Entrevista DBeP: Mavi Lopes

Confira nosso papo com o ex jogador que atualmente trabalha com análises técnicas na Tailândia

André Galassi
Blog De Bate e Pronto
6 min readOct 14, 2019

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(Foto: Divulgação Police Tero FC)

Meio campo que se define como ‘‘muito técnico e que sempre procurava os atacantes no último toque’’, Mavi Lopes é mais um dos jogadores anônimos em solo nacional, porém conhecido no exterior. Pernambucano de Barreiras, vive a quase dez anos na Ásia, onde trabalhou como jogador e agora na parte técnica.

Criado pela base do Santa Cruz e posteriormente do Náutico, Mavi começou atuar profissionalmente pelo modesto Araçatuba, da última divisão do futebol paulista. Ainda passou por clubes do centro oeste e nordeste, até receber proposta do futebol asiático. ‘‘As maiores dificuldades estão na estrutura de trabalho. No entanto, ali se forma muito o caráter’’ respondeu ao ser perguntado sobre as dificuldades em clubes de menor expressão.

Na Tailândia defendeu as cores do Pratchimburi, Thai Honda e Khampaephet respectivamente. Seu grande momento no futebol asiático foi um título regional em 2015 pelo o Phayao F.C. Entre 2016 e 2017 se aventurou no pequeno país de Laos e logo em seguida pendurou as chuteiras.

Mavi segurando a taça de campeão pelo Phayao FC (Foto: Arquivo Pessoal)

Após a aposentadoria, Mavi tirou licença de técnico nas Filipinas (válida para atuar não só na Ásia, como na Europa e no Brasil). Fez também um curso de formação ministrada pelo poderoso Chelsea.

Atualmente, aos 37 anos, atua como analista no tradicional Police Tero da Tailândia, que busca a sua volta para a elite do futebol local. Na equipe, o ex atleta desenvolve um trabalho de análise de jogos, adversários, estratégias, além de viajar para buscar novos talentos e perfis que possam adequar ao clube.

Para o futuro, o brasileiro tem em mente voltar ao Brasil em um prazo de no máximo três anos e já na função de treinador. Quando questionado, o ex jogador afirmou ‘‘Isso é um plano e projeto de carreira.’’

Para aqueles que pensam em seguir carreira na beira dos gramados Mavi ainda acrescentou; ‘‘Entender o atleta de uma forma macro e fazê-lo atuar no seu melhor com uma gestão pessoal bem humana seria o que acho uma necessidade de valor a um treinador’’.

Confira na integra o nosso papo exclusivo com o ex jogador:

Para as pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo atuar aqui no Brasil, como você se descreve? Quais são suas virtudes?

Hoje vejo com uma análise mais técnica que eu era um jogador muito técnico e que sempre procurava os atacantes no último toque. Sempre achei mais elástico o passe do que o gol em si, pela construção da jogada em nível de armação.

Nas categorias de base do Náutico/PE você atuou com Jorge Henrique, ex Corinthians e Vasco, e no Rondonópolis/MS atuou ao lado do Valdivia ‘’Poko Pica’’. Como era o seu convívio com eles? Já dava para perceber que ambos tinham aquele algo a mais?

Por um curto período de tempo dividimos o vestiário no Náutico, mas sim, o Jorge era muito rápido e agudo. Já o Valdivia era ainda da base e tinha mais contato com o irmão dele que era nosso atacante (Andrezinho). No entanto, o Valdivia sempre estava nos treinos nos acompanhando. Foi uma grata surpresa a ascensão dele.

Em solo brasileiro você atuou profissionalmente por Araçatuba/SP, União Rondonópolis/MT, REC/MT, Ivinhema/MS e Ferroviário/PE. Quais foram as dificuldades enfrentadas nesses clubes de menor expressão?

As maiores dificuldades estão na estrutura de trabalho. No entanto, ali se forma muito o caráter, tanto dentro como fora de campo já que muitos não têm carreira longa, mas levam aprendizado e experiência para a vida.

