Papo sem chuteiras: Cezar

Sonho e superação. Um acidente o tirou do futebol mas Cezar tira o melhor disso a cada dia.

Muniz Junior
Blog De Bate e Pronto
6 min readSep 2, 2018

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Como muitos meninos brasileiros, Cezar Augusto Nascimento sempre nutriu o sonho de ser jogador de futebol profissional. Como tantos outros, ele não mediu esforços para transformar a vontade de menino em realidade: viajou do Paraná, seu estado natal, para testes no Vitória da Bahia. Lá, após certo sucesso, Cezar despertou o interesse de grandes clubes e posteriormente vestiu as camisas de Grêmio e Palmeiras. Infelizmente, um acidente de carro grave o impossibilitou de continuar vivendo seu sonho. Aos 22 anos, Cezar ficou paraplégico e se viu obrigado a aposentar-se do esporte que tanto amou. Conversamos com esse grande homem, que abriu seu coração para a equipe do DBeP. Confira a entrevista na íntegra:

DBeP: Você nasceu no Paraná, e foi revelado pelo Vitória da Bahia. Como foi essa viagem de tantos quilômetros? Por que começou em um clube tão longe de sua cidade natal? E como foi seu início no Vitória?

Cezar: Nasci no interior do Paraná, na cidade de Cornélio Procópio, e comecei a jogar futebol em uma escolinha na cidade de Uraí, também no Paraná. Essa escolinha preparava garotos para enviar aos clubes de futebol. Fui para uma competição com a Sociedade Esportiva Uraí e fomos campeões. Fui artilheiro desse campeonato que se chama “Piá Bom de Bola” e logo em seguida a Sociedade Esportiva Uraí me mandou para fazer um teste no Vitória da Bahia. Chegando lá fui bem, no terceiro dia de teste o treinador do time infantil disse que eu estava aprovado. Fiquei feliz por ter passado e estava começando a realização de um sonho, só que teve o lado difícil por estar tão longe de casa e dos meus pais, tinha somente 13 anos de idade, mas com o tempo fui me acostumando com a situação e coloquei no meu coração que era aquilo que eu sonhava e tinha fé em Deus que iria conseguir!

DBeP: No clube baiano foram apenas quatro jogos disputados, mas foi o bastante para despertar interesse do Grêmio. Como foram as negociações com o clube gaúcho e quem foi o responsável pela sua ida ao tricolor?

Cezar: Joguei quatro jogos pelo profissional e em seguida teve um desentendimento entre o empresário que eu tinha e um diretor do clube. Eles então me afastaram do time e me deixaram só treinando. Foi aí que saí do Vitória e fiquei alguns meses com salário atrasado. Abri mão desses meses e entramos em um acordo, então me liberaram. Minha situação de ida para o Grêmio foi porque o treinador do juvenil do Grêmio me conhecia e sabia das minhas qualidades e falou com o Rodrigo Caetano, que na época era o diretor da base do Grêmio, e com o Julinho Camargo, treinador dos juniores que já tinha algumas referências minhas também pelas partidas que disputamos contra.

DBeP: No Grêmio, infelizmente, você não chegou a ter chances e foi emprestado ao Brasil de Pelotas, como foi sua temporada no time de Pelotas?

foto:arquivo pessoal

Cezar: No Grêmio, cheguei no último ano da idade de juniores, fui campeão gaúcho de juniores e artilheiro do campeonato em 2005. Em seguida, pela taça BH, fui artilheiro também, tudo isso no mesmo ano. Em 2006, fui promovido ao profissional do Grêmio, fui relacionado em alguns jogos do Campeonato Gaúcho, entrando em alguns, tive a honra de fazer parte do time Campeão Gaúcho de 2006, mas realmente tive poucas oportunidades. Depois, fui emprestado para o Brasil de Pelotas para jogar a série C. No Brasil de Pelotas chegamos às oitavas de final, fiz bons jogos pelo Brasil.

foto: arquivo pessoal

DBeP: No seu retorno ao Grêmio, você foi novamente emprestado, dessa vez para o Palmeiras. A ideia era lhe dar oportunidade no time B, mas Caio Júnior foi o responsável pela sua subida ao profissional. O que ele representa para você?

Cezar: Em 2007, fui emprestado ao Palmeiras e fiz três jogos pelo time B. Fui bem e o Caio Júnior me chamou para conversar, dizendo que queria contar comigo na equipe profissional. Fui em alguns jogos, mas não conseguia ter uma sequência por conta de algumas lesões que tive. Em relação ao Caio Júnior, eu aprendi muito com ele, sempre foi muito sincero.

DBeP: No Palmeiras, infelizmente, você sofreu o acidente de carro que o impossibilitou de continuar jogando. Você parecia ter um futuro promissor, seleções de base, Grêmio e Palmeiras já no currículo, depois do acidente o que passou na sua cabeça?

foto: arquivo pessoal

Cezar: Infelizmente, no final de setembro eu sofri um grave acidente que me deixou paraplégico, tinha 22 anos. Apesar de pouca idade, eu passei bons momentos no futebol, consegui chegar a seleção Sub-16 e Sub-17, e passando em equipes como Vitória, Grêmio, Brasil de Pelotas e Palmeiras. Depois do acidente fiquei muito mal, imagina você usa as pernas para fazer o que mais ama, e em poucos segundos você simplesmente não consegue mais sentir as pernas.

DBeP: Como ficou sua vida após o acidente. Recebeu ajuda de amigos que eram jogadores? E o que você fazia para manter a autoestima lá em cima, enfim, seguir a vida?

foto: arquivo pessoal

Cezar: Minha vida mudou radicalmente, hoje sou aposentado, recebo pelo INSS. Quando sofri o acidente, o Alessandro, ex-lateral direito que hoje é diretor do Corinthians, o Osmar Cambalhota, que joguei quando estava no Palmeiras, e o Marcão goleiro me ajudaram muito. Eu me refiro em todas as questões, principalmente na parte da pessoa estar ao teu lado te dando força. Tenho o Alessandro e o Osmar como irmãos que eu não tive. O Marcão já faz algum tempo que não tenho contato mais, mas agradeço a ele também porque me ajudou. Agradeço a Deus por estar vivo, mesmo com todas as dificuldades de estar em uma cadeira de rodas, estou vendo minhas filhas crescerem, tenho uma esposa maravilhosa que me ajuda muito.

foto: arquivo pessoal

DBeP: Hoje você tem alguma mágoa com algum clube? Se tiver, acredita que não lhe deram o suporte necessário?

Cezar: Quando me acidentei estava por empréstimo no Palmeiras. O Palmeiras foi muito bom comigo, me deu todo o suporte que precisava. Já o Grêmio foi diferente, tive que entrar na Justiça pelos meus direitos. O problema são as pessoas que estão no comando dos clubes, muitas são despreparadas para ocupar o cargo e tomam decisões para benefício próprio, prejudicando o clube e os jogadores, e no final da conta eles saem e o clube fica no prejuízo. Mas não tenho nenhuma mágoa com clube algum.

DBeP: Como é a sua rotina hoje, o que você faz?

Cezar: Hoje faço fisioterapia três vezes por semana. Fico bastante em casa com minha família e peço a Deus para que um dia eu volte a andar.

Cezar nos revelou que tem muito carinho e gratidão pelos companheiros Alessandro e Osmar e fez questão de registrar nesta matéria seu eterno agradecimento por todo apoio e ajuda.

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Muniz Junior
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Written by Muniz Junior

Pai da Melina, Co-fundador e Apresentador no GreNal Total. Analista de desempenho pelo @futebolinterativo.