Papo sem Chuteiras: Macedo

Com altos e baixos na carreira, Macedo conta como foi a emoção de um Campeonato Mundial e a decepção com as dificuldades financeiras

Igor Giantomaso Desiderio
Blog De Bate e Pronto
8 min readJul 20, 2018

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Natanael dos Santos Macedo, nasceu em Americana, interior de São Paulo. Teve destaque atuando no São Paulo, principalmente, no Santos e Ponte Preta.

Trazemos uma entrevista exclusiva de Macedo com o De Bate e Pronto.

Hoje com 46 anos, Macedo esbanja calma, fé, educação e sinceridade. Na entrevista que realizamos com o ex-jogador, falamos das glórias passadas, polêmicas vividas, das tristezas e claro, do futuro.

Aos 12 anos, Macedo começou nas categorias de base do Rio Branco de Americana (conhecido como o Tigre de Americana); aos 19 anos foi artilheiro e destaque no time profissional do Tigre atuando na Série A2 do Paulista.

Logo chamou atenção e foi contratado pelo São Paulo. No Tricolor paulista Macedo lembra dos vários títulos e conta que encaixou muito bem no plantel, dizendo com uma certa calma: “…e parece que fui a peça que encaixou naquele time do São Paulo”.

Você está coberto de razão Macedo, pois os títulos e ser considerado o décimo segundo jogador de um time com tantas estrelas como o do São Paulo, na época, não era para muitos.

Confira com foi nosso papo com o ex-jogador.

DBeP: Você foi revelado pelo Rio Branco de Americana, mas foi no São Paulo que era considerado uma grande revelação; acabou se tornando o décimo segundo jogador do clube e frequentemente entrava e marcava seus gols. O que você traz de melhor dos tempos de São Paulo?

Macedo: Comecei na categoria de base do Rio Branco com 12 anos de idade, eu tinha o sonho de ser jogador, e com 19 anos eu joguei no profissional do Rio Branco na Série A2 do Campeonato Paulista e eu fui destaque da A2, fui artilheiro com 14 gols no campeonato; aí veio a contratação do São Paulo, eu cheguei no clube e o time tinha acabado de perder o título para o Corinthians e parece que fui a peça que encaixou naquele time do São Paulo; em 1991 nós fomos Campeões Paulista, Brasileiro, aí veio a Libertadores em 1992, fomos campeões também no Mundial, isso marcou minha história dentro do São Paulo e fico muito feliz de estar naquele grupo.

(Imagem: gazetapress.com)

A lembrança que eu trago é que quando cheguei no São Paulo ganhei muitos títulos, fui Bicampeão Paulista, Campeão Brasileiro, Libertadores, Mundial. O pênalti que sofri na Libertadores em 1992, faltavam 20 minutos para terminar o jogo e haviam 120 mil pessoas no Morumbi que começaram a gritar meu nome e ajudei o São Paulo a ser campeão da Libertadores, isso marcou na minha vida; ali foi onde começou tudo, naquele pênalti, o São Paulo foi campeão da Libertadores e Mundial, então o que marcou minha vida foi isso, ficou na história.

(Imagem: saopaulofc.com.br)

DBeP: Muito se fala que você frequentemente acabava discutindo com o eterno Telê Santana no São Paulo, alguns comentaristas diziam na época que você não aceitava as dicas e as broncas dadas pelo Telê, até onde isso é verdade? Qual memória você guarda de Telê?

Macedo: O Telê, aprendi muita coisa com ele, acabava o treino e a gente ficava lá ainda, melhorando finalização, cabeceio, então trato ele como pai, nunca discuti com o Telê, aprendi muito com ele, me ajudou muito. Se eu cheguei onde cheguei, agradeço ao Telê, mas é o jeito dele, muito durão, sério, não levava as coisas na brincadeira, queria ver a gente jogando no Barcelona, no Real Madrid, ele queria que a gente não só jogasse no São Paulo, mas que fôssemos conhecidos fora do país, jogasse até na Seleção Brasileira. Quando eu fui para Seleção Brasileira sub-21, quem me indicou foi o Telê, então não tem o que falar dele, para mim foi um grande treinador, nunca briguei, nunca discuti, ele só me dava conselhos pra eu guardar dinheiro, tomar cuidado com as “menininhas”. Ele conversava muito comigo porque viu que eu era um menino de coração bom, então com a experiência que ele tinha no futebol, tentava passar essas coisas para mim, Telê foi um grande treinador, respeito muito pelo quanto que me ajudou.

DBeP: Você é um jogador muito vitorioso, por onde passou ganhou títulos, foi assim no São Paulo, no Santos, no Grêmio. Porém você jogou pouco tempo na Europa, no Cadiz um time não muito conhecido mesmo jogando na época a primeira divisão espanhola. Você gostaria de ter tido uma carreira maior jogando em clubes europeus?

Macedo: Com certeza eu tive oportunidade de jogar com Jameli , Giovani (Messias), grandes craques do Futebol, no Santos foi muito bom em 1995, quase fomos campeões brasileiros contra o Botafogo e fomos campeões do Rio-São Paulo. Quando eu fui para o Cadiz da Espanha tive uma passagem muito boa, fiz gol contra o Real Madrid, estava me destacando. Quando fui pra lá o time estava na primeira divisão, eu fui para ajudar o clube a escapar do rebaixamento, fui muito bem e tive uma proposta do Albacete de 1,5 milhão de dólares, na época estava com 22 anos mas antes de acabar o contrato fiz uma burrada (que me arrependo até hoje) e vim embora para o Brasil. O Torcal, que era meu empresário, falou que eu já estava vendido pro Albacete, porque houve um jogo dos melhores da Espanha contra o Barcelona e eu fui selecionado, fiz gol contra o Barcelona e o treinador do Albacete mandou me contratar, aí o Torcal me ligou e disse que eu estava vendido, e faltando 3 jogos pra acabar na Espanha eu vim embora, me arrependo pois poderia ter chegado mais longe na Espanha.

