Raio-X: Jorge Valdano, o filósofo goleador
De Santa Fé para a Europa
No dia 4 de Outubro de 1965 nascia em Las Parejas, Santa Fé, Jorge Alberto Francisco Valdano Castellanos. Desde a tenra idade tinha dois amores: a bola e os livros, dividindo os seus tempos livres entre essas duas paixões. Nas férias, recordou um dia Valdano, o tempo era passado entre pilhas de livros que o levavam a viajar pelo mundo, e a bola de futebol que tanto jogava sozinho como com os amigos.
Apaixonado pelo futebol, convenceu seus pais a inscreverem-no nas categorias de base do Newell’s Old Boys. Seria com a camisa rojinegra que debutaria na Primera División, contava somente 17 anos, mas já era um atacante possante. Com os seus 1,88 de altura, juntava força, velocidade e uma capacidade técnica invejável para a sua estatura. O faro goleador que faria dele uma referência na área, tanto chutando com o pé esquerdo como com o direito, além das suas letais cabeçadas o tornaria um atacante completo.
Após dois anos no Newell’s decidiu dar o salto para o outro lado do Atlântico e assinou pelo Alavés, clube que disputava então a Segunda Divisão espanhola. Após quatro temporadas no clube, a qualidade do seu jogo e os seus gols anotados com a camisa azul e branca dos bascos despertaram o interesse de diversos clubes, mas seria o Real Zaragoza a adiantar-se à concorrência, contratando o argentino no verão de 1979. No dia 9 de setembro do mesmo ano, estreou-se na Primera, e estreou marcando gol diante do Barcelona.
Um complemento para a Quinta
Durante cinco temporadas, Jorge defendeu a camisa do Real Zaragoza, marcando 46 gols em 143 jogos. Em 1984, o Real Madrid contratou-o, para se juntar à máquina de fazer gols madridista, juntamente com Santillana e o mexicano Hugo Sánchez, estando presente no nascimento da inolvidável “Quinta del Buitre”. Na sua primeira temporada com os merengues, Valdano foi o artilheiro da equipe, com 17 gols, sendo fundamental na conquista da Taça UEFA.
Na segunda campanha com os blancos, marcou mais 16 gols e somou mais uma Taça UEFA ao seu currículo. No topo da forma e no auge da carreira, El Poeta fez parte dos 22 eleitos de Carlos Bilardo, para a Copa do México em 1986.
Em terras mexicanas, apontou quatro gols com a camisa da alviceleste, incluindo um na vitória sobre a RFA na final no Estádio Azteca.
A doença e o fim da carreira
Durante a temporada 1986/87, o atacante começou a sentir-se mal, regularmente adoecendo e sentindo-se cada vez mais fraco, incapaz de acompanhar a forma física dos companheiros. Preocupado, submeteu-se a análises clínicas que revelaram que tinha hepatite B. O corpo médico do Real recomendou-lhe repouso imediato, enquanto iniciava tratamentos, mas meses depois resolveu pôr fim à carreira.
Em 1990 pensou em voltar ao futebol, com uma eventual convocatória para a Copa da Itália em mente. Após vários meses de treinos, Bilardo resolveu deixá-lo de fora da lista dos 22 no último momento, deixando Valdano profundamente desiludido ao ponto de publicamente afirmar: «nadei e atravessei o oceano para me afogar ao chegar à praia». Triste, pôs um ponto final no sonho.
Êxito como técnico
Uma vez “penduradas as chuteiras”, iniciou uma nova etapa na vida, comandando os juvenis do Real Madrid. Em 1992, aceitou o convite do Tenerife, chegando ao clube canário a oito rodadas do fim, conseguindo salvá-lo de um rebaixamento que parecia certo. Na última rodada, venceu o Real Madrid (depois de estar perdendo por 0x2 aos 28 minutos) por 3x2, roubando a Liga aos merengues e entregando o título de mão beijada ao Barcelona.
No ano seguinte, novamente na última rodada, o Tenerife enfrentou o Real Madrid e novamente levou a melhor, conseguindo a classificação para a Taça UEFA, roubando novamente o título dos blancos, novamente para felicidade do Barça.
Tempos depois, os merengues resolveram contratar o argentino que lhes tinha roubado duas ligas, para pôr um fim ao jejum que ameaçava se perpetuar para as bandas do Santiago Bernabéu e com um futebol ofensivo, o Real Madrid lançou-se à reconquista do título de campeão espanhol, após quatro anos de domínio do Barça. Além do grande futebol praticado, Valdano lançou o jovem Raúl González de 17 anos, que nos anos seguintes se tornaria no grande símbolo e herói de Madrid.
Num encontro contra o Sporting pela Taça UEFA, se apaixonou pelo futebol do número sete leonino, Luís Figo, e tudo fez para que o Real Madrid contrata-se o português, mas os dirigentes do Real Madrid não seguiram a sua indicação e o sete acabou por ir brilhar no Camp Nou, e só mais tarde vestiria a camisa blanca, numa transferência caríssima. Valdano brincou com a contratação de Figo, dizendo que se a devido tempo o Real Madrid o tivesse contratado, seguindo a sua sugestão, teria poupado ainda alguns euros.
Na época seguinte, a ausência de resultados e a impaciência dos dirigentes levou ao fim da parceria. Pouco tempo depois assinava pelo Valência, virando a página na carreira…
Ligado a Florentino
Sem grande sucesso no clube ché, acabou por enveredar pela carreira de dirigente, seduzido pelo projeto de Florentino Pérez, avançou com ele nas eleições para a presidência do clube em 2000. Vencido o ato eleitoral, foi nomeado diretor esportivo, cargo que manteria até 2004, altura em que os maus resultados o fizeram afastar-se do projeto.
No dia 1 de junho de 2009 regressou à Casa Blanca, no segundo consulado de Florentino Pérez, mas os problemas com José Mourinho provocaram a sua demissão em 25 de maio de 2011. O português defendia que o trabalho de Valdano não era compatível com o seu e Florentino tomou o partido do seu técnico. Era o quarto adeus de Valdano ao seu Real Madrid.
Longe dos gramados, dedica-se então à faceta de comentarista esportivo, escrevendo regularmente para publicações como a Marca e o El País na Espanha ou a A Bola em Portugal. Os seus escritos e diversos artigos acabaram por resultar em livros como «Sonhos de Futebol», que ajudaram a reforçar a sua aura de pensador do beautiful game.
