Raio-X : Daniele Conti
Uma história de amor
Daniele Conti tinha tudo para seguir os passos do pai mas ele não quis. Daniele Conti podia ter se aproveitado do sobrenome famoso e poderoso mas não o fez. A história de Daniele Conti por si só já seria um grande exemplo mas ter em casa, desde os 3 anos de idade um pai campeão do mundo e ídolo da Roma fazem a história ser ainda mais exaltante.
Na verdade, incialmente ter o sobrenome Conti foi um peso para o jovem Daniele. Saindo da categoria de base da Roma e estreando na Serie A aos 17 anos de idade no time onde o pai é, até hoje, um ídolo foi um obstáculo a mais a ser superado. Desde as categorias de base Daniele teve que enfrentar o preconceito das pessoas que diziam que ele estava ali só porque era filho de Bruno Conti.
Bruno Conti foi um meio-campista daqueles furiosos que percorria o campo todo, incansavelmente, marcando e apoiando o time ao ataque e foi um dos heróis da Squadra Azzurra na Copa do Mundo da Espanha em 1982. Ele estava em campo no fatídico 3 a 2 da Italia em cima do Brasil de Telê Santana.
Graças ao preconceito das pessoas Daniele sempre sonhou em se mudar de Roma, construir a sua história longe das sombras do pai. E foi na ilha da Sardegna que Daniele se encontrou. Aos 20 anos foi emprestado e ao final da primeira temporada seu passe foi totalmente comprado pelo Cagliari Calcio.
Em 1999 Daniele se muda para a cidade de Cagliari para nunca mais sair. Em seus melhores momentos como jogador recebe propostas e convites para jogar nos mais diversos clubes da Italia e da Europa — inclusive a Roma — mas sempre as refutou e seguiu firme na capital da ilha. Muitos dizem que merecia uma chance na seleção italiana mas isso nunca aconteceu (foi convocado apenas uma vez para a seleção sub-21). Perguntado se isso lhe incomoda Daniele sorri e responde: “ Minha seleção sempre foi o Cagliari”.
Daniele bateu todos os recordes de longevidade no clube sardo: 464 jogos e 51 gols feitos. Foi eleito pelos companheiros de serie A e ganhou 1 vez o prêmio de “Líder em campo”. Prêmio dado ao atleta que mais ajuda seu treinador em campo.
Os fãs cagliaritanos afirmam que o ponto alto da carreira de Daniele foi quando, aos 50 minutos do segundo tempo, o Cagliari virou para cima do Napoli, em casa quando perdia por 1 a 0 até os 42 minutos do segundo tempo. O gol da virada, anotado por Daniele após cobrança de falta lançada na área dizem ter reavivado as esperanças do time em escapar do rebaixamento que no final da temporada se confirmou.
“Até um empate naquele jogo não teria servido para nós. Estávamos em uma fase muito complicada e aquela vitória nos tirou do sufoco e nos deu forças para escapar do rebaixamento”. Essas foram as palavras de Daniele ao relembrar daquele jogo durante a sua festa de despedida do futebol.
E que festa! Estádio Sant´Elia lotado, torcida empolgadíssima e muitos, muitos amigos de tantos anos também estão ali só por ele. Painel com o nome e número da camisa que Daniele considera sua segunda pele na cidade adotada por ele com tanto amor desde sempre.
Festa que aconteceu um ano após a sua aposentadoria já que em seu último jogo Daniele e Cagliari tinham nada a comemorar pois a temporada se encerrava com o tão indesejado rebaixamento na temporada 2014–2015. Foi Daniele a se negar a ter qualquer homenagem a ele naquele dia
. O que faz da carreira de Daniele um exemplo é a sua lealdade e entrega a um pequeno clube como o Cagliari, que sempre lutou para se manter na primeira divisão , mesmo tendo oportunidades para viver em outras realidades. Os rossoblu (como se denominam os torcedores rubro-azuis )reconhecem nele o verdadeiro exemplo de líder e capitão que , por muitos anos, levou e defendeu a bandeira de uma inteira ilha com muito amor e trabalho.
Daniele hoje, como não poderia ser diferente, vive na cidade de Cagliari e é responsável pelas categorias de base do Cagliari Calcio. Depois de 16 anos como atleta e capitão hoje Daniele sonha em passar seus princípios e valores aos futuros campeões na maravilhosa ilha da Sardegna.