No Ferroviário você foi vice-campeão da Segunda Divisão Pernambucana e o treinador era o ex-jogador Cláudio Adão. Qual aprendizado você levou ser comandado por um ex atleta tão vitorioso e experiente?

Talvez o que mais aprendi foi em relação ao fator condução de problemas e gestão de atletas.

Em 2010 você rumou a Tailândia para defender o Chonburi. Como foi a adaptação em um país de cultura tão diferente do nosso? Em termos de estrutura, o futebol tailandês está evoluindo?

Vim para o Chonburi, mas não cheguei a atuar lá. Em seguida, acertei com o Pratchimburi. Aqui a estrutura tem crescido gradativamente, hoje conseguindo pagar muito mais em relação ao que se pagava alguns atrás.

Mavi em atuando no Jogando pelo Khampaengphet FC da Tailândia (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois de cinco anos na Tailândia, você ainda atuou por mais duas temporadas em Laos. Quais são as maiores diferenças entre os dois países, uma vez que para muitos Laos é considerado uma espécie de periferia asiática?

Os dois países são bem diferentes. A Tailândia é uma potência econômica no sudeste asiático se comparado a Laos, até pela política econômica, já que Laos é um país comunista. Mas são bastante similares em relação à receptividade dos dois povos. Levando também em consideração que as línguas são muito próximas.

Atuando pelo Nuol FC, de Laos (Foto: Nuol FC)

Desde 2017 você se encontra aposentado e após pendurar as chuteiras tirou licença para treinador. Pretende algum dia exercer a função aqui no Brasil, ou prefere permanecer na Ásia?

Tem sido uma experiência muito gratificante este começo de trabalho fora dos gramados. Primeiro foi um grande feito ter conseguido tirar minha licença (em outra língua) e depois ter entrado em uma área que tem sido de muita importância de aprendizado e aperfeiçoamento na parte tática que é ser analista técnico. Sim, pretendo em 3 anos estar no Brasil, isso é um plano e projeto de carreira.

Atualmente você exerce a função de analista técnico no tradicional Police Tero F.C — THA. Nos conte um pouco sobre o seu trabalho e como é ser pioneiro na função de analista no país asiático.

A função de analista técnico é uma função antiga no futebol, tanto aqui como em qualquer lugar do mundo. O que muda e progride são as ferramentas de uso e estratégias de produção da mesma. Me refiro mais na parte de visões de trabalho e funções de cada ponto chave. Hoje o futebol tem evoluído bastante na parte física em qualquer mercado e o entendimento desta progressão é o ponto. Sobre ser pioneiro, posso dizer que ser o primeiro ex-jogador no país que desenvolveu um novo modelo de trabalho que se usava, mas sim já existia muito antes alguém que fazia esta função de análise, o que muda é o modelo de execução e de quem está cumprindo este trabalho, aí ganhamos no fator de termos experiência na cultura de jogo do país.

Hoje desenvolvemos um trabalho de análise de jogos, adversários, estratégias de jogos, vídeos, viajando bastante (inclusive para outros países) para acompanhar novos talentos e perfis que possam adequar ao clube, desenvolvendo e discutindo estratégias da nova temporada etc. Tem sido bastante engrandecedor a experiência de estar num clube de grande tradição e poder dividir conhecimento.

Para encerrar: Na sua opinião, quais são as virtudes para se tornar um bom técnico? E quais as dicas você dá para aqueles que pensam em um dia se tornar um?

Atualmente trabalho como analista, mas venho programando meus passos para me tornar treinador em três anos. Esta função tem me dado muito conteúdo desenvolvedor para agregar ao que pretendo. Consigo ver um futebol com olhos mais frios, estratégico e calculista, mas sem perder a essência de um futebol brasileiro no qual temos raiz. Entender o atleta de uma forma macro e fazê-lo atuar no seu melhor com uma gestão pessoal bem humana seria o que acho uma necessidade de valor a um treinador.

Confira um vídeo com alguns lances de Mavi Lopes durante sua carreira profissional:

(Reprodução: Youtube)

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André Galassi
Blog De Bate e Pronto

São Carlense e amante de um bom e velho esporte bretão.