Raio-X Copa 2018: N’Golo Kanté

Victor de la Rocha
Blog De Bate e Pronto
4 min readMay 31, 2018

Pequeno francês e grande responsabilidade

Qual o caminho para o sucesso no futebol? Ter uma boa base? Jogar em um time grande? Ser lembrado pela sua seleção o mais cedo possível? N’Golo Kanté quebra paradigmas na mesma proporção que marca seus adversários: incessantemente.

Nascido no subúrbio de Paris, primeiro filho de uma família muito pobre, sua vida era sem muitas expectativas e desde cedo ajudava seus pais e catava lixo pela cidade sempre em busca de dinheiro rápido em cooperativas de reciclagem. Após a copa de 1998, Kanté, à época com 7 anos, viu no futebol uma oportunidade de prosperar na vida. Imigrantes que viviam na frança enxergavam o futebol como uma saída do mundo suburbano e muitos clubes começavam a surgir. Aos 8, tomou a decisão de sua vida: jogar futebol. Ingressou no JS Suresnes, clube da periferia de Paris, e desde cedo seu porte físico franzino chamava a atenção. Seus colegas de time não acreditavam que aquele menino poderia durar 90 minutos numa partida. Seu desempenho na equipe era fundamental para os troféus que começaram a embelezar as estantes do clube, sempre mostrando uma força poderosa na marcação e disposição em todos os lados do campo.

Após 4 anos no clube Kanté passou a ter mais reconhecimento e a ganhar dinheiro para treinar horas extras com a equipe juvenil, graças ao assistente Pierre Ville. Kanté já nessa época era muito aplicado taticamente. Certa vez em um jogo sub-18 ele, então com 15 anos, entrou na partida nos minutos finais e surpreendeu. Seu amigo Francois Lemoine então disse: “Estávamos contra uma equipe local e ele veio a dez minutos do final. Ele era mais pequeno do que todos, mas ninguém poderia passar por ele. No final da partida entramos no vestiário e olhei para um de meus companheiros de equipe e disse ‘Olha, ele é menos que todos nós e em dez minutos nos mostrou o que deveríamos ter feito.’ foi uma verdadeira aula de humildade”.

Aos 15 anos foi rejeitado por diversos clubes, dentre eles o PSG, o que lhe deixou receoso com seu futuro no futebol: “Se não estou no nível que eles querem é normal ser rejeitado”. Em 2010 aos 19 anos só assinou com o time B do Boulogne porque o filho do presidente do Suresnes estava na equipe e foi lhe pedido uma nova chance de testes. Segundo o seu treinador da época, Georges Tournay, foram as rejeições passadas que acabaram forjando uma vontade de nunca desistir.

DE SCOOTER
Kanté chamou a atenção de seus colegas jogadores pela sua humildade dentro e fora de campo. Comparecia aos treinos dirigindo uma scooter ou caminhando. Seus companheiros percebiam que ele ficava um pouco envergonhado e a partir desse momento passaram a buscar e levar o jogador. Seu sonho era ter um Renault Clio

Naquele momento a equipe estava na segunda divisão e sendo rebaixada para a terceira, mas seu treinador confiava em seu futebol e elogiava sua antecipação, vontade e o “box-to-box”. Foram dois anos na equipe e rapidamente Kanté chamou a atenção do Caen, que logo em seu primeiro ano foi promovido à elite francesa, sendo peça chave na conquista e integrando a seleção da competição.

Na primeira divisão francesa, já dirigindo um Renault Megane, suas performances fizeram dele uma das revelações do campeonato e já com o surgimento das comparações com Claude Makélélé e com pedidos para convocação da seleção francesa e recebendo sondagens de diversos clubes de maior expressão.

Na temporada 2015/2016 assinou por quatro temporadas com o Leicester pelo valor de 8 milhões de euros. Naquele ano mágico, ao lado de surpresas como Vardy e Mahrez, foi um dos pilares do inédito título inglês, com destaque para suas interceptações, velocidade e marcação forte.

Kanté: tamanho não é documento. (foto: desporto.sapo.pt)

Não durou sua estada em Leicester City e na temporada seguinte sua transferência para o Chelsea foi acertada por 32 milhões de libras. Kanté é o primeiro jogador a conquistar o bicampeonato de forma consecutiva por clubes diferentes desde o novo formato de Premier League. E agora, mesmo ganhando aproximadamente 120 mil libras por semana, sua humildade segue até na condução dirigindo um simpático Mini Cooper.

SELEÇÃO FRANCESA OU DE MALI?
De origem Malinense Kanté foi convidado para integrar a seleção de Mali antes da Copa Africana de Nações de 2015, já que nunca havia sido convocado para a seleção francesa. Kanté recusou afirmando que estava se estabelecendo na Ligue1 e que sua prioridade no momento era o Caen e uma possível convocação pelo lado francês. Em 2016 um novo convite foi enviado com nova recusa por parte do jogador.

Sua primeira convocação foi ainda em 2016 e de lá para cá foram 22 jogos e um gol anotado. Figurinha carimbada na copa e unanimidade entre os franceses e os amantes de futebol, Kanté tem a missão de dar segurança defensiva e velocidade na reposição para os craques da frente.

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