Raio-X Copa 2018: Tim Cahill

A lenda australiana está pronta para mais um mundial

Adriano L. Motta
Blog De Bate e Pronto
6 min readMay 31, 2018

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Em toda época de Copa, existem algumas figurinhas carimbadas que sempre estão lá. Na próxima, não será diferente. Apesar da polêmica nacional gerada em torno de sua convocação, Tim Cahill estará na Rússia para disputar a quarta copa da sua carreira. É impossível não relacionar o futebol australiano à sua figura. O atacante, que usa número de zagueiro, é um dos maiores jogadores australianos da história e o preferido da nação. Os números que conseguiu e recordes que quebrou argumentam a seu favor. Foi também uma das referências técnicas da geração de ouro Australiana. Por pouco, porém, nada disso teria acontecido e Cahill nunca teria atuado pelos socceroos.

Começo que quase não aconteceu

Nascido em território australiano, Cahill é filho de pai Irlandês e mãe Samoana. Em 1994, com 14 anos, já com algum destaque no futebol juvenil australiano e irmão de um jogador da seleção de Samoa, a federação samoana o convidou para disputar a OFC Championship sub-20. Caso vencessem, renderia uma vaga na copa do mundo sub-20 de 1995. Cahill atuou em dois jogos no torneio, onde caiu na semifinal para a Austrália.

Três anos depois, foi para a Inglaterra jogar pelo Millwall. Estreou em 98 e logo foi mostrando suas qualidades, especialmente no jogo aéreo. Foi um dos destaques da campanha do título de 2000–2001,onde time ganhou o equivalente à atual 1.Championship, a terceira divisão inglesa.

O técnico do Millwall quando Cahill chegou à Inglaterra era Mick McCarthy, que saiu para treinar a Irlanda e os guiou à copa de 2002. Sabendo do talento de Cahill, o convidou para defender a seleção irlandesa. Cahill aceitou o convite, porém as regras da época não permitiam que se defendesse uma seleção diferente da qual havia jogado nas categorias de base. “Esta decisão foi errada, quero destruí-la como destruiu minha carreira. É um erro”, disse Cahill ao London Evening Standard à época da rejeição(pelo mesmo motivo, ele não pôde defender a Austrália nas olimpíadas de 2000, em Sidney). Mal sabia o futuro lhe reservava.

O Amuleto

A regra de internacionalização é modificada em 2004 e Cahill é convocado pelos socceroos para disputar os jogos Olímpicos daquele ano. A OFC Cup, porém, foi a primeira competição de verdade que Cahill disputou com a camisa australiana. Mostrou porque havia comoção no país por sua convocação: marcou seis gols, como o segundo artilheiro daquele torneio e também com o título. O troféu credenciou os australianos à repescagem para a copa de 2006 contra o Uruguai. Após uma dramática disputa de pênaltis, a Austrália voltava à competição depois de 30 anos. Talvez por isso ele tenha ganhado fama como amuleto de sorte.

2006: Primeiro gol da história da Austrália em copas (Foto: ESPN)

Em terras germânicas, a Austrália fez história. A geração de ouro Australiana, composta por nomes como Schwarzer, Kewell, Viduka, Aloisi e Bresciano, conseguiu a primeira classificação às oitavas de final da copa do mundo na história do país. Lá, caíram após um jogo dramático contra a futura campeã Itália, decidido por um gol de pênalti de Totti nos acréscimos. No torneio, o amuleto Cahill foi providencial. Apesar de ter começado no banco, entrou e marcou o primeiro(e o segundo) gol dos socceroos na história das copas, na vitória por 3x1 sobre o Japão. Um momento histórico para toda uma nação. Tão épico que Cahill foi um dos 50 indicados ao Ballon D’or daquele ano, o primeiro e único australiano a conseguir tal feito.

O Decisivo e o golaço

Não parou por aí. Provando seu instinto decisivo, Cahill guardou gols em jogos importantes da eliminatória asiática contra Catar e Japão para classificar os socceroos à copa de 2010. Gols que cravaram Cahill como o primeiro jogador Australiano a marcar na Asian Cup. Na África, porém, as coisas não deram certo. Brigando contra algumas lesões, não estava muito bem e foi expulso no primeiro jogo da equipe. A Austrália terminou caindo na primeira fase. Ainda deu tempo de Cahill marcar mais um gol (de cabeça, sua qualidade), contra a Sérvia e se tornar o maior artilheiro australiano da história das copas, com 3 gols.

Cahill decidindo nas eliminatórias é algo comum. Nas de 2013, não foi diferente. Anotou gols importantes e decisivos que guiaram os socceroos à sua terceira copa consecutiva, um feito nunca feito antes. Um feito tão impressionante que quando a classificação foi confirmada, a Expressway Cahill(uma importante via do país, que homenageia um ex-presidente e foi a primeira freeway construída por lá) foi renomeada como Tim Cahill Expressway, em homenagem aos feitos de Tim. Na preparação para a copa, Cahill tornou-se o maior artilheiro da história da seleção Australiana, quando marcou o seu 31° gol pela seleção, em um amistoso contra o Equador.

2014: Golaço contra a Holanda (foto:telegraph.com)

A Austrália já ensaiava a sua renovação em 2014. Com apenas Bresciano e Cahill de remanescentes da geração de ouro, nomes como Matthew Ryan, Jedinak e Tommy Oar ganharam espaço nos socceroos. Deram azar de cair no considerado “grupo da morte” daquela copa, com Chile, Espanha e Holanda e saíram do Brasil sem nenhum ponto conquistado. Se não deu para fazer muita coisa na copa, deu para cravar Cahill de vez como uma lenda. Ele fez mais dois gols na competição e se consolidou como maior artilheiro australiano das copas. Um deles foi uma verdadeira obra prima, contra a Holanda.

A despedida(?) da lenda

O gol(e a polêmica comemoração) que classificou os Socceroos à copa da Russia (Foto: Divulgação/AFC)

Depois da copa no Brasil, Cahill não foi mais o mesmo. As lesões chegaram com a idade e ele pouco atuou nas eliminatórias para a copa da Rússia. Mas ele não ia sair sem deixar mais um capítulo brilhante na sua história. Quando a seleção mais precisou e a vaga para copa esteve perdida por alguns momentos, contra a Síria, Cahill reapareceu das cinzas e marcou os dois gols que garantiram os socceroos na repescagem contra Honduras. Desses gol surgiu-se uma polêmica por conta das comemorações, que teriam sido patrocinadas por uma empresa aérea, o que não é permitido pela FIFA. Com polêmica ou não, Cahill colocou os socceroos à caminho da copa, um dos últimos capítulos e uma brilhante história.

As lesões porém, só pioraram. Elas fizeram Cahill ficar parado por um bom tempo e perder boa parte da preparação — além da queda de desempenho que o levou a ser dispensado do Milwall horas depois de ser convocado -, mas ainda assim foi incluído entre os 23 da Austrália na copa. Surpresa que gerou muita polêmica entre os australianos, que não achavam justa sua convocação apesar de todo o passado que carrega. Mesmo que seja só para ficar no banco, Cahill ficará eternamente marcado por ter sido o principal nome do ressurgimento do futebol australiano para o mundo.

Veja alguns lances de Tim Cahill:

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Adriano L. Motta
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Tiozão de 19 anos e corneta de marca maior. Fanático por esportes, Bukowski, Aviação e descobrir novas coisas.