final da temporada 1986/87, com 32 anos e em abril de 1987, foi a vez de se despedir da camisa francesa.

Fora dos campos, Platini tentou a carreira de técnico, mas não fez tanto sucesso quanto jogador de futebol. Comandou a seleção francesa por quatro anos, onde classificou a equipe somente para a Eurocopa de 1992. Depois do fracasso como técnico partiu para os bastidores. Foi presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo 1998 e viu sua seleção ser campeã mundial pela primeira vez, em cima do Brasil, que na época era o atual campeão. Em 2007 foi eleito presidente da UEFA, numa época em que o futebol estava tomando outros rumos e começavam a surgir alguma denúncias.

Platini ficará marcado para sempre por sua carreira dentro das quatro linhas. Suas jogadas extraordinárias, sua habilidade, sua capacidade de decidir uma partida seduziram os amantes do futebol pelos quatro cantos do mundo.

Mas ao mesmo tempo que uma parte da torcida vibra por ele, outra prefere um certo francês, de origem argelina, campeão do mundo e que terminou sua carreira de jogador numa cabeçada na final da Copa do Mundo de 2006. Agora, com vocês,

Zinédine Yazid Zidane: nascido em 23 de junho, apenas dois dias depois que Platini, porém em 1972, o franco-argelino começou nas categorias de base de clubes de nenhuma expressão do sul da França. Porém sua habilidade começou a chamar atenção de grandes clubes franceses; saiu do Septèmes-les-Vallons para seis semanas de treinamentos na equipe do Cannes e, essas semanas se transformaram em meses. Zizou nunca mais voltou ao pequeno clube e depois de meses de treinamento, fez sua estreia na equipe principal de Cannes em 1989. Mas seu primeiro gol demorou e somente dois anos depois, estufou as redes pela primeira vez profissionalmente. Sua passagem pelos Dragons Rouges terminou em 1992 quando a equipe foi rebaixada e Zidane vendido ao Bordeaux onde conquistou seu primeiro título profissional.

Não demorou muito para ser convocado pela primeira vez para a seleção francesa; após a aposentadoria de Michel Platini, os franceses buscavam um ídolo para “chamarem de seus”. As primeiras participações de Zinédine aconteceram em 1994, contra a República Tcheca e marcou os dois gols do empate. Enquanto a primeiro competição oficial com a seleção francesa não acontecia, no Bordeaux, Zidane começou a ganhar mais espaços. Em sua quarta temporada na equipe, chegou à final da Copa da UEFA, em 1996, terminando na segunda colocação, perdendo para o Bayern de Munique. Apesar do resultado, Zidane foi quem ganhou o maior troféus: trocou os campos franceses pelos italianos e, como seu compatriota Platini, foi contratado pela Juventus.

A Eurocopa 1996 foi o primeiro torneio internacional do meio campista. A seleção francesa chegou às semifinais, mas a participação do camisa 10 não foi das melhores; o jogador vinha de uma sucessão de jogos sem marcar gols pela França, com atuações apagadas com a camisa nacional, enquanto que na Juventus, voava em campo, fazendo ótimas partidas, jogadas incríveis, porém marcando poucos gols.

Em seu primeiro ano pela Vecchia Signora, 1996, começou sua trajetória com o título da Supercopa Europeia, além de vencer a Copa Intercontinental, contra o River Plate, de seu ídolo Enzo Francescoli; tamanha era a admiração pelo jogador que Zidane colocou o nome de Enzo em seu primeiro filho. Além dos dois títulos, ao final da temporada 1996/97 conquistou o scudetto. Para ficar completo, faltou apenas um título, o da Liga dos Campeões. Sua segunda temporada pelo time de Turim foi como a primeira, conquistando títulos e terminando com a perda de mais uma Liga dos Campeões.

Mas, enquanto a taça da Liga dos Campeões não chegava às suas mãos, outra taça, um pouco mais importante, foi conquistada por ele e pela seleção francesa.