Macedo pelo Grêmio (foto: gettyimages.com)

DBeP: Mesmo jogando ao lado de grandes jogadores, como Ronaldão, Edmundo, Mineiro, Giovanni e Juninho Pernambucano, a Seleção Brasileira também não foi generosa com você. Você lamenta, ou se sente injustiçado por não ter tido chances de defender a seleção?

Macedo: Eu tive a oportunidade de jogar ao lado de craques, no Grêmio tive uma passagem boa, fui campeão da Copa Sul, campeão gaúcho com o Ronaldinho Gaúcho no início da carreira, até naquele chapéu que ele deu no Dunga eu estava lá, foi uma alegria jogar ao lado do Ronaldo Fenômeno no Cruzeiro, Luís Fabiano na Ponte Preta, tive oportunidade de jogar ao lado do Edmundo no Vasco, foi muito importante na minha carreira jogar ao lado desses craques do futebol. Tive oportunidade de ir para seleção quando estava no São Paulo, na sub-21, aí foi outra burrada que eu fiz e deixou Telê muito bravo. Fui para seleção sub-21 e pedi para vir embora, abandonei a seleção e como o Telê havia me indicado ele ficou muito bravo, eu poderia ter feito um bom campeonato e ter oportunidade de pegar até seleção principal, então isso me atrapalhou mas eu fico feliz de ter pelo menos vestido a camisa da seleção brasileira, já é um orgulho, mas acho que se eu tivesse mais cabeça teria condições de vestir a camisa da seleção principal. Eu disputava com Edmundo, mas também haviam outros craques na época que precisa respeitar como Bebeto, Romário, Ronaldo, mas agradeço a Deus a oportunidade de ter jogado ao lado desses craques, dessas pessoas importantes, agradeço por tudo que aconteceu na minha vida e carreira.

DBeP: Você tem um filho que atualmente joga futebol, como é hoje para você passar conselhos para ele? Você o apoia? Qual seu sonho para seu filho? Atualmente ele ainda está no Palmeiras?

Macedo: Tem meu filho Lucas Macedo que estava no Marítimo de Portugal, tem 21 anos, já passou no Palmeiras, tá na mão de Deus meu filho e espero que ajude a reconstruir tudo aquilo que eu perdi, ele tem um talento muito bom, espero que dê tudo certo agora no Iwaki lá no Japão, que Deus abençoe e que as coisas corram bem, porque são nessas horas que vemos quem é amigo de verdade. Eu aconselho os meninos, aproveite o momento porque quando você parar de jogar bola tem um monte de amigos, mas na hora da dificuldade você vê quem são os amigos de verdade. Como dizia o Telê, investir em imóvel e terras. Jogador tem que jogar bola, não ficar brigando com juiz, isso que tem que fazer.

DBeP: Impossível não falar sobre sua vida após o futebol. Até o ano de 2008, em uma entrevista, você disse que sua vida financeira ia bem, inclusive na época disse que não precisava mais jogar. Porém após se aposentar, as coisas ficaram ruins, e em algumas tristes entrevistas suas, você fala que fez escolhas erradas e acabou perdendo todo seu dinheiro. Como nosso blog também é direcionado para novas revelações, gostaria de saber primeiramente por que isso veio acontecer com você? E qual dica você daria para os futuros talentos?

Macedo: Aconteceram muitas coisas na minha vida financeira, teve outras perdas porque faltou um pouco de cabeça pra mim, investimento errado, negócio errado, então eu dou conselho pra esses meninos que começam a carreira agora pra investir bastante em terras, imóveis, confiar bastante em Deus porque a carreira de jogador é curta, é preciso investir. Tomar bastante cuidado com as “menininhas”, o Telê sempre falava pra gente investir em imóvel e terras e às vezes temos que ter uma lição para aprender e eu tive que passar por essa lição mas agradeço a Deus que estou com saúde, estou batalhando, lutando pra conquistar tudo de novo; estou como avaliador técnico de jogador, levando jogador para clubes, tentando me reerguer.

DBeP: Falando um pouco de coisas boas, você tem alguma história engraçada ou curiosa nesse tempo que jogou futebol que gostaria de compartilhar?

Macedo com seu cabelo inspirado em Gullit (imagem: gazetapress.com)

Macedo: Olha, tem bastante viu? A história que marcou foi a do cabelo que todo mundo conhece, foram 10 horas pra colocar o cabelo e 3 horas pra tirar, o Telê não me deixou jogar com o cabelo não, eu tive que tirar, o Telê ficou muito bravo, fez reunião com todo mundo, falou que eu estava mudado, que queria acontecer. Mas é porque vi o Gullit na Copa e queria fazer igual, mas o Telê era muito sério e tive que tirar o cabelo porque o Telê não deixou, essa história aí marcou.

DBeP: Hoje em dia, quais suas principais ocupações?

Resposta: Então, eu trabalho para Portuguesa Santista com o empresário Ademir, trabalho pra ele, já mandei dois jogadores; o Wagner, que está no Red Bull, ainda é novo mas deve despontar e ficar conhecido. E o Eduardo, um menino sub-13 que eu avaliei e tem qualidade. Mas eu trabalho na base com os meninos mais novos, por isso demora um tempo para revelar, mas logo devem aparecer por aí.

(Imagem: mercadolivre.com)

Matéria de Mauro Vaz, co-lab Igor Giantomaso Desiderio

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Igor Giantomaso Desiderio
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SP/Tricolor, Louco por futebol e co-fundador do De Bate e Pronto.