Primeiro título mundial

Como donos da casa, a França se classificou automaticamente para a Copa do Mundo de 1998; após a derrota na Liga, Zidane passou por uma fase ruim dentro de campo. Na estreia da seleção contra a África do Sul, foi inexpressivo; diante da Arábia Saudita, foi expulso ao pisar em jogador saudita e tomar dois jogos de suspensão. Mesmo sem Zidane, a França passou de fase e o camisa 10 voltou nas quartas de final. Sua participação na Copa valeu por apenas uma partida, justamente contra o Brasil, na final do torneio! Parecia que ali, diante do atual campeão mundial, único tetracampeão, com uma equipe estrelada, com Ronaldo Fenômeno voando, Zidane parou e pensou que aquele tinha que ser o jogo da sua vida. E assim foi! Duas cobranças de escanteio, dois gols de cabeça, sendo esse seu ponto fraco, e duas mãos na taça ainda no primeiro tempo. O Brasil parecia perdido em campo e deixava muitos espaços para Zidane desfilar com toda elegância, pelo gramado francês. Habilidoso, soube conduzir a partida, com lances incríveis, jogadas impensáveis e com muita maestria.

Bom, o final da história, todos sabem. França venceu o Brasil por 3 a 0; sim, teve outro gol, mas não de Zidane, nos acréscimos do segundo tempo. Com o primeiro título mundial francês e com sua temporada pela Juventus, lhe garantiram, ao final de 1998, sua primeira Bola de Ouro.

Após um ano brilhante, Zidane não correspondeu em 1999; fez partidas inexpressivas pela Juventus, não conquistou títulos e na seleção, a história não foi diferente. Depois da partida espetacular contra o Brasil, Zizou não voltou a apresentar seu futebol elegante e habilidoso com a camisa da seleção e quase não se classificou para a Eurocopa 2000; a classificação veio apenas na última rodada.

No ano seguinte, a Juventus continuou sem título, perdeu para a Lazio o scudetto e caiu para o Celta de Vigo nas oitavas de final da Liga dos Campeões; porém pela seleção, a história foi outra. Como podemos ver, Zidane parece ser outro jogador nas fases de mata-mata; na Euro 2000 o jogador voltou a ser aquele Zinédine Zidane da final de 1998, a partir das oitavas, quando venceram a Espanha com um gol seu e contra Portugal nas quartas de final. A redenção veio na final diante da Itália; quando todos pensavam que o título era italiano, já que venciam até os 49 minutos do segundo tempo, a França empatou, sob o comando do maestro camisa 10, e vencendo a partida com um gol de ouro — quando ainda existia — no tempo extra. Assim, a França conquistava sua segunda Eurocopa e, mais uma vez, Zidane comandando a equipe. Ao final do ano, o francês ganhava sua segunda Bola de Ouro.

Enquanto comemorava um título pela seleção, pela Juventus sua passagem estava chegando ao final. Sem ter ganho uma Liga dos Campeões e há três anos sem ganhar título nacional, Zidane anunciou que estava se transferindo para o Real Madrid.

Transferência milionária

Já como jogador do Real Madrid, em 2001 foi campeão da Copa das Confederações e chegou à Copa 2002 como favorito ao título. Após sua transferência milionária para os merengues, na época foi a mais cara da história, 77 milhões de Euros, Zidane mostrou porque custou tão caro. Logo em sua primeira temporada, Zizou ganhou o título que tanto perseguiu com a camisa da Juventus: o da Liga dos Campeões da UEFA. E não foi qualquer título! Conquistou no ano do centenário do clube e o nono troféu para a equipe de Madrid. Na final, Zidane foi o autor do gol da vitória. Muitos devem se recordar desse golaço. Após cruzamento de Roberto Carlos, Zidane pegou a bola de voleio e mandou para o gol, num chute com curva espetacular!

Em festa e em paz com a torcida, a seleção francesa chegava como grande favorita à Copa do Mundo 2002. Mas a história não foi bem assim. Em um amistoso, o astro francês sofreu um estiramento na coxa e desfalcou a França nas duas primeiras partidas, contra Senegal e Uruguai; com dois resultados inesperados, derrota para os africanos e empate sem gols contra os uruguaios, os franceses precisava vencer a Dinamarca; com Zidane jogando no sacrifício, a equipe perdeu mais uma partida e deu adeus à Copa após três jogos e sem marcar nenhum gol.

No Real Madrid, Zizou foi campeão da Supercopa Europeia, Copa Intercontinental e Campeonato Espanhol. Ao final de 2002, foi novamente vencedor da Bola de Ouro, se igualando a Michel Platini e a Ronaldo, na época, companheiro de time. Mas os anos foram passando e Zidane não foi rendendo mais como esperavam; na temporada 2003/04 venceu a Supercopa da Espanha; sendo esse o último título conquistado por ele como jogador.

E as atuações com a camisa da seleção também não estavam agradando. Após classificação sem sustos para a Eurocopa 2004, a França foi eliminada nas oitavas de final pela Grécia. Depois de sua pífia participação na Euro, Zidane anunciava que estava se aposentando dos gramados. Pelo Real Madrid, jogou a temporada 2005/06 e em sua última partida pelo time de Madrid, a equipe usou uma camisa comemorativa, com os dizeres “Zidane 2001–2006” logo abaixo do escudo do time. Em seu último jogo, deixou sua marca ao anotar um dos gols no empate diante do Villarreal. Mesmo com uma temporada aquém do esperado, o jogador é considerado um dos maiores que já passaram pelo Real Madrid.

Pela seleção, Zizou repensou sua aposentadoria e resolveu vestir a camisa da França e participar de sua terceira Copa do Mundo. E, como na Copa de 1998, comandou o time a partir das oitavas de final. Naquele momento, Zidane mostrava a classe e o futebol que o consagrou. E adivinha contra quem ele resolveu jogar brilhantemente? Sim, de novo contra o Brasil, pelas quartas de final! O jogador mostrou toda sua habilidade, sua criatividade, sua maestria e comandou, mais uma vez, a seleção da França em mais uma vitória diante do Brasil. Foi de uma cobrança de falta batida por ele, que resultou no único gol da partida. A seleção francesa chegou à sua segunda final, apenas oito ano após seu título. O que ficou marcado dessa partida? O último lance de Zidane como jogador de futebol! Partida tensa contra a Itália, que terminou empatada no tempo regulamentar. Na prorrogação, quase fez um gol, mas no segundo tempo do tempo extra, Zidane desferiu uma cabeçada no peito do italiano Materazzi. O motivo? O jogador da Itália insultou o jogador francês, que perdeu a cabeça e acabou expulso da final. Após o lance, a Itália foi a campeã mundial e Zidane, agora sim, se aposentou dos gramados.

Depois de um tempo longe do futebol, Zidane voltou como auxiliar técnico do Real Madri em 2013, e em 2016 foi efetivado como treinador. Foi três vezes campeão da Liga dos Campeões (2016, 2017 e 2018), além de bicampeão do Mundial de Clubes da FIFA. Após sua terceira conquista como treinador, Zidane anunciou que estava saindo do Real Madrid.

Por toda trajetória do jogador, Zidane foi muito mais que uma cabeçada em final de Copa do Mundo. Foi campeão por onde passou, levou a França à conquista inédita e, muitas vezes, levou o time nas costas. Como treinador, em sua curta passagem pelo time merengue, foi tricampeão da Liga dos Campeões, feito incrível para um técnico tão novo! Se dentro das quatro linhas, Zidane foi magistral, fora delas, não será diferente. Uma vez elegante, sempre elegante!

Os números abaixo mostram como os dois foram gigantes em suas carreiras!

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